terça-feira, 11 de março de 2008

No escuro


Pra que isso? A felicidade mora aqui desde que há vontade de beijar. O momento é tão bom, e se eu deixasse de falar em outra coisa, que já se tornou alheia, não encaixaria nenhuma cena à época; o quebra-cabeça deve estar completo.
Adivinha do que estou falando? A rebeldia, apesar de causar medo em quem ainda é virgem, floresce a alegria acumulada nos cantos da escola por nunca ter assistido a uma aula de redação. Mas quem sabe tê-la é obrigado a ser ridículo para os ridículos e, como menos com menos dá mais, tudo está correto.
Uma infância, a pureza, a emoção de estourar balão no final de festa, a diarréia. A oitava série, a abertura mental junto ao riso, o vestibular como fermento inevitável: tudo isso é continuidade para que eu viva pelo menos mais uma noite.
A vida poderia ser um pouco mais longa, ou até mesmo a noite, mas a madrugada não existiria. E aí, você viu meus beijos andando por aí? Eu quero lembrar deles.
O carinho calmo, com a única e perfeita função de mostrar que ter tato é a reciprocidade contínua, contínua. Continua só mais um pouquinho. Não, eu tenho que acordar cedo amanhã. Então bota naquela música. Abre a boca! Abre as pernas! O começo da segunda vida. Eis o paraíso, o maior paraíso de Goiânia, com todos os degraus à sua disposição.

Fábio Campos Coelho (2007)

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