sexta-feira, 28 de novembro de 2008


Com certeza, há sempre mais alguma coisa que sempre esteve na sua frente, mas que você não vê. E olha: ninguém nunca falou que o fato de você não ter visto é pecado. É que se acostuma muito em se confortar. O conforto é bom, mas é inútil à evolução: não é isso o que todos os sábios já falaram? E sempre falarão. Você tenta fazer alguma coisa diferente em uma sexta-feira à noite, só para sair da rotina do conforto. Acontece com todo mundo que se cansa de ficar parado. Faz-se isso para descobrir alguma coisa em algum livro de ciência ou até uma lição escrita em um poema. Mas isso não é nada. É da simplicidade desse texto, qualquer reflexão de um mortal. É incrível como o tempo passa rápido. Ou é a gente que vacila demais. Mas ninguém vacila; a melhor qualidade é ser egoísta.

Fábio Campos Coelho (27.11.08)

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Ouvindo Gal


Você vai pro bar, bebe cerveja, conversa como jovem
Admira o agito que existe ainda entre nós
E esquece de ter saudade de alguém.

Mas a noite, você ouve Gal Costa.
Chora, chora, gosta, não gosta,
Gosta sim de sentir saudade.

Lembra de quem te fez diferente
Agradece a Deus por ela existir
Já cansou de sair e procurar alguém
Que substitua a querida.

Todo dia, eu sei, que você tenta
Ser alegre com outra pessoa
Mas a tentativa não ressoa
Porque toda pessoa é singular.

Cadê o pessoal
Depois do agito do bar?
Tira a música da Gal
Porque eu não quero mais chorar.

Fábio Coelho (19.11.08)

domingo, 16 de novembro de 2008

Capital Federal

A rotina, a nossa rotina, sua, dela e minha
Mesmo com vida fina merece ser reclamada.
Por que, você me pergunta. Eu não digo nada.
Eu só reparo em algo raro e outro algo fica pra trás.

Volto da festa de arquitetura, vou abrir a porta
A chave emperra na fechadura
E o garoto da república reclama com cara dura
Que horas eu vou chamar o chaveiro.

Espera aí, espera aí. Deixa eu só tomar minha vitamina
Que meu pai com mania de heroína me fala que
Herba life é muito bom. Herba life é muito bom!

Tomo, tomo, tomo com banana, sem tempero.
Não precisa de tempero. Vou pra universidade
Quando me vem uma força com vontade no intestino.
O que é isso menino, que desespero!

Você é mineiro? Não, eu sou goiano.
Eu falo um minuto com candango
Eles percebem o sotaque meio estranho.

Me perguntam se eu sou mineiro
Escutar isso o dia inteiro
Enxe o saco do goiano.

Quando eu vim pra cá meu avô me disse
Um ditado muito sábio:
Olhe, Fábio, cuidado meu netinho,
Sei que você é pentelho.

Mas vou lhe falar como já dizia seu bisavô,
O vô Coelho: "Boi em pasto novo berra como vaca!"
Eu já sei vovô, eu não sou babaca!

A população da capital é até muito legal
Só não gostei daquele povo que reprime
Que considera quase um crime o sotaque
Que tem “r” puxado.
Eu digo, porta, porteira, portão
Mas eu nunca fui ladrão, amiguinho de deputado.

Não liga não, é brincadeirinha
Sou amigo de flamengo,
Apesar de fluminense
Moço do pé rachado, irmão de brasilense.
Eu falo assim porque agora ‘tava’ no pôr do sol
E ‘tô’ um pouco embreagado.

Fábio Coelho (16 de novembro de 2008)

sábado, 8 de novembro de 2008

Não é do nada



Muito tempo eu quis fazer um texto que atravessasse o século
Mas como Dona Júlia do chapéu me disse um dia
Para conseguir fazer isso só com setenta anos pra cima.

Mas o tempo vazio, com muito espaço para o pensamento
Me fez descobrir que uma idéia boa nasce de um grilo
Com mosquito, a repetição da cuíca
Com seu barulho grave, esquisito
Não tem pré-requisito para falar.

É só parar, ficar em silêncio
Mas também pode ser no meio do bar.
Calma, calma! É normal assustar
Com alguém que tem inspiração
Sem precisar ver as ondas do mar.

Por que os homens da caverna
Eram menos tristes que nós?

Não precisamos ser legais toda hora.
A educação cai bem, eu sei.
Mas a perfeição ajuda
A quebrar a graça de pesquisar
A graça de uma personalidade.

Aquela indireta foi feia,
Você não mede a sua boca
Mas eu também não tive bom senso
E a noite me deliciei
Procurando alguma graça e achei
E antes de dormir eu falei
Que quem não briga
Só mergulha na própria intimidade

O que é felicidade?
Não precisa me entender.
Eu também me reprovo.
Por que não?

Por que não?

Fábio Campos Coelho (08.11.08)

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Sofreguidão


Recordemos a mais simples lição, aquela que se difere para cada particular, porém possui a todos os tempos:Em termos de tristeza, o cotidiano é normal, automática parte da vida. Não há por que recusá-lo ou abominá-lo. O problema é a constância da tristeza, que apaga a fé.Porque cotidiano a tristeza se acostuma ser, já o costume é a certeza da constância de todo cotidiano.


Fábio Campos Coelho (13.07.08)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

5 de Novembro


Eu pensava que máscara não era produto de pecado,

proteção degenerativa.

É que o costume de viver com elogios

por todo lado acostuma a não se

aceitar os defeitos naturais.


Ser ridículo às vezes é necessidade

de mostrar que a perfeição

é toda perfurada pelo fato

de nós não sermos tão normais.


A timidez era arma para não

falar de simples modo.

Foi quando eu conheci

uma pessoa que ao invés de

falar bonito, prefere falar

com cunhos originais.


Ela sem querer envergonha

os modelos de beleza que têm

a frieza de conviver com as

coisas não profissionais.


Fábio Campos Coelho (03.11.08)

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Caindo a ficha


Um.pouco.antes.do.sono
Antes.do.ensaio.da.morte.
Vem.a.gaivota.da.realidade.
Me.grita.com.vontade
Vontade.de.desabafar.

E.diz.que.não.é.mais.tempo
De.se.acreditar.em.tempo
E.me.faz.uma.difícil.pergunta
Por.que.essa.gente.adulta
Tem.tanto.medo.de.arriscar.

Essa.gaivota.conta.tudo
O.doloroso.conteúdo
E.que.o.tal.cotidiano
Precisando.atrair.ser.humano
Não.conta.o.segredo
Porque.tem.medo.de.se.acabar.

Me.pergunta.se.eu.tenho.antena
Justificando.que.tem.pena
De.quem.acha.que.viver.calado
É.normal.Por.que.Não.é.
Porque.não.é.

E.no.final.dessa.conversa
Ela.me.diz.sem.muita.pressa
Que.silencio.é.perigo
Em.forma.de.piada.
Piada.que.não.é.Que.não.é.


Fábio.Campos.Coelho.(07.10.08)