domingo, 24 de fevereiro de 2008

Segredo engraçado




Será que eu, deitado em meu indesejável e inevitável caixão, não poderei mais passear pelas festas de adolescente?

Será que a morte me levará pra outro lugar pior, melhor, ou mais estranho que esse, e que eu já tenha conhecido algum dia?

Será que minha vida sempre se repetirá independentemente da minha vontade, e então essa seqüência de vida seguida de morte seja infinita?

Será que sou apenas mais um resultado de puro prazer, onde a cápsula de um espermatozóide conseguiu perfurar a parede do óvulo distraído?

Será que se outro espermatozóide tivesse entrado no óvulo da minha mãe eu existiria?

Ou será que eu tinha que nascer mesmo e depois da primeira fecundação sempre estive esperando meu pai ter outra inspiração pra que eu entrasse em outro óvulo?

Será que uma fecundação diplóide depois que sai da barriga da mãe tem alma?

A mórula, a blástula, a gástrula e a nêurula me fazem pensar demais e duvidar se sou mais de um, ou apenas uma metade sem dor na hora da separação.

Será que os mortos têm retina e senso crítico para ver o que a gente faz quando ninguém está por perto?

Mistério , seja você mesmo, continue assim, pois a sua graça é o seu segredo engraçado, essa cara obscura com cara de fim.


Fábio Coelho 02/10/07

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