sábado, 24 de setembro de 2011

EU E O MUNDO


Sinto a culpa do mundo
ela é do mundo
e só -- não minha.
Fico grilado, mas logo melhoro
com as coisas desse mesmo mundo.
Então de quem é a culpa?
Fico grilado comigo
por ter grilado com o mundo,
É só engano e sonsice.
Até que o mundo um dia
me chega com imponência e bicudo,
com a testa contraída de brio
bravo que só ele:
"Espera aí, não confunda
seus vacilos com o os meus,
eu já tenho muito problema pra ficar acumulando
os dos otros pra mim.
Não me venha com essa!"
E sai, correndo evaporado em um instante.
Levo bronca do mundo
mas depois me consolo
através da vergonha na cara
que o mundo generoso me deu.
O mundo é o mundo, ora
-- penso comigo bravo comigo:
revoltinha fedorenta com o eu culpado
que culpa o não culpado.
Depois, regalo demais:
o mundo tem sua natureza e isso acaba sendo simples
de sorte que sou maldito
e maldigo tudo aquilo que me cerca
quando a culpa, se é do mundo,
só é minha
pois sou parte dele.
Mas não sou ele
Ele é ele , eu sou eu , sem essa confusão.
No fim da tarde faço o último panorama:
olho pra mim, me passeando
e fico preso de mim, sufocado sem ar.
Quando saio e dou atenção ao mundo
é tudo mais amplo e mais natural e mais tênue.
E o problema vai para seu ciclo original
e a culpa é um filhote do problema.
Acaba que não é fruto
nem meu
nem do mundo.
Vou tomar um refresco e está tudo muito bem.

Fábio Tchubin [22/09/11]