domingo, 30 de agosto de 2009

Deus Barroco


Força superior
Sempre superior.
Ele é um velhinho (velhinho)
que sempre existiu.
Sempre superior, sempre existiu.
É desse jeito mesmo!


Ou que velhinho o quê?
Ele não é bem, nem mal,
isso não existe!
Ele é, apenas é
para aquele que acreditava somente ser,
mesmo sendo assassinado.
Nosso John era um cara legal, Ah Ah Ah!


O nosso Pai
não o biológico,
o com p maiúsculo mesmo,
o nosso Pai, Deus Todo Poderoso
exige obrigação de crença
pois é afronta não crer,
isso não existe!

Ninguém deseja o inferno
e o homem depende disso,
dessa segurança de se salvar
para não ir ao lugar
onde tem um homem mal
que é sujeito bem matreiro
mas não consegue atingir
quem não quer que lhe atinja.
Deus Salvador é nosso Senhor!


A minha mãe fez fiu fiu
quando meu pai andava de bicicleta na esquina.
Se não fosse aquela esquina
eu não estaria aqui, é lógico!
Não é lógico!
Eu estaria sim:
a minha existência é inevitável
seu burro, seu burro!
Seu burro?


Por que, eu fico pensando,
estou falando tudo isso?
Toda vez que meu cachorro foge de casa
eu logo faço o nome do pai,
ajoelho e peço a Ele com sinceridade e dedicação
e sempre no final o Duda aparece.


O porteiro fala que reza para Deus proteger o filho dele
que está com câncer e tem poucas chances agora.
Mas é assim, ele vai falar mais
pra quem?
pra quem??
pra quem???


Mas nao vai dar em nada essa conversa,
a comunicação parece estar dispersa,
eu só sei de uma coisa:
Seja ele o que for!
Força da natureza,
uma luz lá no fundo,
o dono do mundo
o medo de cada um,
aquele que tem milhares de orelhas
para ouvir os pedreiros, presidiários e presidente.


Quando eu for bem velhinho
ou meio moço, ainda, talvez!
Sei lá! É Ele que sabe a minha hora...
Eu vou pedir ao meu Deus,
concebido do modo intrínseco meu de conceber,
que Ele salve a minha alma,
pois a minha alma não pode sofrer:
Eu nunca matei ninguém
para sofrer depois de morto!


Deus existe!
E eu vou rever a minha vó, lá no céu.

Fábio Binho (08/09/09)

Do Goiano ao Mineiro


Desde muito sempre

quando nem me dava por gente

tentaram me ensinaram a rimar

mas eu não conseguia,

a professora debochava e ria

e o que apenas dizia:

Tente!



Era tão difícil, puro sacrifício.

O vocabulário indigno, vergonhoso

não me sugeria nada,

metrificação desorientada,

Parnasianismo seria uma latada.

Cadê o gozo?



Mas fui crescendo, lendo e lendo,

estratégia de garoto sagaz.

Dicionário muito usado, fato estupendo,

deixei a ignorância pra trás.



Cultivava Bilac e a sua rigidez,

fazia agora requinte, redondilha maior

Tudo metrificado, e no dia seguinte

gostava de ver que ali tinha suor.



Mas um dia a minha empregada me salvou

Me salvou sabe de quê? Da perfeição:

Binho, vai procurar a ração!

Acho que está na instante do quartinho

Mas por favor, procura com carinho

e dedicação.



Fuçei, fuçei, fucei

Olhava de parte em parte,

mas infelizmente não achei.



Só que lá no fundo, lá no fundo

tinha um livro desses

sujos de poeira e soltos pelo mundo.



Um livro de poesias de um tal mineiro,

um cara magro, de óculos,

com a cara concentrada não sei em quê!



Sentei no banquinho da dispensa

e li uma, duas...

Na terceira poesia percebi

que ele não tinha o requisito

que a minha professora achava

que todo poeta tinha de ter.



O mineiro não rimava,

ele não tinha requisito...

mas mandava bem a mensagem.

Muito esquisito, tinha algo de errado!



Alguma coisa me dizia:

Amigo, sai dessa de rima,

dê a volta por cima.

Você tem que se ligar é no recado!



De tanto me ligar da moral das mensagens

Eu fiz uma, mas fiz direito:

Não Tome como parâmetro de competência

A profissão de um sujeito.

Assim também é com a estética:

O que muda o recado

se é professora ou doméstica?



Se não houver mais perfeição aqui

não venha falar comigo.

Vá brigar com aquele cara

que nem sabe, mas é meu amigo,

o cúmulo da espontaneidade,

sujeito mineiro de Itabira

que surpreendeu o goiano caipira:

Carlos Drummond de Andrade.



Fábio Coelho (29.07.09)





sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O menino George




O pé sujo e cortado já anuncia
a convivência com os ocupados
no sinal vermelho.
E vai ser assim sempre,
o pescoço de Deus não é como o da coruja;
se ele vira para um lado só, não é displicência,
existem Jujuba e bolinha de tênis
pra fazer malabares.

Meu Deus, que menina linda,
Olha esse olho, olha esse cabelo,
essa sandália, as unhas bem feitas
mas eu não vou falar com ela,
o asco nunca combinou com libido.

George sabe que nunca vai conseguir essas meninas
que estão felizes porque vão viajar à praia.
Acabou o ano, já é final de semestre.
O amigo dele fala que é impossível,
mesmo com um buquê de flores.
Não tem cabimento, ela mora em apartamento
e você na faixa de pedestre.

O pai já se foi
Roubou duas caixas de leite
O policial gritou: Ponha a mão na cabeça e deite!
Ele não quis ouvir e, dizendo George,
foi assim que seu pai foi para o céu,
mas para um homem que passava de terno
não foi pro céu coisa nenhuma,
ele foi para o inferno.

O menino não tem mãe,
mas graças a Deus tem tia,
ou melhor, no plural:
George tem milhares de tias.

Tias que ele conhece diariamente
que chegam e vão embora rápido
sem deixar recados para onde vão
e somem no sol quente.

Ele tem tias, mas não é sobrinho.
A reciprocidade não existe, não há interesse.
No contato do ar condicionado
as tias olham George, mas olham rapidinho,
por que, pra elas, ele é gente?

Mas não falemos mal das tias, por favor!
O mundo anda tão violento
Esses meninos são perigosos,.
Fecha o vidro! Eles chegam, levam a nossa bolsa
e fogem como vento!

Uns vêm vendendo chiclete,
mas não se pode confiar, filho!
Minha amiga leu no jornal e me disse
que não é mais tempo de tolice
Eles abordam agora é com gilete.

E depois o pessoal vem falar
que o povo tem preconceito e tudo mais,
que a humanidade é ímpia
e só olham para o próprio umbigo.

George conheceu um menino legal
que lhe olhou com um jeito tranqüilo, sem medo
um cara sem maus olhos, caráter diferente.
E houve uma conversa envolvente
George foi chamado de garoto inteligente
E nasceu dali uma brilhante amizade.

Mas que amizade passageira!
O menino refletiu: será que é bom
dar moral pra esse maltrapilho?
Se eu chegar com George lá em casa
A minha mãe vai arregalar os olhos e dizer:
O que é isso? Ficou maluco, filho?

Fábio Campos Coelho (10/08/09)