sábado, 5 de junho de 2010

Mãe



Querida e sagrada, munição de cautela e proteção,
servidora devota da prole e desta geneticamente indissolúvel.
Preocupada com uma folha de árvore que cai na cabeça do filho
por ser esse sua produção emotiva e vital,
ela quer ver seu tesouro frágil e ingênuo ficar incólume
de toda má influência da sociedade
que tenta aliciar quem ainda tem a chave mágica
(existente somente na cabeça da mãe) do segredo de não sofrer.
Utopia que tem ganho de causa em todo julgamento.

Mãe, mulher ainda encantada com o mundo,
satisfeita, apesar de todas as coisas,
a despeito de ser agora reprodutora
e esse ofício tem definição constante, caminho eterno e crucial,
pautado na verdade linda de contigüidade:
parte de um todo, o filho é sempre primazia por ser parte.

A mania de ligar para seu pequeno mil vezes por dia
na madrugada ou no serviço
é necessidade inadiável da mamãe,
infelizmente nunca entendida pelo filho,
porque ele já cresceu e quer agora ter sua própria vida
de indivíduo já maduro e civilizado, com juízo
e consciência de tudo que é perigoso ou insensato.

Mas o problema é que ele não compreende que,
embora passarinho já tenha se tornado gavião,
ainda existe o ninho, quente e fundamental.
Um ninho abstrato, mas concreto,
que a mãe vela todos os dias, com prazer de velar,
instinto e insistência de mãe-ave incumbida
de ver seu germe se alimentar para continuar a cantar.

Mas um dia o filho aprende,
quando não for amparado pelo seu melhor amigo,
o grande companheiro que nunca o trairia,
embora fosse momento de ser amparado.
Enfim ele vai querer voltar para a casinha,
para a asa da mamãe, a chata, às vezes insuportável,
que sempre lhe ligava quando era hora de não ligar.

Fábio Campos Coelho 05/06/10

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