quinta-feira, 6 de março de 2008

A GEOGRAFIA DA VIDA




Cada um com sua história, com a sua fragilidade, com sua burrice de pensar que só si sofre nesse mundo. Talvez a verdade seja aquela mesmo, parecida com aula de geografia, onde o que você sente diante do mundo é equivalente a uma pessoa diante da civilização globalizada, ou seja, nada. Essa é a maior dor, a consciência de que se é pequeno, a solidão introspectiva desgraçada, que todo mundo tem vergonha de mostrar, mas que todo mundo tem, até o maior garanhão da urbanização. Com o tempo os trabalhadores, acostumados com o setor terciário, vão percebendo que muitos produtos baratos e quaisquer lucram menos do que um só, caro, muito caro, feito com cuidado e carinho. Essa é a verdade dolorida do garanhão, ou de qualquer cantor famoso, talvez a verdade mais dolorosa, mas que pelo menos mostra algumas outras verdades essenciais. Imagine um artista ilustre, depois do show, pedir aos seguranças para que escolham as mais lindas fãs e então, no camarim, transar com elas. Mas depois, num dia sem show, num domingo qualquer, todos os namorados estão namorando na praça e o homem da fama, adorado por milhares de pessoas, lá, sentado no sofá, sozinho, somente com o sofá, o controle remoto e a televisão ligada. Quem não acredita em reencarnação e então pensa que a vida é só essa deve pensar também que sempre é bom ter uma pessoa, uma única pessoa com quem se pode conversar, conversar sobre tudo, sobre o que os adolescentes acham feio, mas riem pra disfarçar. Nunca faz mal ter alguém que fale quais são seus defeitos, porque assim a gente evolui, já que sempre podemos evoluir, embora pensemos que existe limite para nossa evolução. Não há desperdiço em ter alguém em cujo ombro se possa chorar sem saber o porquê e sem nenhuma preocupação, pois essa outra pessoa um outro dia também vai chorar pela mesma razão pela qual todos choram: a pobreza de ser só. E assim essa mesma pessoa vai mais além da boate e da beleza, até demonstrar que ninguém nasce pra viver sozinho. A partir disso a gente vai tentando entender como funciona um sistema que é mais importante do que o sistema capitalista, o socialista, ou comunista. É o sistema emocional de cada pessoa, envolvido com desejos e mais desejos. É aquele sistema que de vez em quando emerge em forma daquele famoso “sentido da vida”, que todos procuramos, mas nunca achamos por inteiro, pelo fato de sempre querermos mais e mais, pois vivemos tanto ele, que o seu preço se torna preço de camelô, já que a oferta é enorme.


Fábio Coelho (07.12.07)

Um comentário:

luna disse...

eu, simplesmente, amo ler seus posts Binho. Não é só pelo fato de escrever coisas bonitas, falar coisas boas, otimistas e agradáveis, mas por saber que existe uma função em mim, a mesma em que tantos criticam..
porque quando eu sinto que nasci como um despedício de vida, por só pensar nessas coisas banais e fazê-las serem importantes, eu vejo aqui seus textos e me sinto melhor. Eu me sinto mais humana, mais viva e não tão doente mental, não com 'problemas psiquiátricos'..
vc pode achar que isso vem da falsidade, da falta de bom-senso qie tantas outras pessoas tem, mas você é sim alguém importante, muito importante, cuja amizade, não quero perder nunca. Ninguém mandou me confundir com a prima da mariana, agora vai ter que ser meu amigo pra sempre e sempre e sempre! :)