sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

QUARTO ENSOLARADO


Quando vem aquela tristeza que toda pessoa sente
aquele quebranto intransigente
me falar que sou mais um no mundo
e tanto faz ser ladrão, coração grande, companheiro
olho para o nada, para todos os lados de desespero
e fico desesperado, admito: é tão esquisito ser gente.
Poderia ser um cão, assim não sentiria isso.
Mas o sol entra na minha janela e de repente
sou a pessoa mais forte dessa cidade
sem querer ser, mas sou porque o sol entrou
e com ele, o meu passado, mostrando pra mim
os sorrisos que eu provoquei um dia.
Parece que todos os dentes entram no meu quarto
os dentes dos sorrisos que foi eu que promovi
os mesmos dentes dos mesmos sorrisos da mesma forma
rodando ao redor de mim,
dourados e fervorosos do sol que entrou.
Eu, que agora sou o homem mais forte da cidade
saio pela janela e começo a voar sobre a paisagem do meu quarto
mas essa paisagem vira uma coisa abstrata
que eu não consigo descrever, mas que é uma luz branca
em forma de um sorriso de dentes brancos
e me desafia a falar que essa vida é boa, sem motivo.
Eu falar isso? Sem motivo? Não sei se consigo
mas ao dizer isso, vejo que sou o homem mais poderoso do mundo
e agora sou eu quem está rindo e sorrindo,
por cima da cidade
dizendo, com os olhos fechados:
Essa vida é boa. Essa vida é boa!
Então o meu ato de voar não significa mais vôo.
Eu apenas sou a fortaleza do mundo,
a energia que o mundo tem
sou eu.
Eu sou e pronto, sem predicativo,
nem sujeito sou, eu só sou
e rio sem parar, Hahahahahahaha!
Gargalho propositalmente alto parado no alto da cidade,
emito gargalhadas que espantam as fumaças
e paqueram os pássaros.
Aproveito que a vida é boa e curto aquilo sem método
sem conceito sobre algo, numa tranqüilidade
que só dá vontade de ficar calado.
Por final, volto para meu quarto e deito na cama.
O sol continua lindo, lindo como sempre foi,
no entanto, mais lindo do que como eu sempre via.
Os dentes do sorriso não estão mais ao redor de mim,
no meu quarto.
Todos aqueles dentes, descubro que eram dos meus amigos
da infância.
De primeiro momento, penso o sol ter me dito isso
mas depois induzo que foi meu passado.
Levanto da cama e vou olhar o que tem lá fora da janela.
Uma felicidade invade o meu rosto sem eu querer
e, sem querendo ser feliz, sou mais feliz
do que seria se quisesse.
Só eu estou no meu quarto, os sorrisos estão no meu passado
e meu presente não é só aquele momento dentro do meu quarto
e sim um menino sapeca
que pega pedaçinhos do passado
indo e voltando, indo e voltando
indo leve e voltando sorrindo
e dizendo: Ah, como a vida é boa!

Fábio Campos Coelho 17.02.12