sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O menino George




O pé sujo e cortado já anuncia
a convivência com os ocupados
no sinal vermelho.
E vai ser assim sempre,
o pescoço de Deus não é como o da coruja;
se ele vira para um lado só, não é displicência,
existem Jujuba e bolinha de tênis
pra fazer malabares.

Meu Deus, que menina linda,
Olha esse olho, olha esse cabelo,
essa sandália, as unhas bem feitas
mas eu não vou falar com ela,
o asco nunca combinou com libido.

George sabe que nunca vai conseguir essas meninas
que estão felizes porque vão viajar à praia.
Acabou o ano, já é final de semestre.
O amigo dele fala que é impossível,
mesmo com um buquê de flores.
Não tem cabimento, ela mora em apartamento
e você na faixa de pedestre.

O pai já se foi
Roubou duas caixas de leite
O policial gritou: Ponha a mão na cabeça e deite!
Ele não quis ouvir e, dizendo George,
foi assim que seu pai foi para o céu,
mas para um homem que passava de terno
não foi pro céu coisa nenhuma,
ele foi para o inferno.

O menino não tem mãe,
mas graças a Deus tem tia,
ou melhor, no plural:
George tem milhares de tias.

Tias que ele conhece diariamente
que chegam e vão embora rápido
sem deixar recados para onde vão
e somem no sol quente.

Ele tem tias, mas não é sobrinho.
A reciprocidade não existe, não há interesse.
No contato do ar condicionado
as tias olham George, mas olham rapidinho,
por que, pra elas, ele é gente?

Mas não falemos mal das tias, por favor!
O mundo anda tão violento
Esses meninos são perigosos,.
Fecha o vidro! Eles chegam, levam a nossa bolsa
e fogem como vento!

Uns vêm vendendo chiclete,
mas não se pode confiar, filho!
Minha amiga leu no jornal e me disse
que não é mais tempo de tolice
Eles abordam agora é com gilete.

E depois o pessoal vem falar
que o povo tem preconceito e tudo mais,
que a humanidade é ímpia
e só olham para o próprio umbigo.

George conheceu um menino legal
que lhe olhou com um jeito tranqüilo, sem medo
um cara sem maus olhos, caráter diferente.
E houve uma conversa envolvente
George foi chamado de garoto inteligente
E nasceu dali uma brilhante amizade.

Mas que amizade passageira!
O menino refletiu: será que é bom
dar moral pra esse maltrapilho?
Se eu chegar com George lá em casa
A minha mãe vai arregalar os olhos e dizer:
O que é isso? Ficou maluco, filho?

Fábio Campos Coelho (10/08/09)

Nenhum comentário: