sábado, 31 de maio de 2008

O poeta e o leitor


Se é poesia tem que ter forma
E outras rimas e orações subordinadas
Através da qual o poeta suborna
Quem tenta entender seu pensamento.

A poesia pode ter brinco, colar e tatuagem.
Mas não é bom esnobar aquelas simples.
Cada um valoriza a preferida, depende do leitor.
Só que o valor que importa é do próprio escritor.

Se é poesia tem que haver lágrima
E se não houver tem que ter mistério
Quando a liberdade resolveu ser à vontade
O leitor tenta padronizar aquilo que
Nasceu para não ser sério.

Enquanto o leitor lê certa poesia
Tentando ver nela algo de alegria
O poeta ri do moço tolo, com ironia.
Ele só queria falar do simples dia-a-dia.

Portanto, desconhecido, mas querido leitor.
Não tente traduzir o pensamento do poeta.
Não é querendo privacidade, nem sendo egoísta.
A verdade não é coletiva, é individualista.
Além disso, poesia nunca foi idéia iluminista.


Fábio Campos Coelho (19/03/08)

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Carinho


O carinho é, antes de mais nada, aquecimento para continuar a vida, embora toda continuação já tenha muitos aquecimentos. O atrito leve e o mais lento possível precede o sono, e como todo sono precede o sonho, não há por que rejeitá-lo, uma vez que o ser humano realmente é grande sonhador. A perfeição agora existe, quando os cinco dedos entrelaçam com os outros que não sejam os da mesma pessoa, porque o número par é bem mais simpático que o ímpar. O ápice do carinho, quando não é toda sua duração, é a concentração enfocada exclusivamente no arrepio que o tato gera. O carinho, quando se tem mais madureza, satisfaz mais que o próprio sexo, pois esse é resultado sintético de prazer momentâneo e irracional, enquanto aquele é resultado de longa convivência. Sexo é síntese, carinho é decomposição.
Fábio Campos Coelho (30.05.08)

quinta-feira, 29 de maio de 2008

A todos os vestibulandos


Eu me lembro bem, desde quando meu irmão era vestibulando eu ouvia algumas expressões: “Vai estudar, meu filho, assim você não passa!”, ou “Espera, mãe, já estudei muito hoje...”. Na época eu nem dava muita importância a isso, mas agora, vestibular virou o enredo do meu romance, que é minha vida atual, mas não tão romântica assim, meus colegas de sala confirmam.
A quadra do meu colégio, toda limpinha, vazia, fica lá, parada, como se me chamasse para eu ir lá, chamar meus amigos e jogar aquela pelada, tanto adorada por nós, garotos. É essa a hora mais difícil, de pura tentação, que é quando depois de seis aulas de manhã e cinco a tarde eu devo pensar que tenho de estudar, senão eu não passo. Mas isso já resolvi, quando acaba a aula eu saio pelo outro portão, assim não vejo a quadra lá e o povo conversando, batendo aquele papinho demorado, com cara de falta de tarefa.
Faça uma experiência: junte todas as listas de exercícios que você já recebeu esse ano e analise. O bolo de papel é grande? Grande mesmo é a descrença que eu tenho, e sei que não deveria ter, quando vejo as listas de matemática ou física, e logo penso: “Meu Deus, em que usarei isso no meu curso?”, “Pra que eu estou vendo isso?”, talvez você já tenha pensado isso também, caso seu curso for um de humanas. Acontece o mesmo com a galera da grandiosa, temida e cobiçada medicina, mas no caso deles é: “O que eu quero com movimento literário?”.
A coordenadora do meu colégio diz que não é culpa dela, o sistema que é assim; e por acaso isso é mentira? Eu não sei quem é que sofre mais, se é a gente com esse enorme compromisso, ou se é ela, que tem que convencer nossas cabeças de que não tem outra solução, senão estudar.
O pior mesmo é quando vai chegando o final de semana e tem alguma festa na sexta, e então vem aquela deliciosa lembrança do ano passado, quando sair sexta-feira não tinha tanto problema assim, porque não tinha aula sábado às manhãs. Agora é diferente, já que sábado tem aula de química, e experimente dormir na aula de química pra ver o que acontece...
A vida do vestibulando é como o café da manhã. O liquidificador é a nossa cabeça, a faca é a nota ruim do simulado e a vitamina é a aprovação, tão deliciosa, mas que nunca chega. Mas o que a gente pode fazer se não existe magia? Pra falar a verdade, melhor é assim mesmo, que agora não se tem tempo de inventar problemas que não existem.
Algumas horas são difíceis, quando tento, tento, tento entender alguma matéria, mas não consigo entendê-la de modo algum, e penso que ela talvez nem caia no vestibular, e então me pergunto por qual motivo estou estudando uma coisa daquele tipo. Isso já aconteceu com você também, vestibulando; acontece com todo mundo. Às vezes, quando olho aquele tanto de maratona (cujo nome foi perfeitamente empregado) espalhada pela mesa, eu confundo meu esforço com sofrimento, mas quando me vem à cabeça o meu nomezinho na lista de aprovados da segunda fase, todo esse esforço, que antes era tido como sofrimento, passa a ser uma esperança, diferente de todas que já senti.
Agora os dias passam mais rápido e mais lento, simultaneamente. Mais rápido porque as aulas estão acumuladas e não há mais muito tempo para estudar tudo, e mais lento porque a gente quer passar por isso logo e fazer nossos respectivos cursos. Que sejamos bem-vindos à reta final e que tenhamos muita calma ao fazer a prova.
Essa é a hora. E então? Vai ganhar horas de conforto, agora, para depois perder um belo passeio no Vaca Brava, ou vai perder algumas horas do seu futebolzinho para ganhar meia década de Federal? É preciso ser esperto, e sem essa de que você é burro e não consegue, porque burro mesmo é quem duvida da própria capacidade.


Fábio Coelho 26.10.07

quarta-feira, 28 de maio de 2008


A palavra que não fala nada, só quer falar. Pra quê querer ser o único? Se melhorasse a conduta qualquer coisa seria instável, seria estranho. A maldade contida no ser humano, até no que é mau sem querer, isso deve ser alvo de estudo. Mas o que é a emoção sem a maldade? Ninguém aqui falou de sadismo, falou de maldade. É totalmente natural. Um velho é como o universo, nós também. Por que não, nessa idade, viver a rapidez do coração? Ser único não é tentar ser único, é conversar com uma criança chata querendo absorver dela algo de aprendizagem, é ir contra a vontade pra ver se o mundo é um só, é chorar só pra experimentar como é não ser pobre.

terça-feira, 27 de maio de 2008

Oração subordinada concessiva levemente alcoólica


Mesmo com a velhice, cansada de viver as mesmas experiências,

Mesmo com as lições do pai,

Mesmo com as conversas de macho com o zelador do prédio,

Mesmo com todo costume de estudar diariamente,

Mesmo com a tentativa de controle permanente,

Mesmo com o parâmetro de ser decente e comportado,

Mesmo com a realização de ser formado em universidade federal,

Mesmo com o silêncio educado do elevador,

Mesmo com o amadurecimento aparentemente total,

Mesmo com todo o controle de ser ético, educado e simpático,

Só porque isso dá mais crédito...


Eu, primeiramente sendo primeiríssima pessoa do singular,

sou o plural das atitudes de um menino-moleque.

terça-feira, 20 de maio de 2008

Sorte




Eu jogo tudo pra fora, com felicidade sem denominação, até porque felicidade já é uma palavra e toda palavra não passa de conceito. Os amigos são muitos, mas parece que alguns são fixos sem querer ser, porque a personalidade deles não exige força artificial para ser igual à nossa. Parece que quando se tem um amigo de verdade, a palavra amigo é apenas mais designação de palavra, e isso nos faz perceber que existem pessoas decentes, que servem para mostrar a mediocridade de cada um através de tal decência. Não é filosofia, é verdade. Ou pode até ser filosofia verdadeira. Viver aleatoriamente é como jogar um dado e não dar muita importância com o número seis. O sorriso voltado mais para o humor do que para a simpatia mostra que o não planejamento pode ser tão brilhante quanto uma vida de namoro, pois nos dois casos a sorte existe. A sorte pode ser muito bem a justiça que entra na vida dos de bem coração para lhes avisar que felicidade também é recompensa de bondade. Afinal, sorte também é apenas mais uma palavra no dicionário. Mas sorte mesmo é ganhar um prêmio por algo que não se quis exatamente fazer.


Fábio Coelho (18.05.08)

domingo, 11 de maio de 2008

Dia das mães


Mãe, mãzinha,
Você sabe que nesse mundo
tudo é superficial.
Então, o que me resta, lá no fundo,
é o seu acalanto maternal.

Eu ainda sou um passarinho
protegido no seu ninho
e esquentado pelo sol.

E quando chega o vento forte
Eu ainda tenho a sorte
de possuir o seu lençol.

Obrigado por ter me tido,
promotora de minha existência.
E agora que nasci,
tenha muita paciência.

Fábio Coelho (10.05.08)

Até que enfim

O tempo muda, mas o tempo não muda nada.
E nem as palavras que revelam o desejo de desbravar
Alguma coisa que a mata sente, mas a nós não resta.
A mata vive o dia inteiro fora de casa
Porque sua casa é a própria floresta.

Por isso ela não é mimada pela vida,
A sua vida é inerte, sem fragilidade.
A planta é uma coitada, não consegue falar.
Pois se conseguisse, seria tão ridícula,
Como um garoto fora da realidade
Que, mesmo com mágoa, consegue perdoar.

Aquele orvalho é assunto de geografia
É cansaço de fazer fotossíntese.
É a síntese de pensamentos depressivos.
E se tiver espinho, não há problema
Eles são inofensivos.

Quando a gente desmata toda a vegetação
Falando que faz parte o não,
Todo mundo fica parado
E ninguém pede desculpa.

Não é nossa culpa
cortar o medo pela raiz.
Assim, mais no futuro
A gente diz com muito orgulho
que um dia já se foi feliz.

Fábio Campos Coelho (11/05/08)

quinta-feira, 8 de maio de 2008

Paraíso sem graça


Por que você não me leva a alguma praia do mar de água verde, suja, diferente? Sabe o que é? Eu canso de ver esse jeito natural das pessoas de só servirem água de côco. E quando a gente bebe ninguém baba. Será que dá tanta vergonha assim? Todo mundo sabe que muito verão não soa bem, porque enjoa, a não ser que alguma tempestade venha de repente. Mas não, no verão é sempre assim: a chuva é calada, quieta e bem comportada, nunca leva um tronco de árvore. Que espírito mal o meu. Não, é que eu costumo ser legal quase sempre. É por isso que serve a primavera, pra gente descobrir alguma coisa pra depois ensinar no outono, quando tudo parece estar no fim.

Fábio Coelho (Novembro de 2007)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Não adianta



Ando sempre com a cabeça aqui
Funcionando de acordo com o que
Acontece e poderia acontecer.
Mas é uma pena que não tenho tempo
Para ver se estou realmente certo.

Porém, se eu tivesse muito tempo
Em muita besteira pensaria
Então prefiro esse começo de raciocínio,
essa superfície que é o dia-a-dia.

Um dia, um tempo grande sobrou para eu pensar
Pensei que pensando muito minha duvida iria acabar.
Foi então que concluí que é a mesma coisa
Pensar muito ou pensar pouco.

Pois o pensamento independentemente
Do tempo é sempre o mesmo.
E se a gente pensa intensamente
Eu sei, é perigoso ficar louco.

E com o próprio tempo
Eu percebi que não preciso
De muito tempo pra entender o mundo.

Quando me toquei de que tudo estava errado,
Eu me lembro muito bem:
Foi em menos de um segundo.



Fábio Campos Coelho (07.05.08)