sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Brigar


Brigar é normal, é o resultado da penetração na intimidade do outro, e quem não briga não sabe o que é ser à vontade, não sai do sonho, do inferno constante e aparentemente infinito que a solidão provoca. Brigar significa que se conhece alguém bem, o que é uma delícia, porque assim chega-se à conclusão de que todo ser humano é igual quanto à sensibilidade, à vontade de amar e ser amado. Quem não briga só mergulha na própria intimidade. E ficar nessa situação é tão insípido, monótono, sem graça, como uma pipoca murcha e sem sal; parece que o proveito de provocar lágrima e também de lacrimejar não foi consumado. Por isso brigar talvez compense: a consciência da imperfeição humana é ativada, e parece que ficar sem a pessoa com quem se brigou gera a necessidade de dar um abraço mais forte, pra sentir melhor o valor que tem alguém. A briga não passa de uma ramificação da convivência, um dispositivo espontâneo e natural que tem a função de nos fazer ser grato e valorizar a existência de alguém, de mostrar que sempre faltará alguma coisa que possa ser feita por nós, só para provar que a briga não acaba, só renasce.


Fábio Coelho (23.12.07)

Um comentário:

Lívia de Araújo disse...

Eu também sempre tive essa visão super positiva sobre o ato de brigar.
Mas as pessoas não me entendiam ..

(((Vê fedelho? Vê agora que eu tinha razão???))))


Adorei baby ;*