O que desponta primeiramente é o estertor
Decorrente da falta sacana de cabal eficiência
Da mensagem que queria se mandar,
Fugidia doravante, pois queria sempre será pretérito:
Nem a retórica de Deus é idêntica
Ao Seu pensamento.
No entanto, a falha é necessária ao regalo,
O cúmulo do lépido.
Primeiro, se pensa que o tutano é suficiente.
Pensa-se, pensa-se, pensa-se.
De tanto constatar, é confessado
O ato de ter inveja ser presente em todo ser humano,
Sem exceção.
Mas todo mundo é porra, porra!
É pura biologia, não é réu por ter instinto,
Muito embora o invejoso
Seja motivo repugnante de mangação
Realizada pelo invejado.
Depois de pensar que se pensa corretamente,
Discorre-se acerca da entremez da maconha,
Mesmo sendo uma erva inofensiva,
Segundo quem não quer parar de fumar...
Porque ela não faz mal,
ela não tem química nenhuma,
mas isso é truísmo apenas para aquele
que não consegue parar de fumar
e fala que consegue, mas não logra nada.
O perdão também é incluso nos processos
De conclusão do trouxa carente de consolação externa.
A misericórdia tem um sentido sagrado agora,
Pois o evoluído espiritualmente tem o ofício
Lindo e patético de perdoar.
Os ímpios ainda estão em crescimento
De compreensão,
Enquanto o escusado continua vacilando
E transgredindo o exemplo ético dos castos.
Para o violado, a intrepidez vai aprendendo
Com seus próprios erros.
Um poeta, vendo a vulgaridade dos limitados temas
De suas opiniões sobre as coisas,
Decide que vai agora escrever uma poesia universal,
Com a dolorosa rigidez de pensar
Dez maneiras distintas para a estética de cada verso.
Não importa quanto tempo custará
uma poesia decente, sensata:
Ele quer entrar para a História!
Naquela multidão, com os olhares acompanhando
As pernas grossas e saias curtas
Até ter torcicolo,
Confere-se uma certeza salaz e lenitiva:
Não existe a mulher ideal, parceiro!
Aquela que cozinha para o marido
Com plena satisfação de moça fasta,
Numa matiz azougue definitiva,
Afinal, não existe mulher perfeita, meu amigo:
Um dia ela vai tirar meleca do nariz
Diante de você!
E tomando uma cerveja, sempre vai vir um comensal
Lhe dizendo que quem nunca amou mais de uma vez
Não sabe o que é aproveitar o júbilo de ejacular
Dentro de uma vulva de mulher que
não tem valor emotivo.
Ninguém discorda de que Vinícius de Moraes
Desperdiçou o dever masculino.
Aquele, sim, soube viver!
Vem também as elucubrações sistemáticas
Sobre o futuro, pois afinal, ele depende de agora,
Não é assim que a mãe diz?
Depois de fritar a cabeça de tanto pensar,
É deliberado seriamente
Que a viagem ao Rio de Janeiro no final do ano
Não deve acontecer, porquanto compensa mais
Estudar para concurso público.
Ora! Depois você vai viajar quantas vezes quiser.
A maior meta agora é ficar independente dos pais.
E no ocaso, enfim,
Reflete-se sobre a injustiça
E o revoltante estado de vida boa do injusto,
Sobre a função dos cavalos,
O silêncio reticente dos namorados,
A vergonha de ter chulé,
O primeiro ser humano que gerou cada um de nós,
O preconceito provavelmente infinito
Com gays e negros.
E no final reflete-se sobre o ridículo e redentor
Enigma da morte.
No dia seguinte,
Constata-se que constatação
É volubilidade de opinião,
Um astronauta que não machuca ninguém,
Só segue a órbita normal das coisas.
Fábio Campos Coelho [17.11.09]
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