domingo, 21 de dezembro de 2008

Férias de Faculdade


Hoje foi um dia gostoso
Ouvindo Chico, Caetano Veloso
Acordando depois de meio-dia
Todo dia, todo dia, sem dó.
Lendo o que quer agora
Sem a regra da faculdade
Livros da Grécia, Antiguidade
Voltamos como antes
Lendo a divina comédia dos Mutantes.
Três meses de férias.

Eu não vou mais a Peru
Mamãe falou que era perigo
Meu pai disse: meu amigo
Eu trabalho demais, mas não vai dar.
Você vai levar tudo em dólar?
No bolso? Seu moço,
Quando eu era jovem não era
Tão louco quanto você.

Mas Pai, deixa eu ir
Deixa dessa, você fazia muito
Mais peripécia do que eu.
Mas Pai, deixa eu ir pra Machu Picchu
Sou cara sensacional
Nunca fiz nenhum mal
Passei em universidade federal
Pelo amor do vô toim.
Não bin, não bin!

Então tá bom, deixa de frescura.
Eu vou é pra Bahia, estado da loucura
Dormir em barraca junto com barata
Mosquito e formiga.
Vou para a praia de pratigi.
Vê se não vai me impedir
De sair do cerradão
Itacaré é diversão, só doido e artista.
Viva a velha amizade do Marista.

Fábio Campos Coelho (18.12.08)

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O fuxico em Outro Universo


Hoje o dia não prestou
A gasolina acabou
Choveu o dia inteiro
Mas quando eu fiquei sabendo
Que o Lelo está vindo pra Goiânia
Largar o Rio de janeiro
O sol se encheu de alegria
E eu ganhei, ganhei, ganhei meu dia.

Eba, Eba, vai rolar risada
No bar do preto
Bebendo cerveja, comendo espeto
Que lindo, veja
Em qualquer lugar, ali, aqui.
No Tambaqui, casinha de Matheus
O Lelo já vem vindo, que lindo
Ai Meu Deus.

Hoje a festa vai ser boa
Oba, Oba!
Doutor Lelo contado piada
Coisa boba, procurando o MV
Garotas, Garotos e afins
Ele está em Tocantins.

É final do ano
Todo mundo já cansado
Então fica bem esperto.

Escreve o nome de todo mundo
E tira o papelzinho
Do amigo secreto.

Os meninos estão chegando
O Dumon, garoto legal
Ele e sua morga dominical.

O Rafael, camarada Rafinha
Ao seu lado sempre uma menininha.

O Renam, menino encapetado
Dando tapa em quem está ao lado.

Amigo Tiago, faz afago no seu cão.
Todo dia é dia de ver ele
com a vara de pesca na mão.
O cabeção, nem crente, nem ateu
Mas pode pedir um dinheirinho
Pois ele é judeu.
Tem o Leandrinho,
Sagaz garotinho, desbravando o mato
Coisa de maluco, isso é fato
Mas no fundo ele é bonzinho.
Olha a Carol, pegou aquele sol
para exibir seu bronzeado
Que não é poupado
E seu cabelo de caracol.

O Norminha, cara inteligente.
Está ali na cozinha
Fazendo peixe pra gente.

Olha o Macaco em cima da árvore
Com um papel faz um verso
Vamos logo para a Bahia
Procurar a alegria
Em outro Universo.


Fábio Campos Coelho (17.12.08)

domingo, 14 de dezembro de 2008

Vacilos Gerais


Sentir um dia de tédio não é pecado
Tem dias que dão a vagueza
E parece que já se completou
Tudo aquilo que se podia fazer
Mas se você pensar bem
Comece a lembrar dos detalhes
Que fizeram a diferença
Em sentido de subtração
Quando você ficou calado
Deixando de falar uma frase
Que mudasse alguma coisa
Pra melhor.

E você ainda vê as qualidades
Daqueles meninos que fumam maconha
E são alegres por espontaneidade
E não percebe que pode mudar
Vendo a alegria como evolução
Alegria tímida, expositiva, qualquer
De qualquer modalidade
Nunca faz mal.

Um defeito sempre é posto
Naqueles meninos que riem sem porquê
Tem gente que acha bobo
Quem é feliz por opção
Mas não vê que esses meninos
Podem servir de reflexão
Do vacilo de ficar calado
Porque a professora na quarta série
Falava que boca fechada não entra mosquito.
Que ditado esquisito.

sábado, 13 de dezembro de 2008

O sentido escondido em cada pessoa


A ciência sempre diz com certeza bruta
E a igreja impõe verdade absoluta
A humanidade tem muito respeito e escuta
Porque ainda não sabe o motivo por que está aqui.

A vida dá uma surpresa toda hora
A morte de repente te leva embora
O menino de madrugada sempre chora
Porque a estrela brilha, mas não responde onde vai cair.

A mamãe fala que vovó acabou de ir pro céu
O poeta tenta revelar tudo em papel
E o senhor Nietzsche fala em eterno retorno
Mas nenhum médico nunca conseguiu ressuscitar um morto.

O menino cresce ouvindo conversa de pai
Lhe falando que a cada mentira contada
Deus lá de cima tira uma bolinha
E coloca outra se o filho andar na linha.

Allan Kardec fala na reencarnação
O padre diz: quem vai pro céu é só cristão
E a humanidade evolui a comunicação
Eu já ouvi isso alguma vez.

De repente cai um meteorito na terra
Ou o mundo se acaba em guerra
E o povo descobre que sentido é uma palavra
Criada com o mesmo objetivo
Com que se cria a sinuca e o xadrez.


Fábio Campos Coelho (14.12.08)

sexta-feira, 28 de novembro de 2008


Com certeza, há sempre mais alguma coisa que sempre esteve na sua frente, mas que você não vê. E olha: ninguém nunca falou que o fato de você não ter visto é pecado. É que se acostuma muito em se confortar. O conforto é bom, mas é inútil à evolução: não é isso o que todos os sábios já falaram? E sempre falarão. Você tenta fazer alguma coisa diferente em uma sexta-feira à noite, só para sair da rotina do conforto. Acontece com todo mundo que se cansa de ficar parado. Faz-se isso para descobrir alguma coisa em algum livro de ciência ou até uma lição escrita em um poema. Mas isso não é nada. É da simplicidade desse texto, qualquer reflexão de um mortal. É incrível como o tempo passa rápido. Ou é a gente que vacila demais. Mas ninguém vacila; a melhor qualidade é ser egoísta.

Fábio Campos Coelho (27.11.08)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ouvindo Gal


Você vai pro bar, bebe cerveja, conversa como jovem
Admira o agito que existe ainda entre nós
E esquece de ter saudade de alguém.

Mas a noite, você ouve Gal Costa.
Chora, chora, gosta, não gosta,
Gosta sim de sentir saudade.

Lembra de quem te fez diferente
Agradece a Deus por ela existir
Já cansou de sair e procurar alguém
Que substitua a querida.

Todo dia, eu sei, que você tenta
Ser alegre com outra pessoa
Mas a tentativa não ressoa
Porque toda pessoa é singular.

Cadê o pessoal
Depois do agito do bar?
Tira a música da Gal
Porque eu não quero mais chorar.

Fábio Coelho (19.11.08)

domingo, 16 de novembro de 2008

Capital Federal

A rotina, a nossa rotina, sua, dela e minha
Mesmo com vida fina merece ser reclamada.
Por que, você me pergunta. Eu não digo nada.
Eu só reparo em algo raro e outro algo fica pra trás.

Volto da festa de arquitetura, vou abrir a porta
A chave emperra na fechadura
E o garoto da república reclama com cara dura
Que horas eu vou chamar o chaveiro.

Espera aí, espera aí. Deixa eu só tomar minha vitamina
Que meu pai com mania de heroína me fala que
Herba life é muito bom. Herba life é muito bom!

Tomo, tomo, tomo com banana, sem tempero.
Não precisa de tempero. Vou pra universidade
Quando me vem uma força com vontade no intestino.
O que é isso menino, que desespero!

Você é mineiro? Não, eu sou goiano.
Eu falo um minuto com candango
Eles percebem o sotaque meio estranho.

Me perguntam se eu sou mineiro
Escutar isso o dia inteiro
Enxe o saco do goiano.

Quando eu vim pra cá meu avô me disse
Um ditado muito sábio:
Olhe, Fábio, cuidado meu netinho,
Sei que você é pentelho.

Mas vou lhe falar como já dizia seu bisavô,
O vô Coelho: "Boi em pasto novo berra como vaca!"
Eu já sei vovô, eu não sou babaca!

A população da capital é até muito legal
Só não gostei daquele povo que reprime
Que considera quase um crime o sotaque
Que tem “r” puxado.
Eu digo, porta, porteira, portão
Mas eu nunca fui ladrão, amiguinho de deputado.

Não liga não, é brincadeirinha
Sou amigo de flamengo,
Apesar de fluminense
Moço do pé rachado, irmão de brasilense.
Eu falo assim porque agora ‘tava’ no pôr do sol
E ‘tô’ um pouco embreagado.

Fábio Coelho (16 de novembro de 2008)

sábado, 8 de novembro de 2008

Não é do nada



Muito tempo eu quis fazer um texto que atravessasse o século
Mas como Dona Júlia do chapéu me disse um dia
Para conseguir fazer isso só com setenta anos pra cima.

Mas o tempo vazio, com muito espaço para o pensamento
Me fez descobrir que uma idéia boa nasce de um grilo
Com mosquito, a repetição da cuíca
Com seu barulho grave, esquisito
Não tem pré-requisito para falar.

É só parar, ficar em silêncio
Mas também pode ser no meio do bar.
Calma, calma! É normal assustar
Com alguém que tem inspiração
Sem precisar ver as ondas do mar.

Por que os homens da caverna
Eram menos tristes que nós?

Não precisamos ser legais toda hora.
A educação cai bem, eu sei.
Mas a perfeição ajuda
A quebrar a graça de pesquisar
A graça de uma personalidade.

Aquela indireta foi feia,
Você não mede a sua boca
Mas eu também não tive bom senso
E a noite me deliciei
Procurando alguma graça e achei
E antes de dormir eu falei
Que quem não briga
Só mergulha na própria intimidade

O que é felicidade?
Não precisa me entender.
Eu também me reprovo.
Por que não?

Por que não?

Fábio Campos Coelho (08.11.08)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Sofreguidão


Recordemos a mais simples lição, aquela que se difere para cada particular, porém possui a todos os tempos:Em termos de tristeza, o cotidiano é normal, automática parte da vida. Não há por que recusá-lo ou abominá-lo. O problema é a constância da tristeza, que apaga a fé.Porque cotidiano a tristeza se acostuma ser, já o costume é a certeza da constância de todo cotidiano.


Fábio Campos Coelho (13.07.08)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

5 de Novembro


Eu pensava que máscara não era produto de pecado,

proteção degenerativa.

É que o costume de viver com elogios

por todo lado acostuma a não se

aceitar os defeitos naturais.


Ser ridículo às vezes é necessidade

de mostrar que a perfeição

é toda perfurada pelo fato

de nós não sermos tão normais.


A timidez era arma para não

falar de simples modo.

Foi quando eu conheci

uma pessoa que ao invés de

falar bonito, prefere falar

com cunhos originais.


Ela sem querer envergonha

os modelos de beleza que têm

a frieza de conviver com as

coisas não profissionais.


Fábio Campos Coelho (03.11.08)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Caindo a ficha


Um.pouco.antes.do.sono
Antes.do.ensaio.da.morte.
Vem.a.gaivota.da.realidade.
Me.grita.com.vontade
Vontade.de.desabafar.

E.diz.que.não.é.mais.tempo
De.se.acreditar.em.tempo
E.me.faz.uma.difícil.pergunta
Por.que.essa.gente.adulta
Tem.tanto.medo.de.arriscar.

Essa.gaivota.conta.tudo
O.doloroso.conteúdo
E.que.o.tal.cotidiano
Precisando.atrair.ser.humano
Não.conta.o.segredo
Porque.tem.medo.de.se.acabar.

Me.pergunta.se.eu.tenho.antena
Justificando.que.tem.pena
De.quem.acha.que.viver.calado
É.normal.Por.que.Não.é.
Porque.não.é.

E.no.final.dessa.conversa
Ela.me.diz.sem.muita.pressa
Que.silencio.é.perigo
Em.forma.de.piada.
Piada.que.não.é.Que.não.é.


Fábio.Campos.Coelho.(07.10.08)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A felicidade


Seu Zé acordou hoje com alguma vontade

Mas não tinha nada pra fazer

Não tinha problema,

Não pensava em nenhum tema

Nem tinha poema para ler.


Olhou para o sofá vazio

Da janela via o campo

Umas crianças lá brincanco

E bem atrás havia um rio.


Hoje há tarde ele me encontra

Cheio de conta, celular que

Não parava calado,

A mulher pedindo dinheiro

A casa com mal cheiro

E o cobrador reclamando

O aluguel atrasado.


E me fez uma difícil pergunta

Pois não estava satisfeito

Citou 'felicidade'

E me pediu algum conceito.


Eu lhe disse: Não sei muito direito

Mas ficaria muito feliz

Se tivesse sua manhã todo dia

Sem pensar em despesa

Seria uma beleza

Verdadeira terapia.

domingo, 28 de setembro de 2008

80 Anos


Essa é para quem

Acha que a bolacha

Vale mais que o recheio.


E para a minha Teresa

Que além da beleza

Tem sabedoria, creio.


Não interessa se já pecou

Ou se algum dia falou

De algo que não existe.


E se falou alto

com as suas crianças

Não foi por implicâncias

Foi por medo de gastrite.


Vida de dona de casa não é fácil.

Muita gente pensa ser moleza

Mas vocês podem ficar sabendo

Que batalhou muito Dona Teresa.


Muita roupa para lavar

Mas quem manda ter 5 filhos?

Quanta frauda, quanta louça

Quanta comida, haja Sucrilhos!


E Teqinha não parou por aí

Pois seus filhos lhe deram netos.

E ela em visita, em sua casa bonita

Lhes recebe de sorrisos abertos.


A última geração tem muita gente

Tem Tatau, Natan, Bruno e Maísa,

Tem Pedro, Rubens, Maíra e Fábio.

Mas pertos de você não somos nada,

Pois só o tempo torna alguém sábio.


Você fez muita coisa nesse mundo

E nesse mundo muita coisa já mudou.

De repente, em menos de um segundo

A neta mais velha já se casou.


E por tudo isso

Sem vergonha e sem receio

Afirmamos que somos a bolacha

E você, precioso recheio.


Fábio Campos Coelho (2008)

Na hora de enxugar


Depois do banho sempre se tem alguma recepção meio ou muito estranha, que parece vinda de algo natural, que sempre acalma. É uma idéia que se tem, mas não parece ser provocada pela própria mente, e sim pela soma das razões que se toma, reflexões e por último as reparações dos erros. É uma vontade de ficar quieto; e não mais fazer coisas que dão prazer momentâneo. Na verdade é vontade de viver um pouco mais do que se vive, e pronto. Pensa-se em cotidiano, na sorte de cada segundo e depois se quer corrigir algo que não foi feito ainda. Talvez seja pelo efeito de viver sempre a mesma coisa. É tendência de todo ser humano que não se move muito, apesar de muito andar. Mas não se sabe por que é sempre depois do banho. Na hora de enxugar o corpo.

Fábio Coelho (28.09.08)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

UNIVERSITARIO


Por que eu viveria
estudando todo dia
como fazer um fichamento?


Para ter grande diploma
Nunca menos, sempre soma
Diante do conhecimento.


Eu estudava a cultura asteca
Naquele silencio da biblioteca
Já faz tanto tempo que nao vejo o sol.


Enquanto estou no estágio
que é uma forma de trabalho
Pra ganhar o meu dinheiro
O povo no CA joga baralho
Joga sinuca o dia inteiro
ou vai no CO montar time de futebol.


Eu procurava a felicidade
debaixo da cama
mas só achava o dicionário.

E já era fim do ano
quando olhei o calendário
pregado na geladeira.

Pra que quanta conta confusa
Toda terca e quarta-feira
Tem essas coisas, que besteira
Operacoes cheias de X.


É soma do quadrado perfeito
Nunca soube isso direito
É que sem nenhum defeito
Nao há como ser feliz.

Estudamos feito loucos no cursinho
Acordando todo dia bem cedinho
pra passar logo essa horrivel parte.
E agora que somos universitarios
Conseguimos os nossos itnerarios
Vamos acordar um pouco mais tarde.
Fabio Campos (22.09.08)



domingo, 14 de setembro de 2008

Medicina




Essa tal de medicina
É uma menina muito difícil.
Mas todo doutor tem que ter muito amor,
É o seu ofício.O caminho é pequeno,
É fininho, quase sem ar.
É com esforço pleno e caladinho
Que se consegue passar.
Ser médico não é brincadeira
Já dizia professora.
E, além disso, ela dizia
Que bisturi não é tesoura.
O sofrimento é coisa misteriosa,
parece uma agulha de injeção.
Que machuca, causa dor famosa
mas faz bem pro coração.
Olha aquela menina gritando de alegria,
é porque envolve glória.
Pois o grito verdadeiro vem,
um velho dizia, de alguma história.
E quando eu entro no escritório
Por instante olho o sapatinho
Branco, cor da paz.
Eu sinto diferente alegria
Penso em qualquer anestesia,
Dor de cabeça não existe mais.

Fábio Coelho (15.09.08)

Macaco velho


O que ela lê sobre as maiores leis
Aquelas que não foram criadas
Pelos reis, nem pelo garanhão.

Essa mania de fazer filosofia
Que todo mundo pega um dia
Não é à tôa. Ou você acha
Que o empregado não esculacha
Com a patroa?

Não adianta passar gel no cabelo
Ela não olha para a sua aparência
Porque ela gosta de experiência
E se envolve sem querer se envolver.

Se você acha que é bonito demais
Olha aquele homem o tanto que
É sagaz. Ele é tão feio e ela corre atrás.

Toda mulher gosta de alguma estrutura
Onde possa colocar na cintura
Pra sair na praça e se orgulhar
E nem precisa ser moço exemplar.

Não vai provar sua testosterona
Falar demais também nunca funciona
É pelo silencio que ela se apaixona.

Se você acha que aqui não
Há respeito, trate de interpretar direito.
Preste atenção, menina. Pois o empregado
É o homem e a patroa é a rotina.


Fábio Coelho (12.03.08)
01:49 da madrugada!

domingo, 7 de setembro de 2008

Preliminares


Depois de um dia estressante
Com duas aulas de física
E três de matemática
Eu preciso de um calmante.

Chego em casa com pressa
Mas não posso ser um garoto apressado
Ela diz com carinho de neném:
Calma meu bem, devagar é melhor.

O trabalho da rua é diferente do de casa.
Lá o bonificado é quem tem o passo mais apressado.
Aqui em casa é mais engraçado,
Ganha quem demorar mais tempo
Para ficar descontrolado.

Gosto de trabalho, mas também gosto de amor.
Ela é linda e não tem pressa, que menina é essa.
Ela gosta de pintar camisa e jogar malabares.
Mas também é ser humana, ela adora preliminares.

Sempre fui um sujeito rápido, não é culpa minha.
Meu pai me dizia que quem demora é mané.
Mas a calma dela me espanta,
E eu pensava que era santa, Que menina, que mulher!

Descobri o remédio pro cansaço do colégio
Não é maracujá, café, nem televisão.
Não é orixá, picolé, nem meditação.
Agora eu vôo pelos ares.
O remédio é preliminares.

sábado, 6 de setembro de 2008

Individual


O que eu quero dizer
Quando a inspiração já passou
É a mesma coisinha
Infinitamente igual
Ao nada.

Se eu sento pra comer
E penso semelhante
Àquela idéia elegante
Dessas que logo acaba.

Largo logo aquela mesa
E peço que alguma beleza
Me devolva a epifania
Que eu tive naquele dia.

Ela pirraça e demora
Mas ela chega uma hora
E diz: não dá, dão dá.
Agora aproveite a agonia.

E não adianta implorar
A culpa não é minha
O pensamento é só um
Ele aparece e faz zum zum.

Depois de longe dá um tchau
Dizendo em tom celestial
Que o tempo é diferente
Portanto a idéia que se sente
É individual.



Fábio Coelho (05.09.08)

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Aluna Luna


A consideração perfeita,
Como também é a compreensão
Das dores sofridas por causa
Da criatura amada
Nasce automaticamente.

A confusão não existe por acaso.
Nesse caso ela nasceu pela vontade
De se conversar de verdade.

Essa vontade também nasce
Sem porquê. Mas o porquê
Nunca nasce sem vontade de nascer.

A hiperatividade, escondida
Por vergonha é como uma cegonha
Que resgata a sorte de quem
Não nasceu para morrer no vazio.

Enquanto muita gente legal
Vive de circunstancia
Imprevisível e improvisada

Surgida do nada, sem motivo
Por que eu não posso
Conhecer alguém significativo?

A necessidade de mostrar
as verdades sobre a verdade mental
nessa sociedade infernal
pode ser hiperatividade.

Mas isso não é problema
O problema é não fazer poema
Quando a raiva ou decepção
Sobre si mesmo vem na contramão
Da rua onde tem feiras de virtudes.

E a sua virtude é não se conformar
Em ter preguiça de pensar.
Mas eu sei que você não agüenta
E sair do beco você tenta,
Não importa se sua cabeça esquenta.

Nessa viagem de vida
Onde a dor é ser só uma, querida,
O mais gostoso é escrever
Só pra ver a nota da redação.

Mas não importa a coesão,
Nem importa a coerência
Tirar nota ruim não faz mal
Só aumenta sua experiência.

O resto quase não tem valor,
E se o tema for amor
Não se preocupe, Luna aluna.
Nesse caso ninguém é professor.


Fábio Coelho (18.03.08)

domingo, 31 de agosto de 2008

O tolo Vagabundo


De noite, quando chega da escola
Já tem na cama o travesseiro
quando entra em casa ignora o porteiro
tem limpinho seu próprio banheiro
Porque tem nojo de pentelho
Pregado do sabão.

Não acha muita graça nesse mundo
Pois o mundo engraçado precisa de esforço
E já que vive a mesma vida esse moço
Do sofrimento só conhece o esboço.
Fala em voz alta irritado
Mas por que não sabe não.

Você pode olhar na mesa do bar
Lá bem no fundo, no último lugar
Está lá ele, falando no celular
Procurando alguém pra conversar.

Mas é segunda feira,
E queira ou não queira
O povo tem que trabalhar.

E se alguém fala em trabalho,
Fazer faxina ou faculdade
Ele Arranja uma mentira
Com peculiaridade e se manda
Pra outro bar.

De noite, quando chega da escola
Ele pergunta por que o tempo passa
Quando senta lá na praça
Pra tomar uma cachaça
Mas a vida não parece andar.

Fábio Coelho (31.08.08)

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Brigar


Brigar é normal, é o resultado da penetração na intimidade do outro, e quem não briga não sabe o que é ser à vontade, não sai do sonho, do inferno constante e aparentemente infinito que a solidão provoca. Brigar significa que se conhece alguém bem, o que é uma delícia, porque assim chega-se à conclusão de que todo ser humano é igual quanto à sensibilidade, à vontade de amar e ser amado. Quem não briga só mergulha na própria intimidade. E ficar nessa situação é tão insípido, monótono, sem graça, como uma pipoca murcha e sem sal; parece que o proveito de provocar lágrima e também de lacrimejar não foi consumado. Por isso brigar talvez compense: a consciência da imperfeição humana é ativada, e parece que ficar sem a pessoa com quem se brigou gera a necessidade de dar um abraço mais forte, pra sentir melhor o valor que tem alguém. A briga não passa de uma ramificação da convivência, um dispositivo espontâneo e natural que tem a função de nos fazer ser grato e valorizar a existência de alguém, de mostrar que sempre faltará alguma coisa que possa ser feita por nós, só para provar que a briga não acaba, só renasce.


Fábio Coelho (23.12.07)

domingo, 17 de agosto de 2008

Esfria a cabeça


Volto da escola insatisfeito,
Porque não sou perfeito.
Mas não ser perfeito
Nunca foi defeito.

Nem a princesa, nem o prefeito
São tão bem feitos.
Eles são como eu.

Mas será que até Galileu
Com tanta inteligência
Já teve a burra negligência
De ter medo do amor?

Um dia me disseram
Que aquele grande Nazista
Antes de se tornar artista.

Já teve medo de fantasma
Quando criança e teve asma
De tanto soluçar.

E o parente que tem moral
É sempre o dono das verdades
No churrasco fala das qualidades.

Mas esse parente tão sem erro
Não fala das manias e dos tiques
Dos escândalos e chiliques

Porque apanhava de menino
mais novo no colégio.
Mas ele nunca contou isso
Porque nunca foi privilégio.


E nessa verdade meio oculta
Vi que todo mundo um dia surta
Sendo o mal amado ou a querida.

Toda pessoa, criança ou adulta
Podendo não receber multa
Peca com a mesma medida.

Ninguém é escravo da tristeza
E a nossa natureza
É descobrir um pouco mais.

Se você é um pouco santo
Não fique muito no seu canto
Renda à sua vontade sincera
De fazer o que não se espera
Que não esquecerá jamais.

Escuta meu amigo
Esfria a cabeça
E se puder não esqueça

Que o delegado, a professora,
O faxineiro, escritora,

O doutor, o eletricista,
O médico, o jornalista,

O compadre, a comadre,
O pastor, o bispo, o padre.

Todos são iguais.
Todos são iguais.


Fábio Coelho (13.03.08)

Só parece


Só parece

Por que essa pressa
De ter experiência quando
Se olha a face expressa
De revoltante tranqüilidade?

Os de mais idade sufocam
Quem ainda quer ter juízo
Mas nunca viveu uma briga
Que lhe dê algum aviso.

Essa agonia de não pensar
Como aquele que pensa
Bem mais simples que você
E nunca se dá mal.

É que a mente preocupada
É mais densa que pesada
A consciência quando
Não compensa tentar concertar.

Mas a mente pouco experiente
E o corpo ainda virgem
Têm que honrar o que já sente
E não pode ter vertigem.

Não vai se sentir culpada
Sua cabeça tem conteúdo
Pois saber que não se é nada
Já é ser quase tudo.


Fábio Campos Coelho (2008)

Simulado


Na resolução mais difícil
Eu usando os artifícios
Para resolver o exercício.

De repente ouço um barulho
De tamanco, era a fiscal
Com a barriguinha aparecendo.

Ai, Ai, Ai! Por que eu fui olhar?
Agora vou ter que me concentrar.

A prova de geografia fala
Que o desemprego está alto,
Por que não coloca então

Qualquer fiscal um pouco
Mais feia pra não tirar
A minha concentração?

Ai, Ai, Ai! Ela levantou novamente,
Me vigiando atentamente
Mas eu sou inteligente
E não vou colar.

Ai, AI, AI! Ela vai levantar.
Assim eu não passo
No tal vestibular.

Fábio Coelho (16/03/08)

sábado, 16 de agosto de 2008

O meu professor é assim


O cansaço da vida
Causado por outros cansaços
Assusta os jovens, que já descalços
Também sabem do desencanto.

Mas a diferença de idade
Não consegue ser explicada
Quanto o velho não sorri
A criança ainda é animada.

Vocês podem reparar
As pessoas de cabelo branco.
Não se interessam mais
Pela simpatia e beijo na boca.
E vestem qualquer roupa
Pois nada embeleza um manco.

Os olhos baixinhos, olhando
De forma ressabiada e impura
São resultado de decepção
Por isso os velhinhos falam
Cuidado, a vida é dura.


Fábio Coelho (12.08.08)

Eu não quero tirar Dez


O Joãozinho, garoto bom na escola
Nunca vi pegando cola
Estuda o dia inteiro.

Já a Maria, menina inteligente
Que conhece muita gente
É um pouco mais feliz.

Não julgo o João, nem julgo a Maria
Mas só temo que um dia
João não vá gostar

De tirar sempre a mesma nota
E vai abrir a porta
E querer se libertar.

Pois essa batalha não significa nada
Quando vem a madrugada
E o lixeiro já acordou.

A honra ao mérito não depende
De diploma. O que importa
É a soma do esforço
Que o moço acumulou.

E se minha mãe me chama
De pentelho porque meu
Boletim está vermelho
E eu não tiro dez.

Não quero ser igual
Ao Joãozinho que
Só vive sozinho.
Tenho meus próprios pés.


Fábio Coelho (14.08.08)

sábado, 9 de agosto de 2008

Ping Pong


A vida é tão especial, você nem imagina.
Mas agente entende, não há grilo.
Fica tranqüilo que todo mundo
Dorme porque tem preguiça de pensar.

Quando a gente não tem mágoa
Fazer gentileza é muito fácil
É só um pedaço do que se pode fazer.

Fazer qualquer filtro de sonho
O café na mesa eu também ponho
Preza para amigo é um prazer.

É que tem alguns dias que a alegria
É maior que a agonia
Quando não há problema de se admirar.

Não é feio perguntar para o mendigo
Se ele tem algum amigo e fazer lembrar
De outro tempo melhor.

Não precisa achar estranho o ato súbito
Sem sentido, nunca feito, improvisado.
Que alguém lhe retorna seu instinto forte
Em forma de sorte, como tímido recado.

Fábio Campos Coelho (09.08.08)

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

O Pânico da existência


Sei lá, é uma sensação estranha. É como se eu me sentisse dentro de mim mesmo, como se eu fosse um só, mas em algumas situações, dois ou até infinitos; incontáveis, na verdade! É uma paranóia. Paranóias são legais. Confundam a mente do humano, mas pelo menos tem uma função de emoção. Às vezes, por insegurança, acho que meu segundo Eu sempre deve estar vigiando meu primeiro e puro Eu, sendo que ele sempre sabe que está sendo protegido. É estranho. Afinal de tudo, eu estou dentro de mim e todos eles são Eu. Mas, ao mesmo tempo, sei que sou só um, por lógica. É lógico! Quando fiz alguma coisa de que não gostei, eu fico com vergonha de mim mesmo, como se voltasse essa estranha sensação de que não sou só um. Aí a situação é a seguinte: eu fico me assistindo, o Eu “Ele” me olhando com decepção por meu segundo Eu ter vacilado. E eu, de fundo, fico envergonhado do meu “Eu Ele”. Só entenderá isso quem tem esforço e ausência de vergonha.

Fábio Campos Coelho (2006)

Yo Yo


Eu como um garoto bom, vivia na concentração
Prevendo um amor com cheiro de novela mexicana.
Esperava a vida inteira lendo livros românticos,
Pois amor fácil e rápido tem caráter sacana.

Um garoto muito pacato, com calma, sem trauma, nem grilo.
Gostava de ouvir a voz da experiência, peralta, mas tranqüilo.
Ouvia as lições de vida que meu avô dizia, com cara de mistério,
Ele falava que com amor não se brinca; aquilo era sério.

Porém, como a adolescência é muito afobada,
Não espera nada, com uma pressa danada,
O truco nem a cerveja nessa hora funciona.
Então eu confesso, predominou a testosterona.

Passos e passos na noite, um esforço de iogue.
Nenhuma carona, nem mobilete, nem jogue,
E finalmente, muito de repente, o inferninho apareceu.
Um corpo de égua com mão de vaca me cedeu.

Nem promessa, nem Lero-Lero, nem Fanta adiantaram.
Meus joelhos esfolaram, as cordas vocais não agüentaram.
Era escuro, eu não via ninguém, porque não havia sol.
Mas vi na minha frente, arrumado e cheiroso um lençol.

Então, todo aquele grande sonho lindo acabou.
A minha princesa agora era chata, sem paciência.
Tinha experiência, mas não tinha a crença
De que aquilo tudo era um sentimental iô-iô.

O io-iô se levanta, sobe e nunca desiste.
O brinquedo dava a volta ao mundo, mas não cuspia
E a égua com mão de vaca reclamava triste
Até que eu me ofendi, e o prazer virou agonia.

Hoje vi que a emoção não está no lençol arrumado
O meu jeito agora é revoltado, sem dinheiro e grilado.
Espero que alguém ame de verdade meu io-iô.
Acho que tenho de escutar mais o meu avô.


Fábio Coelho (05.01.08)

Problema de Desenvolvimento


A virtude vem a mim, mas eu não a ela
É situação vergonhosa que eu confesso
Tudo está aqui, na minha frente
Mas quando tudo está perfeito...

Chega de repente meu defeito,
O pior de todos: impedimento de me evoluir.
É revoltante isso. Alguém aqui já teve nojo
Do seu próprio pensamento?

Eu me recuso a lembrar do absurdo
E vou em frente, sempre crente
E talvez um dia essa mania de querer
Ser igual a todos seja um pouco diferente.

Então, finalmente, serei o supremo dos vitoriosos
E vou mostrar à minha querida mulher
Isso vai depender, talvez de Deus, mas,
Com certeza, se eu quiser.


Fábio Campos Coelho (2006)

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Uma viagem na madrugada


Tédio, talvez conseqüente.
Expressão apressada e feita.
Solidão, vazio, pouco orgulho.
Pouco desvario, muito desafio.
Curiosidade, fragilidade de espírito.
Amor próprio, poesia bonita,
Erros genuínos e inocentes
Alegria expansiva.
Muita historia pra contar
Romances engraçados
Beijos apaixonados acho poucos
Mas bom de se lembrar
Pouca experiência em muita idade
Liberdade quase sem fundamento .
Milhares de confortos.
É tão perigoso isso que eu já enjoei.
Quando o carro anda demais, parece
que a estrada ta no fim. Mas só parece,
porque talvez as placas não dizem nada
e a gasolina então seja a salvação
de cagada, de destino; já tava escrito!
já tava escrito que eu iria ser feliz.

Nem pouco importa o carro, nem as rodas.
O futuro é tão amigo meu que nem me
preocupo qual o seja. Afinal, a sorte
é mais gratificante que uma linda viagem!

Fábio Campos Coelho
(2006)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Um pingo de Razão


Tem dia que a borracha é minha serva
tem dia que a cerva trabalha em mim
que é quando a arte não tem graça.

Tem hora que é difícil combinar sentido com palavra.
Tem hora que de tanto esforço
a obra acaba em uma desgraça.
Tem gente que só pensa em botar algo de perfeito
mas no fim se esquece da raiz que realmente dá o efeito.
Tem gente que elogia sem saber o que é e depois aplaude
justa e somente pelo fato de ser uma mera poesia de alarde.
Aí é que está o problema:
essa gente com mania indecente de adorar
um conjunto de versos de que nada entende.
Parem. Isso já está me deixando doente.
Eu não quero gerar briga
nem qualquer tipo de confusão
eu não quero ver intriga
e nem chamar atenção.
Eu só gostaria, alheios queridos
que aguçassem seus ouvidos
pra que as frases tenham seus verdadeiros sentidos
e pelo menos um pingo de razão.
E por último, eu lhes peço um favor: que perpetuem, também,
as que vierem de qualquer coração.
Fábio Coelho (Dezembro de 2006)

Ali no Posto


Se juntássemos os tempos vazios
Aqueles de puro tédio, sombrios
Daria pra fazer um filme de um só artista
Que por tristeza seria protagonista.

E em tal filme cheio de lamento
O ator vivia de arrependimento
De ter o tempo e não aproveitá-lo.

E com a sua vida tão constante
Largou aquela vida agonizante
E fugiu para sempre com seu cavalo.

No meio do caminho o rapaz sortudo
Encontrou uma menina que estava ali
Por coincidência e não tinha a crença
De encontrar aquilo tudo.

Eles voltaram para o lugar onde
Se grava filmes, o antigo cenário
E fizeram o final juntos com
O seguinte aviso: que mudar de caminho
A procura de alguém nunca é prejuízo.

Fábio Campos Coelho (05.08.08)

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Três pontinhos

Sem alheios. Pelo amor de deus. Só são as duas pessoas sábias do que há. A agonia mesmo, meu bem, é que a gente é quem menos sabe. Existia o caminho mostrado através da naturalidade e dos alheios, mas eu já me cansei. Você tem que ver essa mania de chamar a atenção. É o quê? A vergonha dos fracos, dos calados? Quando eu escuto alguma música, meu Deus, me dá uma saudade. Eu me lembro de circo, porque me dá alegria. A verdade é que o cotidiano cansa, mas você não me cansava. E depois de muito tempo... você vai ver que o choro é prova de alguma existência. Que delícia falar do que ninguém imagina!


Fábio Campos Coelho (22.11.07)

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Terapia e a Ridicularidade


Se o amor fosse concentração no outro, tudo seria diferente. Daí vem a ilusão: o amor, antes de mais nada, é querer ser feliz. É lógico que há concentração no próximo, mas essa é priorizada para a felicidade, e não para o próximo. É incrível como não sabemos nem o que queremos e qual é a origem de sofrimento, se é que isso existe. Egocentrismo é ridículo, mas é terapia. Então eu prefiro terapia que ser ridículo, porque sê-lo qualquer um consegue, terapia é raro.

Fábio Coelho (10.06.08)

terça-feira, 29 de julho de 2008

Elogios


Eu gosto de mim, de qualquer jeito, sem querer me expor nem calar sobre mim.O equilíbrio, entre seus milhares de conceitos, se faz entre a ausência da apressada necessidade de mostrar as virtudes e o orgulho, porque orgulho, muitas das vezes, protege. Ouvir elogios faz bem para o ego, mas faz mal quando se começa a relacionar conforto e descompromisso com troféu. Quando o homem ganha muitos troféus, cresce a tendência de ele parar de se esforçar, de ser o mesmo; e assim, sem ver, desce o nível do seu pódio. O elogio é alimentação de auto-estima e toda alimentação fortalece. Porém, esse tipo de alimentação é como a comida de todo dia, e por isso gera fezes também. Fazendo-se uma comparação, as fezes é o costume e a imobilização quando entra na audição o elogio. Mas apesar de todo elogio soar bem aos ouvidos, o olfato não se agrada. Quando alguém lhe falar bem da conduta, não admire muito a própria glória; todo mundo a tem. Senão o alimento logo, logo se torna fezes. Se não aprender a lição, da próxima vez agradeça e dê descarga, como se nada tivesse acontecido. O esgoto cuidará do seu atraso.


(Fábio Coelho)
(15.05.08)

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O papel


Pele branca, corpo gentil e servo como sempre. Um papel disposto a ser escrito nunca é uma desvantagem. Coisa bonita é assim, tanta liberdade que acaba preso por si mesmo. Escrever talvez seja a maior salvação, posto que comunicação é iniciativa pra descobrir qualquer coisa. Quem disse que só existe aquilo que se conhece? Essa é a graça do mundo: a infinidade do mistério, e ainda bem que seu segredo nunca é revelado. Quão ruim seria se a sabedoria dominasse a existência, pois se assim fosse, a esperança não existiria. O adjetivo oferece forças ao substantivo, que só até então era. E ser é um verbo tão pobre que só serve para ligar. Pobre na verdade sou eu, que enfrenta e insulta tal verbo sem antes pensar que antes de tudo sou.


Fábio Campos (2007)

domingo, 27 de julho de 2008

Flexibilidade aleatória. Pleonasmo?


Se você não sabe, até hoje, que a partir de uma bela conversa sem pé nem cabeça pode surgir o livro do milênio, da surpresa, daquilo que todo mundo pensa, mas não consegue falar... Então fique sabendo, João! Muito doutor por aí não consegue chegar a algum lugar ainda descoberto, mas que pode ser, sem querer. Você já pensou nisso? É que muita gente só usa o que os outros inventam, esse é o problema. Escuta, João: qualquer coisa pode sair por qualquer lugar. Acontece que estamos perdendo as virtudes por acaso, quando pensamos que o silencio nos faz evoluir. Que besteira, João! Sabe?... A conversa deve ser qualquer, a simpatia não é tão importante, porque o silêncio nesse caso é benefício, além disso, a palavra em excesso tira o gosto de querer-se conhecer mais no outro aquilo que nos dá prazer. João, se você se inquieta quando conhece alguém, talvez não esteja no melhor caminho. Mas é somente talvez, pois cada um tem sua própria sorte. E olhe lá! Calar um pouco também nunca faz mal. Aliás, o ser humano quase odeia descobrir o outro por inteiro.


Fábio Campos Coelho (26/11/07)

domingo, 20 de julho de 2008

Seria um testimonial




Eu já falava pra você que a educação guarda honra no futuro, independente de qualquer ignorância alheia que pareça ser mais elegante ou vitoriosa. Isso é tão verdade, que os mal educados sempre pedem perdão no final. E apesar de desculpas serem gesto de arrependimento, é um pouco ridículo, parece que quem faz muita besteira não tem mais crédito.
Eu já falava isso pra você há muito tempo. Não se lembra? Na hora do caos, deixe todos os humanos sorrirem e se amarem. É direito deles. Deixe também eles passarem ciúmes uns nos outros. Você pode até se revoltar, mas é que a revolta não fere o outro como o revoltado quer que fira. Entenda essas ações medíocres como esgoto de pessoa que não consegue chegar ao asfalto. Não conseguem, pois não querem; isso também é direito deles. Em relação a temperamentos, por favor, mudemos de teoria: não seja emocionalmente constante, já que ser sempre calmo e tranqüilo acarreta a fúria selvagem que um dia com certeza se dá. Talvez viver aleatoriamente seria uma solução boa; ser imprevisível dista o stress de si. E por último, não controle a praxe de sofrer: sofra à vontade. Chorar não é vergonha, é direito inalienável. Não se esqueça: a lágrima nunca faz mal, pelo contrário. Segundo os biólogos e médicos, é o melhor tipo de colírio. Ah! E antes de mais nada: tenha dó dos normais, eles ainda não sabem que burro é quem não é ridículo. E enquanto vivemos como agnósticos, creia, porque o respeito também contém fé. Além de tudo, a vida é só uma. Com isso tudo, e não contudo, a segurança lhe virá ao pé.

Fábio Coelho (14.07.08)

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Pintando camiseta


É tanta coisa que eu tenho para falar
Mas esse negócio de vestibular
Está me fazendo parar de pensar em filosofia
E na alegria de todo dia, porque na escola
Só tem historia e geografia.

Todo dia que eu vou trabalhar me vem
Aquela pergunta: por que tanta labuta,
Só para saber se existe
Força de atração entre
O espaço e a terra

Ou para saber das maiores
Leis que proporcionam
A paz e evitam a guerra.

Mas eu desisto do esforço de fazer
Alguma coisa útil mesmo que não seja
Tão útil como salvar alguém,
Mas me faz bem, pra mim faz bem.

As pessoas, quando ficam mais velhas,
Têm mania de ficar mais caladas.
Porque mesmo com tanto desrespeito
É melhor fazer silêncio do que encher
O saco de alguém.

É que com o tempo se percebe
Que quem fala muito
Cansa o ouvido do sujeito.
É melhor pensar antes de falar.
Eu prefiro ser um Zé ninguém.

E o povo ainda dorme
Enquanto o professor de redação fala
Sobre pós-modernidade.
Ou é muita maldade,
Ou é falta de idade.





Fábio Campos Coelho (2008)

terça-feira, 15 de julho de 2008

Meu Cãozinho


Alvo da casa, terapia da família.
Feliz sempre como se não
Houvesse motivo pra ser triste.

Meu cão, que nem tem sentimento,
Anda pela casa sem tormento
Balançando o rabinho quando
Algum membro da família chega.

Pelo branco, encanta todo mundo
Com o seu tipo de amor.
Todo mundo ama ele.
O porteiro, a empregada e o zelador.

Na hora em que ele vê alguém
Chegando perto
O cãozinho esperto vira a barriga
Pra cima e mostra que não quer briga.

Não interrompe nem atrapalha ninguém
Ele quer carinho, porque
Quer ser gente também.

De manhã, a gente ouve os passos dele
É o membro da casa que acorda mais cedo
E de noite, se ouve algum rumor na porta
Ele late, espicha o pescoço e depois
Confessa que tem um pouco de medo.

Se alguém ameaça dar o bote
Ou faz algum gesto mais grosso
Ele pega o seu velho osso
E corre ao redor da mesa.

O contraste entre o branco feliz
E o preto do seu molhado nariz
É equilíbrio do alegre triste
É o que existe de pura beleza.

Sua prova de companhia é seu choro de lobo
Que faz quando alguém sai.
Meu cachorro é feliz,
Não atrapalha e sempre ajuda.
Meu cãozinho Duda.


Fábio Coelho (2007)

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O engenheiro


Só falar de amor é complicado
Parece papo preso em cadeado
Eu prefiro mudar de assunto.

Por que pensar em romantismo,
Se é o romantismo que nos faz
Pensar? E às vezes pensar só
Acaba de afundar o sofá.

Um dia um engenheiro, que fazia tudo
Era um bom trabalhador,
Sabia a medida da força do martelo,
Construía igreja, praça, escola, castelo.

Foi chamado para fazer uma obra,
Mas que obra mais difícil!
Ele tentou com todo sacrifício
Procurando o ideal artifício
E não deu conta da missão.

Pois a obra não era medir
Nem pegar no cimento.
É inútil o conhecimento
Quando se fala em coração.

(27.03.08)
Fábio Campos Coelho

sábado, 12 de julho de 2008

Dia do tímido


Antes eu era tímido, agora sou mais ainda. Mas a timidez é merecida por poucas pessoas, apenas aquelas que acham que ela não deve ser escondida, porque ser tímido significa ter vergonha; e vergonha é se importar com as coisas. Não dar importância às coisas que se faz e acontecem é muito fácil, que graça tem? A cabeça pra baixo no elevador, o ato de puxar papo para não ouvir o silencio constrangedor, o sorriso meio forçado e tenso, não olhar no olho do próximo, se fazer de um personagem mais rebelde, tudo isso faz parte de quem não consegue ser falso, de quem é tímido. Não é questão de burrice, é questão de precaução improvisada. Viva todos os tímidos que não têm vergonha de sê-los. E tem verdade mais escancarada que essa?

Fábio Coelho (30.03.08)

Honras próprias


Certo dia estava meio assim, meio duvidoso, sem saber se ia seguir um caminho descente, que é o melhor e o mais saudável, ou se ia seguir aquele sem honra, fácil que se não é vazio contém somente um triunfo com gosto de vazio. O primeiro é que precisa de mais esforço, aquele que prova a vontade de cada um e seleciona os melhores e em quase 100% das vezes, humildes também. O segundo caminho é aquele mais aberto para compromisso, mais tentadora e menos fácil. É aquelas que te inferem a pensar que a vida é um pouco simples, ou muito, quem sabe. Mas quem é que disse que a condição da existência da felicidade é a existência da facilidade? É por isso que eu gosto dessa vida. A cada minuto ter um desafio, um meio fio que oferece conhecimento gostoso; essa é uma das coberturas do sorvete da vida, são essas coisas que nos deixam mais satisfeitos por nós mesmos, por ser útil, seres pensantes. Só, somente só!

Fábio Campos (sem data)

sexta-feira, 11 de julho de 2008

O costume de viver


Depois de ler todos os livros, sejam eles sagrados, escritos pelos empregados gênios das rainhas, ou pelas crianças, o que se tira de teoria é o esboço de um vácuo, sem muita afirmação, tampouco justificativa, pois o guru que muito pensa se acostuma com a praxe de não concluir resultado concreto e depois dorme sempre igual, com a sensação extremamente verossímil de ter feito curso acerca da atitude humana em vão. Infelizmente, para os que querem criar verdades intactas sobre a conduta humana, pensar muito não seja a solução, talvez! Então, a satisfação fica para aqueles que não exigem explicação lógica para as traições e os medos. Esses sim, dormem mais tranquilos com a sorte de não saber que ser ignorante não infringe a ética; é apenas opção inconsciente. Sorte a deles!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Também acontece




Não se importe com ela
Que daqui a pouco ela volta
Eu digo isso meu irmão
Porque já vivi a dificuldade
Que um amor tem para
Se confessar.

É assim mesmo,
Você fica pensando de noite
Sozinho, porque ela tanto
Demora pra descobrir,
Mas ela tem medo de da
Escada gigante do amor cair.

Mas não perca a paciência nego,
A escada é ferramenta de delicadeza
Enquanto um sobe o outro agüenta
Que é pra provar paciência e gentileza.

E outro conselho de garoto sofrido
Se ela cair lá de cima não julgue,
Nem reclame.
Mesmo o homem mais perfeito
Do mundo um dia dá o seu vexame.

E quando você estiver com a cabeça
Quente demais não vai sair na rua
Fazer besteira, quebrar copo, rasgar retrato.
Só vai conseguir ter respeito
Aquele homem que, mesmo com as
Decepções inesperadas, ainda é sensato.

Eu lhe garanto: quando você estiver
Na descrença do amor, desanimado
E aflito.
Ela vai te pedir perdão e os dois juntos
Na escada vão subir até o infinito.


Fábio Coelho (09.07.08)

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Sexo


E algo bruto, coisa divina. Vai devagar primeiro, continua continua.
Depois acelera, estimula estimula. A todo instante mantém uma certa comunicação com minha consciência,
avisando que está tudo bem e que o ato é sempre assim
é exercício delicioso, violento, prazeroso
é o momento em que você bota todas as vontades cotidianas no pote cheio de maravilha notória. Faz bem à saúde, oferece um sorriso esperto e pilantra.
Arrebenta a meiguice, elimina a timidez e mostra a coragem.
é bom é muito bom; é um vício que nem os pais contestam.
O seu resultado é o alívio, seu começo é pirracento e ansioso e o meio é essencial.
e se alguém intrometer, meu Deus do céu, em um segundo acaba com a moral.
É safada, necessária apaixonada mas nunca precária.
Surge em qualquer lugar e quem insiste em desistir é alvo de tentação e consequentemente tormento. Nossa, como é um sofrimento não poder saber de toda maravilha oferecida pela própria natureza.
Quem fala que é pecado é infeliz e invejoso, pois não há arte mais alegre que esta. Pode causar estrago, mas um estrago que não faz mal.
Gera gente, coloca uma semente no buraco do inferno. Vai, volta, vai volta e assim vai constantemente.
Até que uma hora um homem inocente finalmente confessa que não tem mais forças e sente que seu grande, invencível e valente machado foi traído e sugado pelo mais belo e cínico monumento feito por Deus: o orifício do Diabo!

domingo, 6 de julho de 2008

João e Pedro


Era uma vez um menino que se chamava João.
Quando crescer ele queria ser um bom pedreiro.
Quando João cresceu arrumou um amigo chamado pedro que era pedreiro.
Um dia João perguntou para Pedro:
__O que você faz?
__Eu sou pedreiro, e você?
__Eu também queria ser pedreiro para construir muitas casas.
Pedro, como era muito bom falou para João:
__Estou construindo uma casa e vou levar você para me ajudar.
E os dois foram trabalhar juntos até 1996.
E como Pedro não tinha casa, só João tinha, ele convidou o seu amigo para morar com ele.
Quando terminaram de construir a casa, saíram procurando outro emprego.
Como eles eram bons pedreiros acharam nova construção para fazer.
Eles eram felizes porque trabalhavam.
Ficaram ricos e saíram do emprego.

Fábio Campos Coelho (1996)

Passa-Tempo


Entre os dedos havia cabelo. O mistério agora escondido se deve à vergonha de se mostrar, que se for exposta alguém percebe. Alguém pergunta por que não se deixa falar de tudo. O outro, do outro lado da calçada, separada pela rua da diferença de personalidades, coçada a cabeça, pensava... Demorava pra responder, mas depois, de forma muito simples, dizia que era direito seu. Ta certo, é isso aí. Eu, o escritor, e o mesmo cara que demorou a responder o outro são as mesmas pessoas. Mas esses três são de mesma personalidade, ou será que não? Lógico que sim, são sim! O jeito de pensar é diretamente proporcional à ocorrência dos fatos. Já pensou quanta coisa já aconteceu na sua vida? Se algumas dessas coisas não tivessem ocorrido, as conclusões seriam diferentes. O caminho do seu destino, você e sua criatura amada: tudo seria diferente. Mas não viemos falar disso. Aqui, no papel, isso não faz muita importância. E como o que acontece no papel tem importância para o escritor, o mais relevante é isso: Causar a euforia de tentar saber o que está por trás das letras. Volta-se lá no primeiro parágrafo para tirar alguma interpretação. Mas não; só quem escreve sabe o que escreve.
Mas para tudo isso há uma explicação: O escritor sempre esteve tentando provocar no leitor a vontade de descobrir o mistério, porque a caneta também não consegue descobri-lo. Mas se a graça do mistério é sua própria existência, deixa pra lá. Tudo é passa-tempo, como a vida.


Fábio Coelho
(01.07.08)

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Ouro preto


Por que querer morar longe de todos?
Para conhecer outros sotaques
E depois ver que os melhores parques
Ficam aqui na sua cidade?

Por que querer mudar de vida
Se a vida vai continuar a mesma?
Algo diferente pode até
Acontecer, mas não vai passar
Do dinheiro a mais do aluguel
Que você terá de pagar.

Para que procurar tantas repúblicas
Se você já mora numa casa
Onde tem a empregada, o irmão
E os pais que sempre acordam
De madrugada pra conferir
Se você está realmente bem.

Por que sair da sua cidade natal,
Onde tem a galera alto astral
Para morar sozinho e chorar
De saudade, mesmo com tanta
Liberdade de acordar mais tarde.

Faz o seguinte: você vai lá e testa
Se realmente tem muita festa
Que de verdade vai lhe agradar.
Mas como menino você se comporta
E ainda não sabe que o que importa
É uma só pessoa que o possa amar.


As cachoeiras têm água transparente
E a gente não consegue achar paisagem melhor.
Mas antes de você mudar, use a mente:
Não poderá mais tomar banho de água quente
Ouvindo Jorge Ben Jor.


Fábio Campos Coelho
(04.07.08)