sábado, 28 de fevereiro de 2009

Esboço da Saudade


Vovô me falava não abstratamente
Como é sentir saudade
Pois abstrata é só a palavra
Daquilo que se diz, de que se trata.

O conceito é sempre concreto
E como educado neto
Eu lhe ouvia atentamente.

Quando a imaginação está ativa
A saudade entra em existência,
Mas não fique triste, vovô dizia,
Vencedor é quem tem paciência.

Pois saudade é prova
Da presença de sentimento
Em qualquer momento
Mesmo com ausência
Da criatura lembrada.

Fábio (Fevereiro de 2009)

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Sofrer é sofrer?


O efeito da cerveja muda tudo, o ponto de vista natural e a emoção. Muda as coisas para melhor, sempre. Faz desaparecer ou esclarece os problemas ridículos que a gente acolhe com carinho e consideração por pura burrice de ter alguma tristeza, como motor do carro, continuação para a vida. A ambição do à vontade é uma loucura, e quando conseguimos ser o que desejamos ser, o carro troca o óleo e agora pode andar pela estrada toda, que tudo ocorrerá bem, perfeitamente. A gasolina pro carro é como o álcool para o ser humano: dá força provisória, mas não nos dá a compreensão, a tranqüilidade de entender tudo e dormir como uma criança. A bicicleta que se ganha quando ainda é criança é o melhor carro, porque a gente anda sem poluir o pulmão dos outros e o próprio coração. É uma alegria inconsciente, que ainda não conhece o sofrimento. E entre a alegria consciente e o sofrimento eu prefiro o segundo; um dia seremos adultos mesmo! Viver é ter consciência da realidade que não é simpática, é ter a tranqüilidade de que um dia já se sofreu.

Fábio Campos Coelho (15/12/07)

Mentira


Eu me lembro quando o medo ainda era como barreira contra mim mesmo. Lembro quando me estranhei porque ninguém era tão legal assim comigo. Talvez a infância sempre tenha existido dentro de mim e quando a novidade estava perto, ela também era criança.
Não sei se confundi amor com inocência, mas é que quando nota-se alguma diferença é preciso andar, vasculhar e conhecer pra depois não se arrepender de que não se viveu. Um mundo só não existe, e ainda mais em um que está começando. A velhice é o fim de algo único. E se a vida for assim, única, mas longa demais qual motivo nos leva a não arriscar? O risco é o caminho do sucesso. O insucesso é ruim, porém faz parte. A minha cara de muro me mostra que brincadeira em excesso nunca é bom. É preciso seriedade para conseguir se limitar, e, além disso, o limite equilibra e traz madureza. Mulher gosta de homem inteligente, ninguém deseja um qualquer. A melhor mulher é aquela que se cala quando se encanta, mas não perde a oportunidade certa. A melhor mulher é aquela que sai da normalidade de apresentar vigor exagerado. Mentira, tudo isso é mentira. Só os lerdos acham filosofia ser ciência. Pare de confiar no que os outros falam; a melhor confiança é voltada para si mesmo.

Aliterações de Vestibulando


A vida Vazia me diz que sou fera.
Papo furado, que fere a gente só mais tarde,
que é quando a ferida só serve de
arrependimento da furada dos compromissos.
Tá na cara, isso eu sinto meu faro
De jovem correto, que não se refere
A ninguém na hora da dor.
Não fissuro, nem mesmo me furo
Pois sei que o verdadeiro fórum de cada um
está na própria consciência.


Fábio (2007)

Muitos e um só


E então, eu me trato assim, velho-bobo, como se houvesse determinado parâmetro de personalidade para eu agarrá-la e viver por conta do jeito de garanhão que ela gosta. Aí eu me pergunto onde está o meu verdadeiro jeito de ser, com defeitos infantis? O relacionamento estável tem tendência de possuir intimidade recíproca, porque isso fortalece o sentimento genuíno. Mas para o mundo ficar mais divertido será que eu não poderia inventar qualquer outro personagem que seja mais legal, mas que pertença a mim? Então eu chego à conclusão de que qualquer personagem que eu seja, serei sempre eu, porque sou como os outros: não gosto de me arrepender por não ter aproveitado todos os momentos.


Fábio Coelho (04.12.07)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Cabelo de fogo


Goiânia, capital sem sujeira
Mas muito pequenininha
Para aventuras da filha primeira
De Dona Terezinha.

Vontade de sair, de conhecer o mundo e as paixões.
Namorar até de madrugada, amar mil garanhões.
Mas ali havia uma barreira muito pesada
Era um tal de Teco, que não permitia quase nada.

A Moema, com seu cabelo de fogo e suas pintinhas
Foi ao desafio conhecer outro mundo,
Algo mais profundo: liberdade e fortaleza
E chegando ao rio de janeiro, naquele paradeiro
Foi dar aula de Língua Inglesa.

Construiu sua humana vida assim,
Sem medo, acordando cedo e indo trabalhar.
De Leblon a Ipanema, com vício em cinema
Conhecendo o mundo a beira-mar.

A Moeminha até que gostava dessa vida
Dura e puxada, porém mais gostosa que Coca
Até que um dia ela conhece um malandro carioca
E com ele tem duas filhas mais teimosas que pipoca.

A mulher do cabelo de fogo queria fazer mais faísca.
Aquilo ainda não a deixava satisfeita
Foi então em Santos que trocar sua vida ela aceita
Por um açougueiro bonito e barrigudo
Que não tinha nada, mas, sim, tinha tudo.
Estrutura, atitude, Ceará de conteúdo.

E na cobertura de um prédio qualquer
Com vista para o Atlântico,
Artesanato, isso é fato, prato, picanha, talher
Não seria tão elegante Nilson Cavalcante
Com outra mulher.


Fábio Coelho
07.02.2007