terça-feira, 15 de dezembro de 2009
Sem Ajuda da Lua
Sempre vai existir na madrugada
uma aflição que pesa a consciência,
porque você lembrou que no último encontro
não disse ao menos uma palavra extrovertida
que pudesse provar pureza e espontaneidade.
Sempre vai existir na madrugada
a vontade de ser bonito, ou carismático,
como o personagem da foto do álbum que você está a olhar,
um modelo constantemente bonito,
que tem a leveza exposta na pose à vontade,
todos os dentes no lugar e o sorriso invejável.
Sempre vai existir na madrugada
a latente vontade de ser o melhor do mundo em alguma coisa,
qualquer coisa, não importa o algo.
O que importa é ter a gorda consciência da pujança,
de que pelo menos, depois da morte,
você será lembrado e enaltecido por ter sido o melhor um dia,
mesmo sabendo que o melhor aluno é o mais burro de todos:
só tira dez, e assim não há como evoluir mais.
Sempre vai existir na madrugada
a vontade de ler a carta penitente da pessoa amada
mas por cima da vontade reside o orgulho,
proteção contraditória em si,
pois impede o amador de perceber
que o passado é casca de banana
e o agora, a semente do que já esteve em plena floração.
Sempre vai existir na madrugada
uma lembrança do primo do interior
o famoso primo sumido, o que nunca ia separar de você
e você ainda tem o telefone dele na agenda,
mas não há por que ligar.
Ele vai ficar pensando por que você ligou,
como se o maluco não fosse ele.
E então, o que dizer?
Sempre vai existir na madrugada
a vontade de rimar, de fazer uma rima universal
onde tudo se combine, com virtuosa exatidão,
uma exatidão que provoque conforto
e impressão de que agora o travesseiro
espera por você, com justiça e satisfação,
como se deixar de cumprimentar um amigo íntimo
apertando-lhe as mãos fosse erro irreversível.
Sempre vai existir na madrugada
uma sensibilidade misteriosamente estrangeira,
rica para os poetas e filósofos
e ridícula para os que dormem,
sonhando que existe alguma coisa na madrugada
mas continuam treinando a morte desde cedo.
Fábio Campos Coelho (16/12/09)
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Constatações sobre o mundo
O que desponta primeiramente é o estertor
Decorrente da falta sacana de cabal eficiência
Da mensagem que queria se mandar,
Fugidia doravante, pois queria sempre será pretérito:
Nem a retórica de Deus é idêntica
Ao Seu pensamento.
No entanto, a falha é necessária ao regalo,
O cúmulo do lépido.
Primeiro, se pensa que o tutano é suficiente.
Pensa-se, pensa-se, pensa-se.
De tanto constatar, é confessado
O ato de ter inveja ser presente em todo ser humano,
Sem exceção.
Mas todo mundo é porra, porra!
É pura biologia, não é réu por ter instinto,
Muito embora o invejoso
Seja motivo repugnante de mangação
Realizada pelo invejado.
Depois de pensar que se pensa corretamente,
Discorre-se acerca da entremez da maconha,
Mesmo sendo uma erva inofensiva,
Segundo quem não quer parar de fumar...
Porque ela não faz mal,
ela não tem química nenhuma,
mas isso é truísmo apenas para aquele
que não consegue parar de fumar
e fala que consegue, mas não logra nada.
O perdão também é incluso nos processos
De conclusão do trouxa carente de consolação externa.
A misericórdia tem um sentido sagrado agora,
Pois o evoluído espiritualmente tem o ofício
Lindo e patético de perdoar.
Os ímpios ainda estão em crescimento
De compreensão,
Enquanto o escusado continua vacilando
E transgredindo o exemplo ético dos castos.
Para o violado, a intrepidez vai aprendendo
Com seus próprios erros.
Um poeta, vendo a vulgaridade dos limitados temas
De suas opiniões sobre as coisas,
Decide que vai agora escrever uma poesia universal,
Com a dolorosa rigidez de pensar
Dez maneiras distintas para a estética de cada verso.
Não importa quanto tempo custará
uma poesia decente, sensata:
Ele quer entrar para a História!
Naquela multidão, com os olhares acompanhando
As pernas grossas e saias curtas
Até ter torcicolo,
Confere-se uma certeza salaz e lenitiva:
Não existe a mulher ideal, parceiro!
Aquela que cozinha para o marido
Com plena satisfação de moça fasta,
Numa matiz azougue definitiva,
Afinal, não existe mulher perfeita, meu amigo:
Um dia ela vai tirar meleca do nariz
Diante de você!
E tomando uma cerveja, sempre vai vir um comensal
Lhe dizendo que quem nunca amou mais de uma vez
Não sabe o que é aproveitar o júbilo de ejacular
Dentro de uma vulva de mulher que
não tem valor emotivo.
Ninguém discorda de que Vinícius de Moraes
Desperdiçou o dever masculino.
Aquele, sim, soube viver!
Vem também as elucubrações sistemáticas
Sobre o futuro, pois afinal, ele depende de agora,
Não é assim que a mãe diz?
Depois de fritar a cabeça de tanto pensar,
É deliberado seriamente
Que a viagem ao Rio de Janeiro no final do ano
Não deve acontecer, porquanto compensa mais
Estudar para concurso público.
Ora! Depois você vai viajar quantas vezes quiser.
A maior meta agora é ficar independente dos pais.
E no ocaso, enfim,
Reflete-se sobre a injustiça
E o revoltante estado de vida boa do injusto,
Sobre a função dos cavalos,
O silêncio reticente dos namorados,
A vergonha de ter chulé,
O primeiro ser humano que gerou cada um de nós,
O preconceito provavelmente infinito
Com gays e negros.
E no final reflete-se sobre o ridículo e redentor
Enigma da morte.
No dia seguinte,
Constata-se que constatação
É volubilidade de opinião,
Um astronauta que não machuca ninguém,
Só segue a órbita normal das coisas.
Fábio Campos Coelho [17.11.09]
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Sepultura de um Feliz
Amigo, ele morreu!
Quem?
O macaco.
Eu imagino isso acontecendo a algum momento,
Não tem nada a ver com predileção
essa circunstância
E agora, o que adianta falar correto, só porque
está se fazendo uma poesia?
Vocês entendem?
Na verdade, quer saber?
Todo mundo pensa nisso,
Isso não é pecaminoso. É, foi e será catarse:
A catarse do orgulho, sabe?
Do ego se inflando,
Pois o indivíduo gosta de si também.
Gostar de si é coisa diferente,
Porque si é...
Si é...
Si é você,
mas saindo da lógica,
eu sei que todo mundo sabe
que si é você!
Não é coisa de otário, meu irmão!
Fugindo da lógica, querendo suprimi-la,
Olha o tanto que Você é especial
Não você, ouvinte
Eu estou falando é da palavra “você”!
Olha como ela é forte!
Em qual sentido?
Não há resposta:
Diferente pra cada um.
Mas então, se tu és gajo mesmo
Vamos voltar ao assunto inicial, vamos...
Faça concatenação entre o ato
De querer ver-se morto
E os amigos lastimando a ausência
Definitiva, cruel,
inaceitável, inevitável e no final,
Inexorável da tua presença pândega
Entre eles.
Amigos, um rabicho eterno,
A segurança de não ser sozinho.
Mas eu pensei naquilo,
Naquela coisa que no fundo
Ninguém quer experimentar,
Mesmo morto não sentindo.
Eu pensei naquilo só pra ter certeza
De que os meus pais indiretamente foram úteis
Para um espaço, embora abstraído,
Em cada pessoa,
Um espaço que compensa existir.
A gente arremata isso através do sorriso
E o sorriso é concreto.
Fábio Campos Coelho (08.10.09)
segunda-feira, 12 de outubro de 2009
Esperando a aurora no dia das crianças
A juventude, não já fazendo uma limitação a ela,
com parâmetros de idade e a rotulação promíscua
do que seria um feitio de juventude,
pode ser o que quer com apenas um instrumento:
a aleatoriedade da forma de ser.
Os felizes não pensam no que vão fazer
na sexta-feira à noite
mas na madrugada eles honram a razão de existir
sem a pudicícia do riso frenético e constante.
Eles conversam confusos, como as cigarras,
que interrompem a exegese de cada minuto
que não é exegese coisa nenhuma
porque a explicação é anúncio de equidade.
E quando eles chegam em casa
as mães de cada um perguntam
se eles não vão dormir.
Você não está com sono, meu filho?
A resposta é sempre semelhante
em todas as ocasiões:
Para que dormir?
Todos justificam que antes de dormirem eternamente
antes de um sonho longo, sem fim,
o descanso sisudo, penitente e conspícuo,
a lenidade corporal definitiva,
a plenitude de neutralidade emotiva
Eu quero ver o sol nascer, mãe.
A consciência da decepção promovida
pelo sono intransigente com o feliz
promove o redentor descobrimento
da singularidade de sê-lo.
Fábio Campos Coelho (12.10.09)
sábado, 10 de outubro de 2009
Atenção para a reflexão de Felício
Hum... Bom saber disso. Bom mesmo!
Então quer dizer que é melhor sempre,
sempre, sempre fazer as coisas de que se gosta,
ficar feliz e depois...
E depois sou eu quem digo... E depois, Felício?
O que você vai fazer? A mesma coisa!
Felício vai ouvir o seu som predileto no máximo volume
e vai brincar com o jogo de sete erros.
Mas ele só acha seis.
Todos ele nunca conseguiu achar.
Mas agora venha cá, meu amigo.
Agora é assunto sério:
Você nunca pensou em sentir um pouco
um pouco aquilo por que você não tem simpatia,
algo que você não tem costume de fazer
pois a ledice não atrai?
É. A alternância de costumes é coisa tão furtiva,
que a gente morre sem saber que um intervalo neutro
do prazer é banho de cachoeira.
Até o professor, que é considerado
o maior possuidor de retidão
gosta de intervalo.
É saudável também os intervalos servidores de acicate:
Acicate para se parar de ter plenitude de júbilo
e lembrar do problema de ontem,
cuja relevância todos confessam ser maior que a satisfação.
A chave estava na portaria,
mas Felício queria muito comer a torta alemã,
e agora ele vai ter de voltar lá em baixo,
inevitavelmente.
Felício gostava do seu nome,
mas refletiu, durante um ínfimo ínterim,
o que foi suficiente para mudar de nome.
Porque Felício era apenas nome,
e não conceito.
sábado, 3 de outubro de 2009
Kilometrôs de Cansaço
Esse silêncio com a mão no queixo
e concentração na coisa mais profunda.
Não me pergunte em quê,
eu também estou na inhaca noturna das feiras.
Esse silêncio, enfim, com o olho fechado,
Mas fechado por poucos segundos.
Ele fecha e abre constantemente,
Conforme o barulho, que não é balbúrdia.
É só barulho, mesmo,
De sai e entra em cada parada.
É um silêncio que desperdiça a simpatia
E comentário do dia
E das coisas de amanhã
Que tem de se fazer,
Tem de se fazer,
Afinal é a dignidade que está em jogo,
e isso é tão sério quanto vigiar os filhos pequenos
que estão na piscina.
Todo mundo está cansado,
Mas ninguém disse que isso é ruim
Porque, na raiz da razão,
Não o é.
Esses corrimãos aéreos,
Quase no teto do metrô dizem:
_Pronto, eu estou aqui trabalhador.
Me segure, que eu te seguro,
Eu sei que você se extenuou muito durante o dia.
E no final todos os passageiros saem,
No escopo do jornal da meia-noite
E de dois travesseiros:
Um para colocar a cabeça
E o outro para abraçar:
Abraçar a satisfação o remanso,
cujo pivô é a consciência de que se move.
Fábio Campos Coelho (30.09.09)
domingo, 30 de agosto de 2009
Deus Barroco
Ele é um velhinho (velhinho)
que sempre existiu.
Sempre superior, sempre existiu.
isso não existe!
Fábio Binho (08/09/09)
Do Goiano ao Mineiro
quando nem me dava por gente
tentaram me ensinaram a rimar
mas eu não conseguia,
a professora debochava e ria
e o que apenas dizia:
Tente!
Era tão difícil, puro sacrifício.
O vocabulário indigno, vergonhoso
não me sugeria nada,
metrificação desorientada,
Parnasianismo seria uma latada.
Cadê o gozo?
Mas fui crescendo, lendo e lendo,
estratégia de garoto sagaz.
Dicionário muito usado, fato estupendo,
deixei a ignorância pra trás.
Cultivava Bilac e a sua rigidez,
fazia agora requinte, redondilha maior
Tudo metrificado, e no dia seguinte
gostava de ver que ali tinha suor.
Mas um dia a minha empregada me salvou
Me salvou sabe de quê? Da perfeição:
Binho, vai procurar a ração!
Acho que está na instante do quartinho
Mas por favor, procura com carinho
e dedicação.
Fuçei, fuçei, fucei
Olhava de parte em parte,
mas infelizmente não achei.
Só que lá no fundo, lá no fundo
tinha um livro desses
sujos de poeira e soltos pelo mundo.
Um livro de poesias de um tal mineiro,
um cara magro, de óculos,
com a cara concentrada não sei em quê!
Sentei no banquinho da dispensa
e li uma, duas...
Na terceira poesia percebi
que ele não tinha o requisito
que a minha professora achava
que todo poeta tinha de ter.
O mineiro não rimava,
ele não tinha requisito...
mas mandava bem a mensagem.
Muito esquisito, tinha algo de errado!
Alguma coisa me dizia:
Amigo, sai dessa de rima,
dê a volta por cima.
Você tem que se ligar é no recado!
De tanto me ligar da moral das mensagens
Eu fiz uma, mas fiz direito:
Não Tome como parâmetro de competência
A profissão de um sujeito.
Assim também é com a estética:
O que muda o recado
se é professora ou doméstica?
Se não houver mais perfeição aqui
não venha falar comigo.
Vá brigar com aquele cara
que nem sabe, mas é meu amigo,
o cúmulo da espontaneidade,
sujeito mineiro de Itabira
que surpreendeu o goiano caipira:
Carlos Drummond de Andrade.
Fábio Coelho (29.07.09)
sexta-feira, 21 de agosto de 2009
O menino George
O pé sujo e cortado já anuncia
a convivência com os ocupados
no sinal vermelho.
E vai ser assim sempre,
o pescoço de Deus não é como o da coruja;
se ele vira para um lado só, não é displicência,
existem Jujuba e bolinha de tênis
pra fazer malabares.
Meu Deus, que menina linda,
Olha esse olho, olha esse cabelo,
essa sandália, as unhas bem feitas
mas eu não vou falar com ela,
o asco nunca combinou com libido.
George sabe que nunca vai conseguir essas meninas
que estão felizes porque vão viajar à praia.
Acabou o ano, já é final de semestre.
O amigo dele fala que é impossível,
mesmo com um buquê de flores.
Não tem cabimento, ela mora em apartamento
e você na faixa de pedestre.
O pai já se foi
Roubou duas caixas de leite
O policial gritou: Ponha a mão na cabeça e deite!
Ele não quis ouvir e, dizendo George,
foi assim que seu pai foi para o céu,
mas para um homem que passava de terno
não foi pro céu coisa nenhuma,
ele foi para o inferno.
O menino não tem mãe,
mas graças a Deus tem tia,
ou melhor, no plural:
George tem milhares de tias.
Tias que ele conhece diariamente
que chegam e vão embora rápido
sem deixar recados para onde vão
e somem no sol quente.
Ele tem tias, mas não é sobrinho.
A reciprocidade não existe, não há interesse.
No contato do ar condicionado
as tias olham George, mas olham rapidinho,
por que, pra elas, ele é gente?
Mas não falemos mal das tias, por favor!
O mundo anda tão violento
Esses meninos são perigosos,.
Fecha o vidro! Eles chegam, levam a nossa bolsa
e fogem como vento!
Uns vêm vendendo chiclete,
mas não se pode confiar, filho!
Minha amiga leu no jornal e me disse
que não é mais tempo de tolice
Eles abordam agora é com gilete.
E depois o pessoal vem falar
que o povo tem preconceito e tudo mais,
que a humanidade é ímpia
e só olham para o próprio umbigo.
George conheceu um menino legal
que lhe olhou com um jeito tranqüilo, sem medo
um cara sem maus olhos, caráter diferente.
E houve uma conversa envolvente
George foi chamado de garoto inteligente
E nasceu dali uma brilhante amizade.
Mas que amizade passageira!
O menino refletiu: será que é bom
dar moral pra esse maltrapilho?
Se eu chegar com George lá em casa
A minha mãe vai arregalar os olhos e dizer:
O que é isso? Ficou maluco, filho?
Fábio Campos Coelho (10/08/09)
quarta-feira, 15 de julho de 2009
Ponderação
Você não se lembra de que
o professor falava pra medir as coisas todas?
Mas você concorda com ele, mesmo?
A efusão verdadeira de antes
agora se torna mais madura
e já não se pode mais chamar isso
de efusão.
Não há outra coisa a explicar
como causa, senão o tempo.
Não existem desculpas, existem ilusões.
O tempo é o cúmulo da mudança
e aplaca alentos cuja condição de existência
é a vaidade e a juventude.
Aquela preocupação de ser visto
com más impressões,
andando nas ilhas
que dividem as avenidas,
não é costume indispensável.
Já que sabemos (ou não?)
que a existência da veiculação fétida da reputação
é tão efêmera como chuva de verão.
Hoje no samba eu não vou suar,
mas amanhã, quiçá.
Depois de amanhã... Aí sim!
Vou tomar banho de suor.
Ora! A maturidade faz bem ao maduro,
contudo pode amadurecer demais.
Demais.
Os sábios souberam, viveram,
souberam e viveram tanto,
mas tanto, mas tanto,
que atrofiaram os mesmos alentos.
Daí as barbas brancas.
Fábio Campos Coelho (16.07.09)
domingo, 7 de junho de 2009
Vó Coló
Filha de Anita e Florindo
Prepara a lancheira para os dois meninos
Ai, que acalento, que ventre lindo.
Avó universal, não me leva a mal
Mas a melhor do mundo!
Põe Antônio no eixo em um segundo
Mesmo com tanto pudim, sorvete e rocambole,
Mostra a seriedade como disciplina
Ensina, ensina e não dá mole.
Acorda cedo, mas bem cedo
Chama Bruno, Mariana e Gabriel
Chama Fábio, chama Alfredo
Parem de brincar, vêm vindo
Que tem bife acebolado
Arroz solto e caprichado
E aquele suco gelado de tamarindo.
De madrugada acorda com Toim, que ronca
Não deixa barato e dá uma bronca
Mostra que tem moral,
Que casamento não é carnaval
Mas depois adula.
A tarde lembra que tem muita gente
E como a mais inteligente
Com ofício de justiceira
Esconde cural no fundo da geladeira
Para o neto caçula.
Um belo dia a linda Dona Clotilde
Num estado satisfeito e humilde
Conclui que já fez sua parte
Depois de ter olhado nos espelhos.
E resolve descansar, cansada de barulho
Deixando com saudades
E principalmente muito orgulho
Bragas e Coelhos.
Fábio Campos Coelho (08.06.09)
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Em outra terra, onde foi morar
Por razões acadêmicas, escolares
Foi que um goiano, em tom alegre
Nas quintas-feiras, loucuras dos bares
Conheceu um brasiliense muito camarada,
Que, como grande filósofo raulzito,
Sabe que dessa vida não se leva nada.
Através de preferências parecidas
Que já existiam há quarenta anos
Chicos, Tons, Vinícius e Caetanos
Cansados de muita cultura palha
Priorizando Bandeira e a Tropicália
Compensando o cansaço com Betânia
Ataram amizade sincera e espontânea.
E com vontade de ser um pouco mais,
Pelo menos a metade do que foi toda essa gente
Crendo que jovem também é inteligente
Foram os dois com flexibilidade de chiclete
Criando o movimento literário da quatrocentos e sete
Concordando com Aristóteles, lá da antiguidade
Que um bom começo realmente é a metade.
E foi-se descobrindo poesias velhas
A loucura, entre vermes e camélias
Liberdade, Lembranças do mar infinito
Perdão absoluto, a moça da cantina
Agora sou eu que cito, essa foi pra uma menina
Se ligaram que a habilidade não era sinuca
Mas havia ali certa personalidade Duca.
Eu sei que te paguei ingresso de um bom show
É que te considero demais, sem viadagem
Sua pessoa não diferencia meu saldo
Agora, por favor, me coloca nessa viagem
Que não preciso pagar passagem
E vamos logo Pra São João Del Rei,
Boa e velha cidade de Oswaldo.
Fábio Campos Coelho (19.05.09)
01:27 da madruga
quarta-feira, 6 de maio de 2009
Apesar de forte, muito Fraco
Além da que me representa justamente
Quando tenho alvura de elogios
Se é que alguém muito esperto me entende.
Imagina se só se tivesse as qualidades
Facilmente vistas pela família
E pelos amigos que já conhecem sua pessoa
E que têm a tendência de sempre achar
Legal ou coerente aquilo que se faz.
Seria totalmente insípida a honra
Nesse assunto, tudo que é explícito
Uma hora se torna insípido, meu bem.
É que quando a criatura anda no nível dos normais,
Sem pecado e tão formais, insípido fica também.
Eu queria ter mais força para não fazer
Cara de soberbo e, mesmo entupido de razão,
Não ser impaciente com uma pessoa
Que não possua que a minha a mesma opinião.
Eu queria ter mais força para ter coragem
De sorrir mais para meu irmão
Que agora longe de mim mora
E precisa de mais brincadeira e risos, embora
Já sejamos os dois peludos e recém-adultos.
Eu queria ter mais força na hora do sono
Quando estou quase dormindo
E me dá vontade de escrever
Mas tenho mais preguiça do que força.
E não levanto porque não compreendo
A grandeza do efeito que uma poesia
Pode surgir, quem sabe, mais tarde
Diante de mais um sono desses, de todo dia.
Fábio Campos Coelho {28.04.09}
sábado, 4 de abril de 2009
Perdão Absoluto
Fábio Campos Coelho (04.04.09)
-05:14 da madrugada-
quinta-feira, 2 de abril de 2009
A carona é vinte reais
Para morar em Brasília, que maravilha
Quanta árvore, quanta menina
Só não tem esquina
Mas as comercias
Em quadra sim, quadra não
Substitui tudo o que aqui não existe
E ainda tem gente que insiste
Em falar mal da Capital Federal.
Mas quando eu levar toda essa gente
Pra subir na torre e ver lá do alto
O palácio do Planalto, a linda Catedral
A ponte JK e o eixo monumental
Rodoviária, UnB Asa Sul, Asa Norte
Vão gritar: é desperdício não vir aqui
Antes da morte.
Acontece então que os goianos tem sempre
Grandes pensamentos, passam no vestibular
E moram nas quatrocentos morar em república
Porque passaram em universidade pública,
Que bom exemplo, bom exemplo.
Arranjei apartamento bem limpinho
Cada um com seu quartinho
Conforto assim não tem igual.
Mas as paredes do meu quarto tão brancas
Não queriam ser tão santas
Me dando tom de tão normal.
E me pediram para enchê-las de alegria
Com frases, trechos de poesia
Pois já estavam passando mal.
Aceitei então o seu pedido
Como se eu tivesse mentido
Para todo mundo que o mais bonito
Sempre está dentro do padrão.
Frase de Platão, Baudelaire
Do florindo Braga Coelho,
Clarice Lispector, Sócrates
Carlos Drummond por toda parte.
A liberdade de Sartre, Gilberto Gil
O pessimismo de Nietzsche.
E quando menos percebi,
Frase também de Rita Lee
Já tinha se transformado em arte.
Freud e a psicologia, Nelson Rodrigues
Falando de putaria, Newton, Arnaldo Jabor
Horácio, Guimarães Rosa, Buda
E Chico Buarque falando de amor.
Frase minha, que nunca tinha pensado antes.
Goethe, Charlis Chaplin Chico Xavier e os Mutantes.
Belchior, Jorge Bem Jor, Novos baianos, bom demais.
O Rappa, Mário Quintana, Rousseau, Vinícius de Moraes.
Frase de amigo meu, de mãe, de pai, de vô.
Frase que eu tinha escrito em algum papel.
Elvis Presley, Goethe, Demócrito, Kant
Saramago, Luna Jeannie, Voltaire, Maquiavel.
Salvador Dali, Shakespeare, Bob Dylan,
Zé Ramalho, Janis Joplin, Vô Teco, muito Bonito.
Com tanta cultura assim, Miguel de Cervantes,
Aristótles, Rimbaud, Renato Russo
Só não podia faltar o Raulzito. E não faltou!
Jim morison, Caetano, Bob Dylan, Cecília Meireles,
Lulu Santos, Mariane Negrão, Broa, Tovarzinho,
Adriano Alves, Velho Tasso, gente de toda a idade.
Allan Poe, Pascal, Alex Canuto, Polly de Brito,
Ricardo Araújo, Santos Dummont,
Cazuza, Einstein e sua genialidade.
Não tem lugar, não tem lacuna,
Para colocar mais uma letra, muita mutreta
Vou passar mal.
Mas olhei pra cima, abri sorriso
Dei uma de esperto, afinal o teto
Também é parede em horizontal.
sábado, 28 de março de 2009
Querida pelos errantes pensadores
Fábio Campos Coelho (29.03.09)
sábado, 14 de março de 2009
Inspiração da revolta
O povo de lá me falava que goiano
Não tinha abertura pra se expressar
Porque o sotaque não soava tão bem
Quanto o catarro que sai do R candango.
Para falar a verdade eu nunca aceitava
A teoria de que só valia a intelectualidade
Garantida no sotaque que nenhum caipira
Saque como um paulista ou um gaúcho.
Eu puxo, puxo sim a porta e o portão
Mas não ouço bem o chiado do carioca
Que soca no pastel e na castanha que
Todo nordestino tanto adora.
E os cearenses, com suas cabeças chatas
E preocupadas com a recepção dos turistas,
Admiradores das lindas praias e saias
Usadas pelas negras do bumbum
Cuja curva não se encontra em mais lugar nenhum.
E depois os tais turistas falam mal do nordeste
Depois de ter sentado nas cadeirinhas
Passando os pés nas areias lindas
E levantando as suas mãozinhas naquela preguiça
Para mais uma água de côco.
Observe, absorve e tenha calma,
Que ainda tem muita filosofia
Entre a simpatia e o cerne da alma.
03.10.07
quarta-feira, 11 de março de 2009
Existencialismo
__Mas pai, eu não descordo em nada do que você me disse; e assim, mesmo assim eu tenho medo. A gente nunca sabe o que vai acontecer. Viver no céu ou no inferno para sempre... Me dá agonia só de pensar nisso.
__Não precisa ter agonia. Olhe bem, filho! Ouça bem o seu pai. Existe uma verdade, existe; uma verdade que a gente não sabe. E aquilo que tem de acontecer vai acontecer. Por isso, não se pode mudar essa regra. Essa, infelizmente, é a única que não pode ser mudada. Só Deus pode mudar, filho! Só Deus!
__Mas então, se Deus vê tanta gente chorando por causa de pai, de mãe que já morreu, por que ele não muda? Por que ele pelo menos não faz um esforço?
__Esforço, filho? Deus não precisa de esforço para mudar qualquer coisa. Ele é o criador de tudo, dos fenômenos, da física, da alegria e da madeira. Se ele quisesse mudar, já teria mudado há muito tempo, ou até então teria feito um sistema diferente de vida e morte.
__Será? Eu fico pensando... Eu fico pensando... E se não existisse Deus, pai? Quem faria o mundo, o tempo, a os homens e tudo que existe?
__Não tem dessa, filho. Deus sempre existiu. E sempre vai existir, entenda isso.
__Olha, eu vou te falar uma coisa, mesmo se você me contestar depois. É que eu não acredito em Deus, às vezes, sabe pai? Eu fico olhando as crianças comendo lixo, naquela miséria impressionante e depois eu olho para o prédio onde eu moro, esse prédio cheio de conforto. A criança não tem culpa de ser pobre, ela já nasceu na desgraça. Por que Deus deu tristeza a ela e isso tudo a mim? Se Deus existe, ele é injusto, pelo menos disso eu tenho a certeza.
__Filho, deixa eu te perguntar uma coisa: Você já viu o vento?
__Já.
__E você já viu a cor do vento, filho? Me diz. Você já viu se o vento é amarelo, vermelho ou azul?
__Não.
__Pois então, é a mesma coisa. Só me faça um favor: nunca duvide Dele, filho. Ele é a nossa razão, foi Ele quem me criou, você, seu avô. Tudo.
__Está bem, eu não duvido mais.
__Presta atenção. Eu também já fiquei horas e horas pensando sobre isso, se Ele existe ou não, se ele é injusto com alguns, mas não tem solução, filho. Não adianta. Portanto, tenha fé, pois se ele realmente existir e você não acreditar, pode acontecer muita coisa ruim depois da sua morte. É melhor respeitar a existência dele, filho, me ouça.
__Certo, pai, certo. Eu não duvidarei mais de nada, afinal sou apenas um menino.
__Agora vai dormir, filho. Amanhã você tem aula e tem de acordar cedo.
__É, eu vou dormir mesmo.
__Boa noite, durma com Deus.
__Boa noite, pai, amém.
O menino dorme. Tem um sonho. Aparece um corpo com cabeças incontáveis, mais de um milhão de cabeças, bem mais, ligadas a só um pescoço. O garoto percebeu que algumas deles ele conhecia. Uma cabeça era da sua professora de geografia, outra era de uma menina com quem havia se trombado no supermercado há pouco tempo, havia a face do seu irmãozinho que acabara de nascer. Então esse corpo com infinitas cabeças lhe disse:
__Você é um menino inteligente, gostei de você, garoto.
__Por quê? Quem é você?
__Quer saber mesmo quem eu sou?
__Quero, me fale. Quem é você?
__Não fique assustado com o que eu vou falar.
__Eu estou ficando com medo de você.
__Isso. Você acertou.
__Acertei o quê?
__Você acertou, eu sou o Medo. Meu nome é Medo, mas alguns me chamam de Deus.
Fábio Campos Coelho (11.03.09)
sábado, 7 de março de 2009
Frases de mulher
Tenho dignidade, nunca fui mulher indecente
Como muita gente fala por aí.
Mas não escapei da rede dos enganadores
Daqueles que compram amores
Com poesia, palavra bonita e flores.
Eu nunca mais falo com você, cafajeste
Seu ridículo, sua peste, pensei
Que pelo menos fosse amigo.
E se eu for embora, fique sabendo
Desde agora que os filhos ficarão comigo.
Hoje não penso em casamento
Mas tenho sempre firme o pensamento:
Aos trinta quero me ver casada
Mulher que não casa não tem moral
Não tem felicidade, é mal amada!
Olha, netinho, nunca bata em sua mulher
Você nunca viu seu avô batendo em mim.
Não importa, seja o que ela fizer:
Quebrar prato, talher, destruir a harmonia
Mas se encostar a mão, não tem perdão:
Direto pra delegacia!
Homem desgraçado, vou me vingar, pode crê
Vou sair na rua, com saia curta, cheirosa
Gostosa, com meu cabelão, quase nua
Ele vai se arrepender.
Se ele não me deu valor
Eu também não tenho obrigação de amar
Vai ver agora o que merece
Vai rezar, chorar, fazer prece pra eu voltar.
Que mulher ridícula aquela
Fez escândalo no elevador
Quebrou a portaria, xingou o zelador
E queria que eu descontasse
Mas não faço isso, sou mulher de classe.
Fábio Campos Coelho (07.03.09)
quinta-feira, 5 de março de 2009
Me diga o que devo sentir
Mesmo sendo animal racional,
É pensar que, depois de muita experiência,
De estudar filosofia, literatura, a ciência,
Haverá fórmula concreta de como pensar.
Mas é tudo mentira esse bafafá
Mascarado pela aparência de maturidade
Pois mesmo com muita idade
A querida humanidade ainda erra
Coletivamente ou em particular.
Me diz, Deus, ao pobre mortal aqui
Como devo sentir depois disso tudo
Depois dessa eterna busca pela moral,
O princípio da educação e piedade.
Porque na confusa sociedade
Não se sabe qual é o sentimento
A ser priorizado ou se não existe
Essa bobeira de priorizar coisa nenhuma
Já que a vovó fala ao netinho
Que é pra ele pensar mais em si.
Me diga o que devo sentir
Quando chego ao bar
E ver o cotidiano de rir às quintas.
Mas seria mais agradável
Você me dizer, na hora de dormir
Em tom saciável: Não sintas.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
Esboço da Saudade
Como é sentir saudade
Pois abstrata é só a palavra
Daquilo que se diz, de que se trata.
O conceito é sempre concreto
E como educado neto
Eu lhe ouvia atentamente.
Quando a imaginação está ativa
A saudade entra em existência,
Mas não fique triste, vovô dizia,
Vencedor é quem tem paciência.
Pois saudade é prova
Da presença de sentimento
Em qualquer momento
Mesmo com ausência
Da criatura lembrada.
Fábio (Fevereiro de 2009)
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Sofrer é sofrer?
Fábio Campos Coelho (15/12/07)
Mentira
Não sei se confundi amor com inocência, mas é que quando nota-se alguma diferença é preciso andar, vasculhar e conhecer pra depois não se arrepender de que não se viveu. Um mundo só não existe, e ainda mais em um que está começando. A velhice é o fim de algo único. E se a vida for assim, única, mas longa demais qual motivo nos leva a não arriscar? O risco é o caminho do sucesso. O insucesso é ruim, porém faz parte. A minha cara de muro me mostra que brincadeira em excesso nunca é bom. É preciso seriedade para conseguir se limitar, e, além disso, o limite equilibra e traz madureza. Mulher gosta de homem inteligente, ninguém deseja um qualquer. A melhor mulher é aquela que se cala quando se encanta, mas não perde a oportunidade certa. A melhor mulher é aquela que sai da normalidade de apresentar vigor exagerado. Mentira, tudo isso é mentira. Só os lerdos acham filosofia ser ciência. Pare de confiar no que os outros falam; a melhor confiança é voltada para si mesmo.
Aliterações de Vestibulando
Papo furado, que fere a gente só mais tarde,
Muitos e um só
Fábio Coelho (04.12.07)
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
Cabelo de fogo
Mas muito pequenininha
Para aventuras da filha primeira
De Dona Terezinha.
Vontade de sair, de conhecer o mundo e as paixões.
Namorar até de madrugada, amar mil garanhões.
Mas ali havia uma barreira muito pesada
Era um tal de Teco, que não permitia quase nada.
A Moema, com seu cabelo de fogo e suas pintinhas
Foi ao desafio conhecer outro mundo,
Algo mais profundo: liberdade e fortaleza
E chegando ao rio de janeiro, naquele paradeiro
Foi dar aula de Língua Inglesa.
Construiu sua humana vida assim,
Sem medo, acordando cedo e indo trabalhar.
De Leblon a Ipanema, com vício em cinema
Conhecendo o mundo a beira-mar.
A Moeminha até que gostava dessa vida
Dura e puxada, porém mais gostosa que Coca
Até que um dia ela conhece um malandro carioca
E com ele tem duas filhas mais teimosas que pipoca.
A mulher do cabelo de fogo queria fazer mais faísca.
Aquilo ainda não a deixava satisfeita
Foi então em Santos que trocar sua vida ela aceita
Por um açougueiro bonito e barrigudo
Que não tinha nada, mas, sim, tinha tudo.
Estrutura, atitude, Ceará de conteúdo.
E na cobertura de um prédio qualquer
Com vista para o Atlântico,
Artesanato, isso é fato, prato, picanha, talher
Não seria tão elegante Nilson Cavalcante
Com outra mulher.
Fábio Coelho
07.02.2007
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
De mãos dadas
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
De Repente
Mas se demorar mais que um segundo
Tudo desaparece, e o que resta de herança.
É a dor de não ter boa lembrança.
Para ser um bom poeta
Basta ter um ingrediente.
Não adianta estudar muito
Nem pegar firme no batente.
Mas a receita não tem muito segredo
Sobre o qual só sabe aquele que
Desde cedo busca da raiva
E do medo mais uma pobre inspiração.
Volto da escola, meio pensativo,
Pensando, pensando em qual adjetivo
Darei ao ato de, mesmo estando vivo,
Não dar importância ao esforço produtivo.
Para essa produção não há laboratório,
Pois a pesquisa aqui é algo aleatório.
Ninguém tem culpa de saber rimar,
E a salvação do poeta é poder se expressar.
Fábio Coelho (07.03.08)