Se você me encontrar andando na rua
sem rumo, cambaleando, como um copista,
com a cabeça abaixada, a cabeça vaga
lá na china, ou na casa da avó
não se preocupe, fique quieto,
não me chame.
É eu buscando minha inocência
Que já se foi
desde quando eu penso com maldade
-- essa coisa que a sociedade
me ensinou a pensar.
Não digo que a sociedade seja má:
ela é coitada como eu,
pura como eu,
matreira como eu.
Não deve ser alvo de críticas
de pessoas sem identidade,
que abominam a natureza
Esquecendo que vieram dela.
A sociedade se influencia
e todo mundo cai nesse jogo porque é seguro
e pronto.
Se você me vir cantando de modo estranho
no meio da avenida, onde os carros passam bonitos
como a pressa inconsciente de si,
ou a frustração sem tino jovial que lhe avise
sobre o tempo que ainda resta...
Se você me vir nessa avenida
falando sozinho, numa expressão tola, pobre, magra,
sem indicações de firmeza,
de virtudes encantadoras, de posse de segurança,
expressão muito merecedora de misericórdia...
Não fique com dó de mim!
Eu apenas estou buscando a minha inocência,
lembrando da casa da avó
onde eu era o dono do mundo
sem vergonha de ser ignorante
e, por isso, ensinando o primo mais velho
a ter sua identidade acima de tudo.
De tudo aquilo que parecia ser mais poderoso,
mais rico, mais útil, mais primoroso
que seus passos travessos-originais sobre o telhado,
procurando nada,
procurando ver o horizonte melancólico
e o cachorro lindo da casa vizinha
e, portanto, sendo outro dono do mundo.
Se você me encontrar na cidade
correndo sem porquê, sem me importar
com quem me vê,
fique parado, do seu lado.
Não me grite.
Olha o que eu estou fazendo,
continue olhando.
Sou eu, buscando eu (não mim, mas eu!),
a minha essência perdida
porque eu já sou adulto
e hoje tenho vergonha de tudo,
de gritos ao léu, dos pulos bobos e nossos
-- mais nossos do que bobos --,
encenações repentinas sem propósitos.
Sou eu tentando ver o que há mais
nessa terra de normais, cristalizados normais.
Sou eu procurando aquele velho quintal
Onde tinha um balanço amarelo
em que eu e Maisinha éramos soberanos
diante das verdades do mundo.
Sou eu, me desenrolando da linha que
Eu mesmo coloquei em mim,
desde que fiquei constante,
com barbas altaneiras, bigode patético,
pelos inúteis
e peito estufado.
Me ajuda a ser criança, vó!
Por favor. Me ajuda a ser criança.
Eu não agüento mais.
Fábio Campos Coelho - 01.02.11