segunda-feira, 31 de março de 2008

Amigo


Amigo

Amigo foi feito para
Ser feliz, um bem feito
Que de tão perfeito é assim.

Pensamos que são pra sempre
E realmente alguns são sim
Mas se um dia não for mais
Ainda existirá uma surpresa no fim.

Amigo foi feito para brigar
Senão aquele teu defeito
Que tu deixas em teu oculto leito
Sem você ver, iria continuar.

Amigo foi feito para choro e grito
Quando tu brigas com alguém
E fala em algum amigo ouvido
Que o errado foste tu também.

E quando estás tu aos berros
Chorando por alguém que mal te quer
Algum sempre perfumado rapaz
Ou uma esnobadora mulher.

Estará aquele grande amigo
Que pronuncia o pronome contigo
Diz que o amor sempre abandona
E tanto faz se tu estás agora como pó.

Mas aquele companheiro que não te nega
Que é muito mais um amigo do que colega
Estará abraçado junto a ti mostrando
Que quem tem amigo nunca está só.

Fábio Campos Coelho (31.03.08)
14:20h

domingo, 30 de março de 2008

Tatuagem - chico buarque


A boca é o princípio de tudo. É o que desperta desejo e por isso agoniza quando a cobiça por ela não é transformada em consumação. A boca é realidade, é carne e constrói livros e vidas quando pratica o ofício inventado pela necessidade do homem: o beijo. A boca é exata e ambígua ao mesmo tempo: não sabe se morde com o lábio de cima ou se esfrega com o de baixo, para ver se o carinho também gera tesão. A boca meio aberta, mas mesmo assim em silêncio, que é pra concentrar-se na beleza, o escarlate, a cor cujo raio incidente é o que mais desvia quando chega à retina, e incha o cérebro que perde a razão e a agonia de pensar. A boca é na metáfora a eternidade, pois se baseia no mistério, como um teatro que ainda não se apresentou com as cortinas ainda tampando do olho da platéia a peça. E então, quando tal cortina se abre toda ficção inspirada na realidade se apresenta com seu instinto, o instinto da língua passando devagarzinho, em movimento circular, no sentido horário e depois anti-horário, incessantemente. A saliva alimenta em forma de prova da vida e atitude da esperança, através do tato que só a língua consegue fazer. E o olho? O olho nunca se abre; caso contrário toda viagem cessa, como se alguém do público jogasse um ovo no palco, impedindo a continuação do clímax do prazer.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Cursinho


Não confundo mais o verbo no subjuntivo
Quando ele se parece com imperativo.
Imperativo é o que o colégio faz com você
Porque o substantivo atual agora é vestibular.

Não confie na figura desenhada
A não ser que seja a respeitada UNB.
Confie mais na geometria analítica
Como falei de yo yo mi xoxô para você!

A virose é uma doença grave
Leishmaniose já é diferente.
Mas as duas embaraçam a cabeça da gente
Então pega a matéria da genética!

Você precisa ter mais ética.
Quem acorda tarde domingo
Desrespeita a obrigação de estudar.

Olha aquele garoto trancado
Eu sei que ele parece um retardado
Mas é certeza que ele vai passar.

A Ásia anda meio fedorenta
Tá rolando um cordão sanitário
Mas não vai falar muita gíria
Cuidado com esse vocabulário.

Não é implicação minha
Pode perguntar pra qualquer um
Que a segunda fase é exigente.

Escreva até a ultima linha
Mas não fale muita abobrinha
Que o corretor é inteligente.

Pare de enrolar, levanta dessa cama
Larga esse tédio, leia até bula de remédio.
Estuda história, estuda gramática.

Na faculdade tem muita menina
E quem faz medicina
Nunca mais vê matemática!

Fábio Campos Coelho (23.03.08)

quarta-feira, 26 de março de 2008

Madureza


A ilusão sempre esteve escondida com ajuda da alegria, porque quando se está alegre nenhuma preocupação é válida; válido mesmo, nesse momento, é a sensação de conforto, sem dúvidas. Essa ilusão um dia deixa de existir, e a chance disso acontecer é grande mesmo quando a velhice chega, que é uma época de surgimento de impotências e fraquezas. Ao ficar sempre mais velho, o ser humano vai perdendo o medo de pecar. Culpá-lo não é tão justo assim, pois isso acontece por causa da percepção de que não adianta achar bonito ser santo e que ter atitudes mais estratégicas é uma forma de defesa. O problema é quando essa defesa se torna ataque, ou espécie de ofensa, consumada pelo próprio costume de ter artimanhas para que os outros não vejam a pessoa mais experiente como um sujeito pobre de qualidades suficientes para ser respeitado. Mas então o pecado começa a existir demais, até o homem sentir vergonha de alguma ação eventual, ou até mesmo habitual. Mas o alívio disso tudo é saber que isso é normal, pois se não fosse, todo mundo seria vilão da própria inocência.

Fábio Coelho (26.03.08)

segunda-feira, 17 de março de 2008

Física


O amor é uma pilha.
Quando eu a amo
O meu pólo positivo atrai
O negativo dela,
Que não quer gerar energia.

A capacidade da sua gentileza,
Meu Deus, é quase nula.
Anulando assim a potência
do meu desejo de esperar alguma variação
ou alguma força que antes ela mostrava.

Eu até que tentava dar um impulso
Sem pressionar com energia sonora.
Mas não tinha quantidade
De movimento essa senhora.

E o que eu procuro agora
È a intensidade vigorosa
Que em todo momento, toda hora
A gente percebia continuar.

A diferença de potencial
Da minha verdade legal
Talvez a engane, coitada.
Eu não sei.

O ponto de encontro
Entre as nossas ondas,
Energias e união
Foi ficando com a freqüência
Cada vez menor, cada vez menor.

E quando eu passo pelos caminhos
Em paralelo dos seus erros,
Que por sua vez são normais,
Ela aumenta sua tensão.

Até chegar num momento
Em que a minha resistência
Não tem mais esperança.
E inevitavelmente desiste,
Se tornando tênue, tênue.

Fábio Coelho (2006)

sábado, 15 de março de 2008

não me importa




Nada me importa
a personalidade torta
forçada pela necessidade
de mudar a aparência
ou a idade de um ser mais legal.




Não me importa o que eu penso
se eu estou mais tenso
por causa desse universo,
se converso pouco ou demais.

Não me importa
se é certo ou errado
se eu continuo parado
ou andando o tempo todo
procurando sem achar algo fixo.


Meu afixo é prefixo
e sufixo ao mesmo tempo,
porque tudo me importa:


A minha conduta
e a falta de multa
que não me reprime
quando nada me importa.




Fábio Campos Coelho { Janeiro/2008}

quinta-feira, 13 de março de 2008

Esfria a cabeça


Volto da escola insatisfeito,
Porque não sou perfeito.
Mas não ser perfeito
Nunca foi defeito.

Nem a princesa, nem o prefeito
São tão bem feitos.
Eles são como eu.

Mas será que até Galileu
Com tanta inteligência
Já teve a burra negligência
De ter medo do amor?

Um dia me disseram
Que aquele grande Nazista
Antes de se tornar artista.

Já teve medo de fantasma
Quando criança e teve asma
De tanto soluçar.

E o parente que tem moral
É sempre o dono das verdades
No churrasco fala das qualidades.

Mas esse parente tão sem erro
Não fala das manias e dos tiques
Dos escândalos e chiliques

Porque apanhava de menino
mais novo no colégio.
Mas ele nunca contou isso
Porque nunca foi privilégio.


E nessa verdade meio oculta
Vi que todo mundo um dia surta
Sendo o mal amado ou a querida.

Toda pessoa, criança ou adulta
Podendo não receber multa
Peca com a mesma medida.

Ninguém é escravo da tristeza
E a nossa natureza
É descobrir um pouco mais.

Se você é um pouco santo
Não fique muito no seu canto
Renda à sua vontade sincera
De fazer o que não se espera
Que não esquecerá jamais.

Escuta meu amigo
Esfria a cabeça
E se puder não esqueça

Que o delegado, a professora,
O faxineiro, escritora,
O doutor, o eletricista,
O médico, o jornalista,
O compadre, a comadre,
O pastor, o bispo, o padre.
Todos são iguais.
Todos são iguais.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Loucura


O estranho conceito de loucura
Às vezes alvo da tentativa de cura
É diferente para cada figura.

Enquanto alguém não sabe onde pendura
Esse caráter sem nenhuma estrutura
Outros fazem dela arquitetura
Para eliminar essa procura
Que se pesquisa em literatura.

Mas o que chamamos de loucura
Pode pertencer a quem tem ternura
Ou que use na tristeza a doçura
De ver nesse mundo uma mistura
Do antagonismo que não se segura.

E não adianta inventar censura
Porque a decepção é sempre mais dura
Que qualquer desculpa não pura.

E a solução continua sendo a loucura
Com pouco sentido, muita espessura
Ou que seja baseada em alguma cultura
Mesmo que seja um tipo de armadura.

Com esse mecanismo ninguém mais se fura
E leva a maldade carregando-a na cintura.


Fábio Coelho (12.03.08)

terça-feira, 11 de março de 2008

No escuro


Pra que isso? A felicidade mora aqui desde que há vontade de beijar. O momento é tão bom, e se eu deixasse de falar em outra coisa, que já se tornou alheia, não encaixaria nenhuma cena à época; o quebra-cabeça deve estar completo.
Adivinha do que estou falando? A rebeldia, apesar de causar medo em quem ainda é virgem, floresce a alegria acumulada nos cantos da escola por nunca ter assistido a uma aula de redação. Mas quem sabe tê-la é obrigado a ser ridículo para os ridículos e, como menos com menos dá mais, tudo está correto.
Uma infância, a pureza, a emoção de estourar balão no final de festa, a diarréia. A oitava série, a abertura mental junto ao riso, o vestibular como fermento inevitável: tudo isso é continuidade para que eu viva pelo menos mais uma noite.
A vida poderia ser um pouco mais longa, ou até mesmo a noite, mas a madrugada não existiria. E aí, você viu meus beijos andando por aí? Eu quero lembrar deles.
O carinho calmo, com a única e perfeita função de mostrar que ter tato é a reciprocidade contínua, contínua. Continua só mais um pouquinho. Não, eu tenho que acordar cedo amanhã. Então bota naquela música. Abre a boca! Abre as pernas! O começo da segunda vida. Eis o paraíso, o maior paraíso de Goiânia, com todos os degraus à sua disposição.

Fábio Campos Coelho (2007)

segunda-feira, 10 de março de 2008

Nada a vê


Nada a vê

Dormir à tarde é uma delícia
Mas depois de acordar e saber
Que não escrevi sobre o tombo do picolezeiro
E do olhar daquela menina eu fico triste.
Eu vou chorar.

O tempo e a vasilha suja e vazia
Todo dia me dizem que tudo
Pode ser repetido no papel e assim
Uma vida inteira vai mudar.

Uma menina inteligente viu um
Menino de rua num sol quente
Entregando panfleto com sofrimento.
E em um momento a menina
Resolveu fazer um teatro desse evento.

Adivinha o que virou?
Um poeta assistiu e apaixonou.

A vida sem graça vira engraçada
Quando a gente lava a vasilha
Com olhos de ver sorte.
Lava forte, lava forte,
com sabão ou detergente.

E quando você vê a empregada,
Quase uma indigente,
Acha que aquilo não é gente.
Mas quem lava a vasilha
É quem é inteligente.


Fábio Coelho (fevereiro de 2007)

domingo, 9 de março de 2008

Menino esperto


Não se esfole no chão de chorar, menino tolo.
Ou pode chorar, eu não sei por que você está assim.
Mas se for por causa daquela menina
Crie vergonha nessa cara, mas pode chorar.

Não adianta pensar porque ela fez isso
Que pra ela tanto faz. E você procurando o erro,
Olhando pra trás. Aprenda um mandamento,
no amor não existe julgamento
nem pena certa, meu rapaz.

Ontem te vi conversando com a parede.
Não sentia fome, não sentia sede.
Se agonizava, perguntando por que
sua história não é como você imaginava.
Mas eu entendo, você vai se acostumar.

Eu sei que ela vacilou, mas não vá julgar.
Que outro dia você é que erra e ela vai te atacar.
Mas pensa bem, nenhuma paixão é perfeita
Vamos logo e aceita, que perdoar não é pecar.

Acostuma com o sofrimento, não chora, não adianta
Aquela menina nunca foi santa, porque se fosse
Você não estaria indignado com tanta malícia.

E depois não grite, não bata não dê lição de vida.
Você é quem tá devendo, eu estou vendo,
Você está achando esse choro uma delícia.


Fábio Coelho (09/03/08)

sábado, 8 de março de 2008

Qualquer figura geométrica


Olha, minha família, olhe meu grande amigo.
Minha vida acaba aqui, eu já estou indo.
A vida é uma só e agora não existe mais.
Eu fui feliz demais, mas o conforto não valeu a pena

Olha, minha gente,
Eu presenciei muitos sorrisos,
Já fiz brigas e amores infinitos.
Agora o que me visita é aquele fim.

Eu fico vendo aqui
Tudo que sobrou pra mim,
Meu colar, minha carteira, uma foto sua
E as minhas lembranças.

Mas agora não dá mais amor, esse tal de
oxigênio já me gastou demais.
Me sinto só, um nada, um bocó
Que só bebeu de madrugada.
Será que isso compensou?

Músicas conheço todas, mulheres também.
E tinha hora em que a felicidade era tanta
Que achava que aquilo não era realidade,
Mas é sim, e eu estou diante dela.

Envergonhado, decepcionado, lamentado, superado
E calado por não ter falado o que deveria ter falado.
Agora me escute, vamos conversar, meu filho.
Qual é sua origem? De onde veio?
Será que tudo isso é verdade?

Quem sabe? Isso você só verá depois do sono profundo.
Mas se o mundo é tão mal, por que razão basta
Eu existir pra sentir isso tudo?
Que pesadelo que eu tive, que sonho professor.

Bom dia.

sexta-feira, 7 de março de 2008

Preocupação de todo escritor



Chegou a hora! Quando tudo está pronto para eu escrever acontece-me uma responsabilidade sem porquê de falar coisas interessantes, que realmente mecham com a cabeça de quem está lendo. Sei lá; deve acontecer isso porque eu já escrevi certas idéias significativas e então vem em mim uma idéia de que eu tenho que continuar a escrever algo útil para a alma do leitor, além do mais, é muito bom fazer alguém pensar, ou tornar alguém menos vulgar através da linguagem. Talvez, com quase toda certeza, isso seja o meu próprio limite que limita o meu colapso, a minha decadência, ré, desando, atraso quanto à escrita, ou seja, essa cobrança de sempre criar algo seja totalmente benéfico, como se eu fosse meu próprio professor, dizendo-me para que nunca pare na pista, segundo Raulzito. Seja após um dia inteiro de trabalho, ou de viagem, ou de natação; mas não: eu tenho a necessidade boba e salvadora de escrever qualquer coisa, tendo algum conteúdo divertido ou filosófico está tudo bem. Foi usado por mim o adjetivo “salvadora” porque o que eu escrevo efetivamente me salva da falta de motivação, de auto-estima, me salva da punição que eu coloco em mim mesmo. Na hora do desânimo é um prazer saber que se tem ou fez pelo menos alguma coisa boa pra alguém. Os pensamentos negativos fogem na hora, por causa da energia positiva gerada pela certeza de que nunca se é o pior do mundo e sempre se tem mais algo a fazer. E assim, achando que também nunca serei o melhor, vou evoluindo com minha própria palavra, que, se infelizmente não tiver sentido pra alguém, ao menos tem pra mim. Já ficaste feliz por estar satisfeito contigo mesmo, grande amigo? Pois então, é o que acontece comigo nesse caso: a única sensação de que, através de alguma conduta menos fútil possível, sou um pouco mais que alguém.


Fábio Coelho (24.01.08)

quinta-feira, 6 de março de 2008

A GEOGRAFIA DA VIDA




Cada um com sua história, com a sua fragilidade, com sua burrice de pensar que só si sofre nesse mundo. Talvez a verdade seja aquela mesmo, parecida com aula de geografia, onde o que você sente diante do mundo é equivalente a uma pessoa diante da civilização globalizada, ou seja, nada. Essa é a maior dor, a consciência de que se é pequeno, a solidão introspectiva desgraçada, que todo mundo tem vergonha de mostrar, mas que todo mundo tem, até o maior garanhão da urbanização. Com o tempo os trabalhadores, acostumados com o setor terciário, vão percebendo que muitos produtos baratos e quaisquer lucram menos do que um só, caro, muito caro, feito com cuidado e carinho. Essa é a verdade dolorida do garanhão, ou de qualquer cantor famoso, talvez a verdade mais dolorosa, mas que pelo menos mostra algumas outras verdades essenciais. Imagine um artista ilustre, depois do show, pedir aos seguranças para que escolham as mais lindas fãs e então, no camarim, transar com elas. Mas depois, num dia sem show, num domingo qualquer, todos os namorados estão namorando na praça e o homem da fama, adorado por milhares de pessoas, lá, sentado no sofá, sozinho, somente com o sofá, o controle remoto e a televisão ligada. Quem não acredita em reencarnação e então pensa que a vida é só essa deve pensar também que sempre é bom ter uma pessoa, uma única pessoa com quem se pode conversar, conversar sobre tudo, sobre o que os adolescentes acham feio, mas riem pra disfarçar. Nunca faz mal ter alguém que fale quais são seus defeitos, porque assim a gente evolui, já que sempre podemos evoluir, embora pensemos que existe limite para nossa evolução. Não há desperdiço em ter alguém em cujo ombro se possa chorar sem saber o porquê e sem nenhuma preocupação, pois essa outra pessoa um outro dia também vai chorar pela mesma razão pela qual todos choram: a pobreza de ser só. E assim essa mesma pessoa vai mais além da boate e da beleza, até demonstrar que ninguém nasce pra viver sozinho. A partir disso a gente vai tentando entender como funciona um sistema que é mais importante do que o sistema capitalista, o socialista, ou comunista. É o sistema emocional de cada pessoa, envolvido com desejos e mais desejos. É aquele sistema que de vez em quando emerge em forma daquele famoso “sentido da vida”, que todos procuramos, mas nunca achamos por inteiro, pelo fato de sempre querermos mais e mais, pois vivemos tanto ele, que o seu preço se torna preço de camelô, já que a oferta é enorme.


Fábio Coelho (07.12.07)

quarta-feira, 5 de março de 2008

Os pés da moça da cantina


A sandália aposenta sua única função de calçá-los. O objeto aqui referido é sempre em pares, que é para dar noção de atração. Os dois pés juntos oferecem ousadia e imaginação extra para todo homem que sabe aprecia-los. Apreciar o pé é ter prazer escolhido pela opção livre e espontânea de ter prazer no que quiser.
O pé da mulher, pequeno e delicado, mostra em tal pequenez e delicadeza a contradição que nela existe entre a ausência de força e a presença cruel da sedução. As unhas pintadas, de preferência de vermelho, traduzem o gosto inconsciente da paixão e avisam ao gênero masculino que, apesar de timidez significar solidez de personalidade, é urgentemente necessário ousar, pois o escarlate também significa morte e além disso a ousadia nunca teve nada a perder.
Os cinco dedos, um coçando o outro, pedem socorro a quem pode beijá-los, mas que só fica sonhando e o que adianta sonhar se o sonho não chega à realidade?
O pé, apesar de ser o membro mais distante da cabeça, á a parte mais inteligente de toda moça, pois é enfeite, e o enfeite é inocência, e a inocência é a mais nobre estratégia de provar ao homem que o valor do feminismo existe para encaixar com o prazer de quem sabe observá-lo, lembrando que observar ,de vez em quando, significa apreciar.

Fábio Coelho [04.03.08]