sábado, 11 de junho de 2011

O Coitado Sabido


Fico triste em saber que sei de muita coisa e que, a cada vez que as coisas se tornam sabidas por mim, a quantidade daquelas cujo sentido ainda não sei diminui. É tristeza fatal por ter veracidade. É como se o caminho de lições sobre a vida a ser percorrido pela minha ignorância estivesse me dando um Tchau em nível de Adeus!, taciturno e certo de que nunca mais voltará, e assim essa rua se dissipa, não existindo mais; isso é doloroso! Quando torno a adquirir um conhecimento -- da vida ou da ciência --, não vejo que algo foi apreendido, e sim que mais uma coisa não poderá mais ser descoberta. Olho, então, os dias de meu futuro com um tom de descrença (sei que isso parece pecado), desânimo e languidez, pois me vejo lá, no mais tarde, entidade conhecedora do tudo, em forma de computador excelente, sábio de todas as possibilidades ao redor da física, dos planetas e suas órbitas, da raiva, culinária, direito civil, idioma húngaro, budismo, aritmética, casamento, morte, mitologia grega e a combinação de todos os acordes musicais certos para chegar ao segredo do universo. Mas estarei inerte, pois esperto disso tudo, não terei direção aonde ir: tudo que poderá ser andado já terá sido andado, não vai mais existir uma área onde brincar, escorregar, cair e machucar o joelho. Por fim, o futuramente eu vai procurar uma atividade a ser feita, teoria a ser elaborada, mas “Não, amigo, acabou! Você não precisa existir mais”, o mundo nauseado de mim me dirá. Lembrarei das crianças, todas com sorrisos inocentes, inventando seus mundos, meninos sem querer saber de nada e por isso saudáveis, sem se esquentar com o outro dia que vai nascer. Viverei aquele momento, teso e seguro de mim, sem saber que ignorante é quem não admite sê-lo. Lembrarei o modo como eu olhava-as, por cima, desprezando sua sabedoria pura e insciente do não querer saber e me afastando com soberba de moço vivido, malicioso, que já aprendeu a lidar com os malvados e por isso se acha salvo de tudo. Ilusão, produto do engodo que a luz me dava. Agora volto ao presente e só saio na escuridão, com trauma do meu futuro entupido de verdades.

Fábio Campos Coelho (11.06.11)

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Torpor na Praça


Não gosto de me sentir plenamente feliz. Quando eu sento no banco de uma praça e fico a olhar os meninos brincando, a felicidade está traindo as minhas tarefas do futuro, e é como se aquele banco e aquela praça fossem exclusivos apenas para descanso, e não para felicidade ingênua. O júbilo não é merecedor de ser chamado júbilo quando o dia não exauriu o jubiloso. Isso tudo é mentira, são palavras, denominações: júbilo, alegria, relaxamento. Eu queria ser o sol, para me queimar e suar, queimar de tanto suar, suar de tanto queimar. Mas então penso nos sorrisos das pessoas me olhando e me elogiando: Como o sol é lindo!, e o terror daqueles elogios me apagando, como noite vingativa. Odeio elogios por não provocar resultados saborosos em mim -- somente paralisia e consolo, fazendo-me recalcar o que eu tenho de podre e feio e vazio e vergonhoso. É vergonhoso sentar no banco da praça e coçar a barba, mesmo sabendo e sabendo mesmo que os pelos adultos são prova de que o tempo é professor carrasco. Todos gostam dos professores bonzinhos. Mas alguém lembra seus nomes? Ninguém! Só lembramos dos professores algozes, daqueles que nos mostravam que dava para segurar o xixi por mais três minutos, porque prestar atenção naquilo escrito no quadro negro seria fundamental para a prova de amanhã. O momento presente era mais importante. Quando eu sento em um banco de uma praça qualquer e me ponho a ficar fasto, alheio à compensação do respectivo estar fasto, penso nas coisas interessantes que pediram ser feitas por mim e que não fiz, no jornal que não li e na minha desculpa esfarrapadíssima que dei à chefe de que não podia ficar mais uma hora do laboratório, porque tinha que pegar meu sobrinho na escola. Umas águas salgadas internas do meu passado passivo querem sair pelos meus olhos e me avisar que -- seja o que for -- sou o que fui. Minto pra mim a verdade dessas águas, mas a própria mentira se desmente, como realidade que é. Depois a mesma mentira vira verdade, porque a mentira sempre existiu em mim, e não por si só. Esse processo de regeneração da sinceridade de mim e para mim me avisa que o banco da praça me avisa que tem a função para o resto da natureza ter sua função. É a licença que o banco me pede, para eu levantar-me, porque as minhas nádegas desgraçadas já o queimaram demais e o sol já quer chegar para queimá-lo e depois descansar, em símbolo de lua. Obedeci ao pedido. Naquele dia, não houve pôr-do-sol: o dia se transformou em noite de modo brusco, sem intervalo de tempo. As crianças brincavam lerdas; a praça era um pátio cinza-claro e eu existia em outro sentido, consciência ludibriada, iniciativa não-ativa, realidade torta.

BIN (09.06.11)
Para Hermano Silva (vô Têco)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Palavras para concitar um jovem à vida


Não. Não é possível! mas de novo? Andando sempre com a cabeça baixa, pensando no que não fez e se arrependendo por isso. Você está certo do arrependimento por aquilo que não existiu e/ou aconteceu porque você não quis: um amor que poderia ter nascido.O arrependimento pelas desculpas que você não deu a alguém. Mas a cabeça baixa... Não! Você é forte, é sincero e a sinceridade floresce tudo o que há de podre, o que há de decepcionante. Os outros o adimiram e você sabe disso, mas parece que não reconhece. Eles, quando lembram de você, sorriem espontaneamente e isso é vitória absoluta. Não tem orgulho disso? Pensa nas coisas que você já fez, nas felicidades que causou em pessoas diversas, em momentos aleatórios, em que você brilhava; brilha ainda, estrela maldita! Quantas memórias positivas os outros têm de você, isso não é sabido por você em medida exata porque são memórias muitas, são peixes no mar, átomos no organismo. Você já agiu de modo extremamente ético, bonito e exemplar, que nem seus parentes falaram para agir assim, porquê não se deve dar mole para malandro. Mas você sabe que às vezes é malandro e, percebendo isso, ensinou o malandro a ser amoroso através do amor. Você vive procurando tesouro, mas não vê o tesouro no espelho, não se vê tesouro, sendo-o sem saber (ou pior que sabe) por tanta humildade e vontade de querer melhorar, eu sei disso, jovem. Você tem defeitos, como qualquer outro. E as virtudes? Não as percebe em si? É medo? Medo de se achar bom, verdadeiro, feliz? O ponto de partida da felicidade é a própria felicidade! Experiente ser feliz, tente de manhã às 9, comprando pão de bicicleta. Seja feliz por ser o que você é; é uma delícia, um remanso, é campeonato ganho contra e por você. Veja que o orgulho de si também faz bem, não é açúcar, não é maquinação, é realidade justa por fundamentos tais e quaisquer. E é direito seu. Vai, não para, não! Você é original, seus passos são originais. Seu jeito de falar e de dormir. Já refletiu isso? Você é único, tem sua identidade a partir do que pensa e faz. Não se compare com ninguém, siga a luta diária sozinho. A luta deve ser diária e você tem que estar sozinho, sem as pernas de ninguém, só com as suas. Você é seu próprio referencial, é mais forte do que pensa. Não conhece seu limite de evolução, pois esse limite não existe, esse limite não existe, é almofada mentirosa para os fracos. Você não é fraco, e só vai saber quanto é bacana quando procurar ser, quando quiser ser. Vai!!!