sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Sepultura de um Feliz


Amigo, ele morreu!
Quem?
O macaco.
Eu imagino isso acontecendo a algum momento,
Não tem nada a ver com predileção
essa circunstância
E agora, o que adianta falar correto, só porque
está se fazendo uma poesia?

Vocês entendem?

Na verdade, quer saber?
Todo mundo pensa nisso,
Isso não é pecaminoso. É, foi e será catarse:
A catarse do orgulho, sabe?
Do ego se inflando,
Pois o indivíduo gosta de si também.
Gostar de si é coisa diferente,
Porque si é...
Si é...

Si é você,
mas saindo da lógica,
eu sei que todo mundo sabe
que si é você!
Não é coisa de otário, meu irmão!
Fugindo da lógica, querendo suprimi-la,
Olha o tanto que Você é especial
Não você, ouvinte
Eu estou falando é da palavra “você”!
Olha como ela é forte!
Em qual sentido?
Não há resposta:
Diferente pra cada um.

Mas então, se tu és gajo mesmo
Vamos voltar ao assunto inicial, vamos...
Faça concatenação entre o ato
De querer ver-se morto
E os amigos lastimando a ausência
Definitiva, cruel,
inaceitável, inevitável e no final,
Inexorável da tua presença pândega
Entre eles.

Amigos, um rabicho eterno,
A segurança de não ser sozinho.
Mas eu pensei naquilo,
Naquela coisa que no fundo
Ninguém quer experimentar,
Mesmo morto não sentindo.

Eu pensei naquilo só pra ter certeza
De que os meus pais indiretamente foram úteis
Para um espaço, embora abstraído,
Em cada pessoa,
Um espaço que compensa existir.
A gente arremata isso através do sorriso
E o sorriso é concreto.

Fábio Campos Coelho (08.10.09)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Esperando a aurora no dia das crianças


A juventude, não já fazendo uma limitação a ela,
com parâmetros de idade e a rotulação promíscua
do que seria um feitio de juventude,
pode ser o que quer com apenas um instrumento:
a aleatoriedade da forma de ser.

Os felizes não pensam no que vão fazer
na sexta-feira à noite
mas na madrugada eles honram a razão de existir
sem a pudicícia do riso frenético e constante.

Eles conversam confusos, como as cigarras,
que interrompem a exegese de cada minuto
que não é exegese coisa nenhuma
porque a explicação é anúncio de equidade.

E quando eles chegam em casa
as mães de cada um perguntam
se eles não vão dormir.
Você não está com sono, meu filho?

A resposta é sempre semelhante
em todas as ocasiões:
Para que dormir?
Todos justificam que antes de dormirem eternamente
antes de um sonho longo, sem fim,
o descanso sisudo, penitente e conspícuo,
a lenidade corporal definitiva,
a plenitude de neutralidade emotiva
Eu quero ver o sol nascer, mãe.

A consciência da decepção promovida
pelo sono intransigente com o feliz
promove o redentor descobrimento
da singularidade de sê-lo.

Fábio Campos Coelho (12.10.09)

sábado, 10 de outubro de 2009

Atenção para a reflexão de Felício


Hum... Bom saber disso. Bom mesmo!
Então quer dizer que é melhor sempre,
sempre, sempre fazer as coisas de que se gosta,
ficar feliz e depois...

E depois sou eu quem digo... E depois, Felício?
O que você vai fazer? A mesma coisa!
Felício vai ouvir o seu som predileto no máximo volume
e vai brincar com o jogo de sete erros.
Mas ele só acha seis.
Todos ele nunca conseguiu achar.

Mas agora venha cá, meu amigo.
Agora é assunto sério:
Você nunca pensou em sentir um pouco
um pouco aquilo por que você não tem simpatia,
algo que você não tem costume de fazer
pois a ledice não atrai?

É. A alternância de costumes é coisa tão furtiva,
que a gente morre sem saber que um intervalo neutro
do prazer é banho de cachoeira.
Até o professor, que é considerado
o maior possuidor de retidão
gosta de intervalo.

É saudável também os intervalos servidores de acicate:
Acicate para se parar de ter plenitude de júbilo
e lembrar do problema de ontem,
cuja relevância todos confessam ser maior que a satisfação.

A chave estava na portaria,
mas Felício queria muito comer a torta alemã,
e agora ele vai ter de voltar lá em baixo,
inevitavelmente.

Felício gostava do seu nome,
mas refletiu, durante um ínfimo ínterim,
o que foi suficiente para mudar de nome.
Porque Felício era apenas nome,
e não conceito.

sábado, 3 de outubro de 2009

Kilometrôs de Cansaço


Esse silêncio com a mão no queixo

e concentração na coisa mais profunda.

Não me pergunte em quê,

eu também estou na inhaca noturna das feiras.


Esse silêncio, enfim, com o olho fechado,

Mas fechado por poucos segundos.

Ele fecha e abre constantemente,

Conforme o barulho, que não é balbúrdia.

É só barulho, mesmo,

De sai e entra em cada parada.


É um silêncio que desperdiça a simpatia

E comentário do dia

E das coisas de amanhã

Que tem de se fazer,

Tem de se fazer,

Afinal é a dignidade que está em jogo,

e isso é tão sério quanto vigiar os filhos pequenos

que estão na piscina.


Todo mundo está cansado,

Mas ninguém disse que isso é ruim

Porque, na raiz da razão,

Não o é.


Esses corrimãos aéreos,

Quase no teto do metrô dizem:

_Pronto, eu estou aqui trabalhador.

Me segure, que eu te seguro,

Eu sei que você se extenuou muito durante o dia.


E no final todos os passageiros saem,

No escopo do jornal da meia-noite

E de dois travesseiros:

Um para colocar a cabeça

E o outro para abraçar:

Abraçar a satisfação o remanso,

cujo pivô é a consciência de que se move.


Fábio Campos Coelho (30.09.09)