sexta-feira, 20 de maio de 2011

Tic Tac


-PARA DUCA-
Coitado é o tempo,
que ficou culpado por ser
a causa da invenção do relógio -
esta arma terrível amiga do cotidiano:
arma que derruba momentos alegres na praça,
um pulo no lago às 4 da tarde terça-feira.

Já se viu alguém no lago
terça-feira às 4 da tarde?
Não há ninguém.

Segundos, minutos, horas:
Quanta mentira!
Não existem. São borrachas de meninos desocupados
que contemplariam a lua e os passarinhos,
que mudariam de caminho
por causa de uma moça que apareceu na frente
com cintura fina e vestido colado.

Platão, Sócrates, Aristóteles...
Falam que esses homens eram vagabundos,
viviam da vadiagem,
de conversas desconversadas,
papos furados que só um bêbado
é capaz de prolongar.

Estudamos esses homens até hoje.
Estudamos esses canalhas
cujas observações são base de doutorado,
de explicações de comportamentos humanos,
são base de ferramenta utilizada
como solução para ser feliz.

Os ponteiros nunca param de trabalhar.
Dão tempo e tiram tempo
das pessoas que tem que ir à academia,
marcar presença para o chefe da repartição,
jantar rápido para a aula das 19.

Enquanto isso tudo acontece,
há uma menina pulando corda
no pátio,
um grande possível amor da vida
do moleque que está correndo
na esquina do lado,
indo para mais um dia obeso de atividades,
um dia que poderia ter sido o dia
se ele tivesse deixado
os exercícios da Tia Lúcia para depois
para ver quanto pular corda
também faz a gente suar.

Binho , O Mascote Maldito
17.05.11

domingo, 1 de maio de 2011

Vadio da Noite


É preciso ser triste
e não só ter o impulso da euforia
- carro que já sai de terceira se arrepende,
não funciona.

É preciso pensar na noite,
durante a madrugada,
e pensar no que se vai pensar,
triturar o passado em presente,
contemplá-lo,
ter saudade do que já foi:
poltronas de avó,
a professora instigante pela experiência
e a menina das pernas grossas.

O passado na noite
vem à tona, num pacote em promoção
com a vontade de lembrar - de brinde.
O travesseiro nos exige vitória
e por isso é preciso lembrar
para então ser triste,
para só então ser feliz
e dormir.

Quem dorme sem ser triste
não sente que viveu,
não sente o fogo que queima,
a corda que aperta,
a regeneração precisa.
Não sente a recompensa do corte,
não curte ser vulnerável
para depois estar imune ao mesmo corte.
Não sabe que o travesseiro de plumas
é o que mais exige a lembrança
do corte,
da corda,
do fogo.

Fábio Campos Coelho 27.04.11