sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Bilhete para Senhor Existir


O que você quer, Senhor Existir,
se não posso fazer nada
a não ser escolher.
Se eu pudesse um dia não apontar
no cardápio o que comer
que horas acordar
ir para a esquerda ou para a direita.

Mas não posso, sempre indico
isso ou aquilo, não paro, não fico
estou a caminhar incessante
e isso é me condenar, Senhor Existir.

Se resolvo partir, tenho que ficar
se não sou muitos, sou singular
e sossegado só sou em outro círculo
onde posso sair da tangente e entrar
pois aqui não dá, Senhor Existir.

Já vejo no duro muro da vida
meu futuro com a face arrependida:
se tive um filho apenas, que pena!
poderia ter tido mais um
para o primeiro ter com quem brincar.
Se tive dois, três, quatro
faltaria quarto para tanta criança.

Se não tive dinheiro para dar
a vida boa para a família
tinha uma pilha de livros na minha frente
sempre sempre abrindo outra oportunidade.

Se fui funcionário público na cidade
não terei vivido a vida ideal dos Hippies,
a vida ideal de toda gente, um jardim inocente
sem capitalismo com humilde salário
onde só se vive com o necessário.

Mas a vida continua,
de qualquer jeito ela continua,
nua de opção além do sim e do não,
rua onde os carros que lá estão
nunca pediram para trafegar.

Então, para entrar em seu mundão,
você ordena que eu colha uma direção,
que eu escolha nessa imensidão
alguma coisa dentro da fatalidade.
Mas que maldade, Senhor Existir!
Na verdade, acho que... que...

Um comentário:

onilsepol disse...

Bom demais!

Muito claro.

Não vou dizer, melhor que Paulo Coelho, porque não gosto de Paulo Coelho.
Pois ele se julga o grande detentor da verdade.