Tem gente que não vive sem um deleitoso martírio, só pra saber e sentir que essa vida ao menos mostra algum sentido, embora seja ele totalmente abstrato e indefinido. Poisé. Eu, por excelência pessoa em primeira pessoa do singular, admito: é preciso ser desconfiado com o tempo, e para os escritores, quaisquer palavras estranhas ou raras descontam o tédio e vazio que ascendem quando se está na sala de estar, e o almoço já está pronto, mas nem a fome tira o corpo do sofá. Não estranhe quando acontecer isso, pois não é motivo de vergonha, nem ter esforço em ser vagabundo. Vergonha mesmo é não ter vergonha, isso sim. O ilustre personagem a que me aludo ultimamente é o inerte e cínico cotidiano. Por que ter ressentimento com nosso cotidiano se ele nunca deixará de existir? Pra que o fel com o cotidiano, se é ele que suscita a tranqüilidade depois de pensar nos problemas individuais com que ninguém se importa, senão você? Pondere antes de xingar a vida. Eu sei que ninguém pediu pra nascer, nem tem culpa de existir, mas já que está dentro da sua própria vida, seja peremptório em relação a ser um garoto insólito, no bom sentido da palavra; tão insólito ao ponto de ser inconfundível através do estilo próprio. E não se preocupe; o estilo próprio vem com o tempo e muitas das vezes com o desinteresse em tê-lo. Fique esperto com quem não te pareça falso no elevador. Seja mais calado do que autoritário na oratória, pois todo orador tem seus defeitos. Muita gente tenta arranjar defeito em você, portanto ser tolhido por opção nunca é desperdício. Debelar o próximo quando esse não tem a mínima razão gera fumo, orgulho nada mais que desnecessário, gera a adrenalina da maldade, que todos nós temos, por sermos imperfeitos. Portanto, aprenda a valorizar o seu silêncio. Caso contrário seja você mesmo e faça esses pobres influxos entrarem-lhe por um ouvido e sair pelo outro. Afinal, que besteira tentar dar conselhos ao próximo, se quase sempre não conseguimos ser o próprio espelho-fonoaudiólogo? Liga não, é que às vezes os conselhos saem em forma de desabafo, a exemplo todos esses.
Fábio Coelho (28.11.07)
Fábio Coelho (28.11.07)
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