sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

Construção da Poesia


Uma coisa simples que parece ser complexa é a poesia. O resultado disso é a beleza e elegância. A poesia é sempre assim, coisa surrealista, encantadora, que faz lembrar os pólos positivos da pilha da vida. A bateria nesse caso são os fatos. Acontecem pra gente então pensar e sentir alguma coisa sobre eles.
Aí então aparece a revolta, que é o lado negativo, mas que equilibra o funcionamento de tudo. Na verdade, a revolta é uma salvação para o poeta, pois é ela que rebenta todo aquele limite que nós temos, aquele instinto de civilização, que, se repete sem se alternar, explode alguma hora.
A poesia é uma vitamina, o cotidiano é o liquidificador e as frutas é a paixão. São elas que dão a força pra vitamina ter aquele gosto gostoso de saúde, de beijo na boca, de amilase. Aliás, a amilase digere a poesia em energia, do tipo que vem nos visitar somente quando tem muito jovem por perto, quando há vigor misturado com tesão.
O cotidiano é o que faz a poesia, ocorrendo, ocorrendo, até chegarem os fatos e o conflitos. Esses últimos chegam pelo fio da tomada, que está ligada a pilha. A esse momento a vitamina está prestes a ser pronta, até que saem da tomada os impulsos elétricos, a vontade e o dom e fazem dessa vida de novela uma linda poesia.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Diálogo incerto




Olhando o filtro dos sonhos de barbante colorido feito pra pintar camisas eu continuo olhando e pensando no limite de pensamento dos outros.
Será que a coincidência é exata ou tão aberta assim, inconscientemente, como se não soubesse da sua existência? A coincidência é linda. Faz a gente rir sobre muitos casamentos, namoros e outras coisas amistosas.


__ A atitude está na coragem de falar tudo aquilo de que a criatura amada possa rir ou não aceitar, meu amigo João.

__ Talvez umas palavras bem medidas mudem o futuro, somente pelo fato de terem sido expressas com sinceridade. Imagine só conquistar alguém assim, de um jeito que se acha pouco provável.

__ Mas aí é coincidência?

__ Não, é um fato exato, José.

__ Uai, mas a coincidência não pode ser exata também? Ou a própria exatidão poder ter dois significados? Você me deixa confuso, mais do que a vida já me deixa, João.

__ Não, José essa confusão não adianta, nem importa. A conclusão desejada por mim é que a coincidência realmente depende da conduta e vontade de cada um de nós.

__ Como assim, João?

__ É o tal do velho clichê: O futuro quem faz somos nós. E isso nunca foi ridículo, embora sempre pareceu.

__ Deeer...Você é totalmente louco, João! Mas então a loucura pode ser fruto de inteligência excessiva, né?

__ Não, inteligência mexe com lógica. Já a loucura só brinca com a lógica, o que não passa de uma brincadeira inteligente.

__ É verdade João. Você é bem inteligente. Descobriu tudo!

__ Mas vem cá José, como nós chegamos a esse assunto mesmo?

__ A gente não chegou, João. A gente não existe.

__ Mas como, se eu converso com você agora?

José se cala e o escritor vai dormir.


Fábio Coelho (23.11.07)

para Machado de Assis


Eu sinto os cabelos de dentro do couro cabeludo. A visão, daqui, é insuficiente para vê-los, mas a experiência e até os livros que eu leio, como se fossem tato, me avisam: “Você está se estabilizando!”. Aí a afobação e os tiques de dedos para provar vitória são extirpados, mas daqui a pouco voltam. Por que será? Perguntar por que razão é uma coisa boba; não queira saber tudo, não compensa. Ser discreto é uma coisa, sacanear se calando é outra, e mais bobo ainda é quem se concentra na derrota do outro em usar o silêncio como vitória mal acabada, uma vez que a conquista exige atos que gerem emoção, muita emoção. Muitas vezes o jogo não foi injusto, porém, se o que vale é o prêmio e a medalha, ser cruel lucra mais. Difícil é ser feliz usando somente a bondade, o riso cordial e a gentileza. Para reter paixão e desejo do outro se deve, quase sempre, ser estúpido, senão o valor, mesmo existindo, se perde aos olhos do outro. O problema é que no jogo da vida não existe regra, quem for mais esperto ganha. E como todo esperto não vacila, ele se garante primeiro para que o adversário-alvo se renda. E se este pedir pinico o esperto nem pensa pra dizer: Próximo pato apaixonado!


Fábio Coelho
(22.12.07)

05:34 da madrugada

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008


Credo, mãe. Quando eu penso que sou incapaz de me surpreender eu acordo com vontade de escrever. Olha isso, que bom; eu me surpreendi. Com a percepção de que sempre tenho alguma coisa em mente o meu ego infla, e não me diga que isso é ruim, porque ter orgulho de si mesmo não é vaidade, é uma certa conseqüência da reflexão dos próprios atos, da própria conduta. E quando a nossa conduta está boa, satisfatória, por que negar isso? Por que se abster da alegria de ver que se é uma boa pessoa? O problema do ser humano é que a cada hora ele tenta achar um defeito nele para ter algum problema pra pensar, invés de ver que tem virtudes também. Que bobeira é essa? Mas existe o outro lado, um lado um pouco mais desagradável, porém indispensável de se pensar. É o lado real, quando chega a hora de ver os defeitos, as coisas que fazemos mas que não conseguimos entender. Quanto mais o tempo passa mais temos senso crítico, isso é questão de raciocínio. E essa obrigação de ser mais certo pelo fato de a idade sempre aumentar cobra muito e exige por opção ou não arrependimento de ser bem menos do que se pode ser. Talvez tal arrependimento seja exagerado, mas é que a gente cresce e quer sempre melhorar algo. Se você arrepende-se não fique tão triste, que sua tristeza de ter errado é menor que a alegria de assumir que errou. Chorar por arrepender não é pecado, é virtude vinda por você mesmo, e não por alguém alheio da sua consciência. Você está no caminho certo.
Fábio Coelho (11/02/08)

Ela anda sem saber, calada, exata e cínica sem saber por quê.Ela não tem culpa de existir. A culpa é do tesão, que gera duas obrigações a um ser que não poderia ter existido, ou será que não vale teimar com o mundo? A primeira obrigação é dolorosa, com direito a dor e fotos, a segunda é ela própria, triste, causando medo na felicidade e prova da negação da volta. Por que será que todo mundo tem que nascer e morrer sem querer, em todos os sentidos gramaticais? Gerou ambigüidade? Pra mim sempre gerou. O mal e o bem, o certo e o errado, o beijo e o fora. Será que não existe mais alguma saída além de duas? Ninguém sabe e nunca vai saber, porque eu nunca vi o morto sentir. Talvez seja essa a resposta: então não existe número algum.
Fábio Coelho (Novembro de 2007)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008


Adoro esse movimento de uma direção e dois sentidos. O começo já é lindo, pois sabe-se que o final é bom, prazeroso, que já se repetiu milhares de vezes mas que sempre terá o mesmo gosto; um gosto de realidade, de fraqueza depois de muito suor, uma fraqueza inevitável onde fez-se o melhor possível, um gosto de origem da vida, porque é assim que todo mundo nasce. Sabe-se que o começo é bom, o meio também, que atua na mais rápida velocidade e a reduz quando chega o aviso do fim. Tem-se que parar um pouco também, senão a diversão acaba logo, e é tão ruim o prazer rápido. A delícia existe, mas será que só há um jeito de senti-la? Ela é única para todos e cada um com seu jeito de apreciar. O melhor é quando o trabalho foi completo e já chegou no limite, o limite que impede, mas que compensa quando oferece o complexo ativado da reação. O melhor a gente sabe. Enfim, é o fim.

Fábio Coelho (10.02.08)

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Amigos? Amigos!


Aos Amigos!

Ter amigo é não ser só nesse mundo, cheio de falsidade e ressentimento. Poder confiar, contar um segredo, juntar a rodinha no recreio, dar uma risada, graças a Deus natural, e depois ficar calado, sem nenhuma obrigação idiota de prolongar o assunto para que o clima não fique sem graça. Jogar bola depois da aula, gritar com o cara porque a bola não saiu, mas não brigar por essas coisas, porque o futebol serve apenas para unir nós, meninos-macacos que suportam o calor infernal da sala de aula, olhando para as pernas lindas daquela menina, mas tendo que ficar sentado, calado e quieto, pois o professor ainda explica algo. O futebol nunca pega mal, mesmo que seja com um monte de homem nojento e suado chutando sua canela. Assim a gente tem o nosso próprio tempo, que é pra falar do churrasco de amanhã ou da menina ontem possuída. O jeito rude de tratar, sabendo que o gênero masculino é assim mesmo, sem muita simpatia e exagero como mulheres fazem. Tudo isso faz parte do universo do homem, que só sendo homem pra saber como é bom ter um amigo.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Segredo engraçado




Será que eu, deitado em meu indesejável e inevitável caixão, não poderei mais passear pelas festas de adolescente?

Será que a morte me levará pra outro lugar pior, melhor, ou mais estranho que esse, e que eu já tenha conhecido algum dia?

Será que minha vida sempre se repetirá independentemente da minha vontade, e então essa seqüência de vida seguida de morte seja infinita?

Será que sou apenas mais um resultado de puro prazer, onde a cápsula de um espermatozóide conseguiu perfurar a parede do óvulo distraído?

Será que se outro espermatozóide tivesse entrado no óvulo da minha mãe eu existiria?

Ou será que eu tinha que nascer mesmo e depois da primeira fecundação sempre estive esperando meu pai ter outra inspiração pra que eu entrasse em outro óvulo?

Será que uma fecundação diplóide depois que sai da barriga da mãe tem alma?

A mórula, a blástula, a gástrula e a nêurula me fazem pensar demais e duvidar se sou mais de um, ou apenas uma metade sem dor na hora da separação.

Será que os mortos têm retina e senso crítico para ver o que a gente faz quando ninguém está por perto?

Mistério , seja você mesmo, continue assim, pois a sua graça é o seu segredo engraçado, essa cara obscura com cara de fim.


Fábio Coelho 02/10/07

Metáfora



A vida é como uma orquestra, onde os músicos são as dificuldades e o maestro é cada um de nós. Essa orquestra, toda bela, sublime e bestificante nunca chega ao seu limite por uma única razão: o limite da evolução não existe. A gaita, a guitarra e o chocalho são apenas materiais que produzem a beleza da música, mas o que seria dela sem quem a toca? O ensaio de cada dia existe para isso, para o desenvolvimento e afinação da coordenação, que em tal metáfora é o que faz as pessoas trabalhadoras e do bem viver pra produzir virtude. O palco é o livre-arbítrio enquanto o camarote é prova de que nenhuma ação é em vão, mesmo que existe gratificação pra quem age. O problema do público é que ele bate muita palma, o que na prática nunca funciona, já que a consciência tem mais valor que o parâmetro normal do que é vitória. Sendo assim, todo maestro é aluno do espetáculo como todo ser humano é da vida, porque nascemos ignorantes e morremos mais ainda.


Fábio Coelho

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Para Luna, a sonhadora

Sabe quando você sonha que algum amigo seu está morrendo e de repente acorda?
E então você vive um pouco, por um instante, a realidade de que aquilo a algum momento pode acontecer? A verdade é que a gente vive dando bobeira, quando não liga para alguém que seja sumido, e liga sem qualquer motivo mesmo, sem a vergonha de estar ligando sem motivo algum. A verdade é que não somos nem a metade do que poderíamos fazer. É que o quotidiano nos acostuma a só cumprimentar as pessoas, porque vemo-las todos os dias e então parece não existir a necessidade de contar algum segredo, alguma filosofia em forma de desabafo. A verdade é que não inventamos vitórias além das vitórias possíveis. A vida bem vivida é aquela que sabe que o espaço é grande demais para ela ser única. Que dó de quem só sonha; eles nunca saem dos sonhos e só acordam para a vida quando morrem. Aí não tem mais jeito. Agora é só na outra. Que outra?



Fábio Campos Coelho (04.12.07)

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Monólogo com minha morte


Morte, grande e respeitável morte, que não me deixa em paz ao saber que um dia te terei, ou tu que me terás, tanto faz. Quando penso na certeza de que ninguém tem chance de se eternizar, nada, nem mesmo a voz de Elis Regina me ilumina; e ainda bem que não, pois comparada a ti, morte, a luz não tem significado algum, só me ilude, e ninguém gosta de ser iludido, mesmo com conforto.
Deveria existir o direito de mudar a lei da vida, tirando-se a obrigação de morrer, porque ninguém merece saber que, o que quer que faça, todo mundo morre; não adianta!
Todo mundo morre, menos você né, morte? Até que você poderia ser um tipo de termo opcional. Aí nós optaríamos em te ter ou não. Os tristes poderiam optar em morrer, mas sobrou pra gente também? Vou te confessar, morte: às vezes eu preferiria nem nascer, que assim não saberia que um dia terei que morrer.
Mas me lembro de que se eu não nascesse não teria o prazer, o prazer de tudo, até de ficar conversando com você, mesmo que seja um monólogo. Talvez você foi inventada para valorizarmos mais a vida. Imagine se você não existisse, morte, esse mundo viraria uma bagunça, ninguém aproveitaria o dia, porque saberia que tem uma vida infinita pela frente.
Olhe só, morte! Você que nem tem culpa de existir agora é tão culpada de tanta tristeza por causa da sua existência, essa inevitável existência que não sabe fazer nada, senão fazer o outro deixar de existir.
Morrer: um verbo vulgar, mas também tão doloroso. Sim, é doloroso pensar que nada mais tem importância para quem está dentro da morte. Nessa ocasião nem mesmo a felicidade exige algum sentido, uma vez que nem o sentido e nem a felicidade existem quando se morre.
E quem sou eu para falar o que existe depois de você, morte? Sou mesmo um pobre vivido, mas pelo menos vivo, e por isso ouso tanto assim, porque sei que depois de morto não poderei mais falar nada. A vida é compensada quando nela há ousadia, e compensa mais ainda ousar se ela for realmente só uma.
Seria interessante se estivéssemos em um sonho, fora da vida, onde nada seria verdade, mas seria impossível, porque para sonharmos primeiro temos que nascer. É impossível: temos que vir para a vida.
Às vezes eu fico pensando que só por causa de você, morte, a filosofia, o esforço para passar no vestibular e um grande amor não passam de um vetor sem seta, que embora procure todos os caminhos, só acha um: você, morte.
Se não fosse tão pensativo, eu lhe perguntaria por que tive que nascer mesmo sem ter pedido. Perguntaria também porque existe tanta injustiça e outras coisas. Mas agora eu me canso de pensar; e mesmo cansado, sei que você, morte, não tem culpa de ser odiada, pois não passa de uma conseqüência. A conseqüência não tem culpa, tem causa. E a causa é a vida, que é culpa também.

Fábio Coelho [30/01/08]

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Não posso me ligar muito ao parâmetro de um profissional assíduo, esforçado, louco, direito de ser parabenizado ou vagabundo. O parâmetro é privado para cada um, e não um coletivismo. Eu mesmo tenho que saber quando estou vacilando ou não, já sei que o caminho mais difícil é o mais digno e disso tudo. Então vamos trabalhar, que o sacrifício vale à pena.