Eu preciso ser mais livre e menos correto
para que a qualidade da sinuosidade me complete,
para que eu não seja o prosaico-melhor,
o imanente-simpático
e o meu próprio limite.
Assim, eu serei mais uma formiga no formigueiro
e é tão bom ser medíocre,
porque desse modo sempre terei
erros a ser corrigidos.
Eu preciso achar que tudo está bem comigo
o que, na verdade, não será verdade.
Enfim, eu me espantarei com minha própria ignorância
e crescerei com a atenção e vergonha de minha tolice.
No entanto, eu não sei se acho bom ou ruim
saber que essa tal de tolice sempre existirá.
Eu preciso me sentir imprevisível
para não ser máquina constante.
Preciso ficar mais em silêncio
para o povo chamar minha atenção
de que eu estou muito calado e nunca fui assim.
Eu preciso me sentir estranho.
Eu preciso não me preocupar em me conhecer
e errar, errar, errar,
até aprender que aprender é intangível
porque não se aprende, se arrepende.
É um prazer errar, pecar, conhecer o mal-feito
e arrepender-se fingindo que algo foi aprendido.
Somos todos mordazes, picantes, rombudos,
traidores de nossas limitações
legadas pela cultura ressecada
e algemada pelo próprio engano.
Por isso somos as pessoas mais alegres deste mundo!
Humildade é falsidade com configuração de armadilha
para o humilde.
Porque as medalhas de ouro estão protegidas
por vidros caríssimos?
Por que os pódios e troféus?
A cobiça pela vitória é como fazer xixi ou cocô.
Não há por que ter pudor quanto a isso.
Somos condenados ao nosso tormento
por não aceitar um mero pensamento
--nosso--
de inveja.
Ora, pensar é irracional,
é um peido de cu frouxo.
Porém, o peido é mais exuberante que o pensamento,
porque o pensamento se contradiz,
o peido é autêntico
e o orgulho é insegurança,
é o desejo da prova de que se é imaculado.
Mas não queremos descobrir, já tendo descoberto,
que a mácula é filho caçula, peralta e sínico,
de nossa essência fundida
da mais linda natureza chamada bem-e-mal.
Um filho contrito depois da surra,
que faz tudo de novo outra vez,
sabendo, lá no fundo,
que suas peripécias são raízes sem fim.
Esses dias eu fui conversar com meus defeitos
e perguntei-lhes por que eles me salvam.
A resposta foi simples:
Eu nunca os tive como inimigos.
Eu adoro meus rabiscos
e odeio minha dedicação.
Eu preciso perdoar o diabo
por ele ter virado diabo
num momento de impaciência com Deus
por não ter praia de nudismo no céu.
Dizem por aí que diabo
quer virar lúcifer de novo,
mas que o Senhor é muito carrasco
e nem lhe dá ouvidos.
Por que será?
A qualidade da juventude está
em cada espinha inflamada
E em cada expulsão de escola
porque a coordenadora não agüentava mais.
Fábio Campos Coelho (03.09.2010)