terça-feira, 28 de setembro de 2010

Água da Vida na Face Humana


Antes era somente imaginação,
concessão que não podia ser aceita por pudor.
Seria total ultraje, falta de respeito,
o ponto oposto da amabilidade e delicadeza.

Mas como a brutalidade é chave do estrago
e só o estrago causa a verdadeira saciedade,
Estabeleceu-se a convenção:
a curiosidade promove o desejo
de realizar o mal-bem-feito.

A princesa jamais corrompida
pelo atrevimento do pecado
cansou de ser limpa e agora quer lavar a cara.
Quer se limpar com o sujo, a água da vida!
Por que, então, sujeira? Sujo é não ter nascido.

Que seja feito, porra!
Ela mostra a face e se entrega
para o sujeito praticar o símbolo do domínio
e espécie de humilhação sem vitória nem derrota
que transfere o sentido de superioridade
para tentativa de ultrapassar o limite de prazer.

Não há nada demais! Para com isso!
Isso é o resultado da volúpia na forma concreta
despejado em local de respeito e carinho.
Daí o prazer ultrapassado:
Onde antes não se brincava
hoje se usa, abusa e lambusa.

Fábio Campos Coelho

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Desabafo de uma estrela com micose


Eu preciso ser mais livre e menos correto
para que a qualidade da sinuosidade me complete,
para que eu não seja o prosaico-melhor,
o imanente-simpático
e o meu próprio limite.

Assim, eu serei mais uma formiga no formigueiro
e é tão bom ser medíocre,
porque desse modo sempre terei
erros a ser corrigidos.

Eu preciso achar que tudo está bem comigo
o que, na verdade, não será verdade.
Enfim, eu me espantarei com minha própria ignorância
e crescerei com a atenção e vergonha de minha tolice.
No entanto, eu não sei se acho bom ou ruim
saber que essa tal de tolice sempre existirá.

Eu preciso me sentir imprevisível
para não ser máquina constante.
Preciso ficar mais em silêncio
para o povo chamar minha atenção
de que eu estou muito calado e nunca fui assim.
Eu preciso me sentir estranho.

Eu preciso não me preocupar em me conhecer
e errar, errar, errar,
até aprender que aprender é intangível
porque não se aprende, se arrepende.
É um prazer errar, pecar, conhecer o mal-feito
e arrepender-se fingindo que algo foi aprendido.

Somos todos mordazes, picantes, rombudos,
traidores de nossas limitações
legadas pela cultura ressecada
e algemada pelo próprio engano.
Por isso somos as pessoas mais alegres deste mundo!

Humildade é falsidade com configuração de armadilha
para o humilde.
Porque as medalhas de ouro estão protegidas
por vidros caríssimos?
Por que os pódios e troféus?
A cobiça pela vitória é como fazer xixi ou cocô.
Não há por que ter pudor quanto a isso.

Somos condenados ao nosso tormento
por não aceitar um mero pensamento
--nosso--
de inveja.
Ora, pensar é irracional,
é um peido de cu frouxo.

Porém, o peido é mais exuberante que o pensamento,
porque o pensamento se contradiz,
o peido é autêntico
e o orgulho é insegurança,
é o desejo da prova de que se é imaculado.

Mas não queremos descobrir, já tendo descoberto,
que a mácula é filho caçula, peralta e sínico,
de nossa essência fundida
da mais linda natureza chamada bem-e-mal.

Um filho contrito depois da surra,
que faz tudo de novo outra vez,
sabendo, lá no fundo,
que suas peripécias são raízes sem fim.

Esses dias eu fui conversar com meus defeitos
e perguntei-lhes por que eles me salvam.
A resposta foi simples:
Eu nunca os tive como inimigos.

Eu adoro meus rabiscos
e odeio minha dedicação.
Eu preciso perdoar o diabo
por ele ter virado diabo
num momento de impaciência com Deus
por não ter praia de nudismo no céu.

Dizem por aí que diabo
quer virar lúcifer de novo,
mas que o Senhor é muito carrasco
e nem lhe dá ouvidos.
Por que será?

A qualidade da juventude está
em cada espinha inflamada
E em cada expulsão de escola
porque a coordenadora não agüentava mais.


Fábio Campos Coelho (03.09.2010)